
No período entre 17 de dezembro de 2022 e 22 de janeiro de 2023, 25 homens, com média 36 anos, morreram afogados em praias catarinenses. Para entender porque não há nenhuma mulher nesse histórico e o que faz homens se “desafiarem” até a morte nestes locais, a reportagem entrevistou um psicólogo e um bombeiro.
De acordo com o Tenente Rafael Manoel José, Comandante regional de praia do sul da ilha, os homens se aventuram mais e são mais ousados, o que explica o dado.
“Além da ousadia e apesar de não termos exames médicos comprovando, na hora da ocorrência observamos que muitos deles fizeram uso de álcool e se afogaram”, começa a sua explicação.
A constatação também é confirmada pelo psicólogo Rafael Frasson, que busca explicar porque apenas homens estão nesta estatística.
“É comum que em roda de amigos a gente consiga perceber que na grande maioria das vezes são as mulheres que falam para que os homens não façam algo que vai os prejudicar e/ou que vai correr risco. Elas são mais responsáveis e os homens mais inconsequentes”, diz
De acordo com o psicólogo, as mulheres conseguem seguir mais as regras sociais, com a característica de auto proteção e proteção aos outros.
Comprovação científica
Em 2018 essa tendência masculina de assumir riscos foi confirmada em estudo psicológico. Os pesquisadores da Universidade de Estocolmo assistiram a horas do programa de televisão “Jeopardy” e viram que os participantes do sexo masculino apostavam mais o seu dinheiro em uma única pergunta do que as mulheres.
Em entrevista ao jornal inglês “The Telegraph“, Thekla Morgenroth, pesquisadora de Psicologia Social da Universidade de Exeter, acredita que a questão está relacionada à educação.
De acordo com ela, os homens ouvem desde o nascimento que serão considerados mais masculinos se forem ousados e corajosos. Ela explica que estes mesmos homens escutam que precisam “ser homens” e são incentivados a praticar esportes físicos de combate e contato. Para ela, a raiz dos homens se afogarem mais está nesta história.
“Os homens estão sempre prontos para ser másculos e ousados, para provar sua masculinidade, especialmente diante de outros homens, e esta é uma forma de fazer isso”, falou ao jornal.
Segundo o livro “Seja homem” de JJ Bola, o pedido para que homens “sejam homens” é tão violento em um nível de violência psicológica porque frases assim vão minando a sensibilidade de crianças durante a infância, que desde cedo serão ensinados que homens não choram, tendo que reprimir suas lágrimas para atender a um ideal do que é ser homem que beira a insensibilidade.
As opiniões de ambos os profissionais foram confirmadas pelo psicólogo Rafael Frasson, entrevistado pela reportagem. Ele ressaltou que a educação para os homens é diferente da passada para as mulheres.
“Segundo o padrão social, para os