Udesc Cefid realiza testes com campeão mundial de surfe Yago Dora e mais quatro atletas de elite

Yago Dora, atual campeão da Liga Mundial de Surfe (World Surf League – WSL); Alejo Muniz, Miguel Pupo e Samuel Pupo, também surfistas da elite mundial; e Rafael Matos, tenista de duplas que está entre os 60 melhores do mundo há seis anos.

Nas duas últimas semanas, esses cinco atletas de alto rendimento do esporte brasileiro passaram pelo Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), no Bairro Coqueiros, em Florianópolis, para realizar testes físicos com pesquisadores e estudantes do Laboratório de Pesquisas em Desempenho Humano (Lapedh).

Os trabalhos foram coordenados pelo professor e pesquisador Fabrizio Caputo, que integra o Lapedh e articulou essas visitas com profissionais das equipes dos atletas. A mais recente foi na última quinta-feira, 13, com a vinda de Yago Dora, que tem 29 anos e mora em Florianópolis desde 1999.

“A aproximação se deu por meio do preparador físico dele, o Leonardo Bloedow, que tem vínculo com o nosso laboratório e viu, na pré-temporada, uma boa oportunidade para realizar as avaliações”, conta o docente.

A temporada deste ano da WSL terminou no início de setembro, em Cloudbreak, em Fiji, na Oceania, com o primeiro campeonato mundial de Yago, que agora começa a se preparar para a defesa do título em 2026. O atleta está na elite do surfe há sete anos e foi o quinto brasileiro a ser campeão mundial desde 2014.

Nesse período, o Brasil já obteve oito títulos. Além de Yago, estão na lista o tricampeonato de Gabriel Medina (2014, 2018 e 2021 e medalha de bronze nas Olimpíadas de Paris em 2024), o bicampeonato de Filipe Toledo (2022 e 2023) e os títulos de Adriano de Souza (Mineirinho), em 2015, e de Italo Ferreira, em 2019 (também foi medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021).

O desempenho desses atletas, assim como de outros surfistas brasileiros, ajudou na popularidade do fenômeno chamado “Brazilian Storm” (“Tempestade Brasileira”, na tradução). Alejo Muniz, de 35 anos, e os irmãos Pupo (Miguel tem 33 e Samuel, 25) também vêm defendendo o País na WSL nos últimos campeonatos e vieram à Udesc Cefid no fim de outubro para testes que os ajudarão na próxima temporada.

“Com o Alejo e os irmãos Pupo, entrei em contato há cerca de um mês com a fisioterapeuta deles, a Bruna Grano, da Osteosports, de Balneário Camboriú, para discutirmos a possibilidade de auxiliarmos no retorno ao esporte do Alejo, que estava finalizando a recuperação de uma cirurgia no ombro, principalmente em relação à remada”, afirma o professor Caputo.

“Temos desenvolvido protocolos específicos para avaliação global da remada no surf, o que despertou o interesse dela. A partir daí, ampliamos para outras avaliações físicas e de composição corporal, já que eles estão iniciando a pré-temporada”, acrescenta o docente, que é doutor em Ciências do Movimento pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e, na Udesc Cefid, também faz parte do Departamento de Educação Física e do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH).

Tenista de destaque nas duplas

Na quarta-feira passada, 12, o Lapedh recebeu também, pela primeira vez, um tenista de elite, da Associação de Tenistas Profissionais (ATP), para avaliação física. Rafael Matos tem 29 anos e já conquistou 11 títulos em torneios da ATP, sendo dois neste ano.

Ele e Marcelo Melo (único tenista do Brasil a ser número 1 do mundo em duplas) foram a primeira dupla 100% brasileira a ganhar o ATP 500 do Rio Open, no Rio de Janeiro, e também conquistaram o ATP 250 de Winston-Salem, nos Estados Unidos. Além disso, Rafael já havia sido o primeiro brasileiro campeão na história do Rio Open, em 2024, ao lado do colombiano Nicolas Barrientos.

O tenista, que já foi o 26º melhor duplista do mundo e atualmente está na 42ª posição, visitou a Udesc Cefid após articulação feita também pela fisioterapeuta Bruna Grano, da Osteosports. “Como ele está iniciando a pré-temporada, aproveitamos para agendar as avaliações físicas e de desempenho”, explica o professor Caputo. 

Dados ajudam a aprimorar desempenho

Em todos os testes, com surfistas e tenista, a equipe do Lapedh avaliou a composição corporal por meio de densitometria (Dexa), que permite quantificar densidade e distribuição dos tecidos corporais, principalmente osso, músculo e gordura.

“Também realizamos testes de força e potência em situações mais isoladas, como extensão de joelhos, saltos bilaterais e unilaterais e puxada deitada”, comenta Caputo. “Além disso, aplicamos protocolos de sprints repetidos para o tenista e diferentes testes de remada para os surfistas.”

O docente da Udesc Cefid explica que foram selecionados “testes que dialogam diretamente com as demandas específicas de cada modalidade”. “A composição corporal ajuda a monitorar saúde óssea e a quantificar massa muscular e gordura, informações fundamentais para atletas de alto rendimento”, ressalta.

De acordo com Caputo, esses testes permitem identificar pontos fortes e aspectos que precisam ser desenvolvidos, como possíveis desequilíbrios de força, potência ou estabilidade entre membros, orientando melhor o trabalho de pré-temporada de cada atleta.

“O diferencial é o contato direto com fisioterapeutas e preparadores físicos, o que permite transformar os dados em intervenções práticas, e não apenas ‘avaliar por avaliar’”, diz o professor.

Nos testes, o docente contou com o apoio de estudantes de graduação em Educação Física da Udesc Cefid e de pós-graduação do PPGCMH e também dos professores e pesquisadores João Antônio Gesser Raimundo, Rogério Bulhões Corvino e Felipe Domingos Lisbôa.

Ciência em prol do esporte

Além das visitas nessas duas últimas semanas, o Lapedh já havia recebido 12 atletas da seleção brasileira feminina e masculina de surfe, das categorias sub-16 e sub-18, em abril, para testes físicos, e a seleção feminina de surfe sub-14 em agosto, para treinamento de aéreos.

O professor Fabrizio Caputo destaca que todas essas experiências têm sido muito enriquecedoras não somente para os docentes do laboratório, mas principalmente para estudantes e voluntários.

“A possibilidade de medir e acompanhar diferentes características de desempenho em modalidades variadas, com atletas de ponta, é essencial para desenvolver e validar novas ferramentas de avaliação e treinamento. Isso fortalece tanto nossa pesquisa em Ciências do Esporte quanto a formação prática dos estudantes”, afirma.

O Lapedh está ligado ao Grupo de Pesquisa em Desempenho Humano da Udesc Cefid, com três linhas básicas de estudo (avaliação funcional, diagnóstico do treinamento e rendimento esportivo) e atualmente é coordenado pelo professor Vitor Pereira Costa, tendo já sido liderado por Caputo anteriormente.

“Historicamente, o laboratório atua com modalidades de quadra e campo e com esportes cíclicos, como corrida, ciclismo, natação e remo”, lembra o professor Caputo. “Nos últimos anos, porém, tenho me dedicado a um grande projeto focado em compreender a demanda física dos gestos motores e as características gerais dos atletas de surf e skate.”

De acordo com o docente, essas duas modalidades, ao contrário de esportes mais tradicionais, “ainda carecem de embasamento científico sólido para orientar o treinamento e as recomendações”.

“São esportes olímpicos, e os surfistas e skatistas brasileiros estão entre os melhores do mundo, o que reforça a necessidade de produzir e aplicar conhecimento nessa área. Para 2026, nossa intenção é estar cada vez mais próximos dos atletas de elite, não apenas avançando na pesquisa científica, mas principalmente atuando de forma direta e aplicada na melhoria do desempenho esportivo”, destaca.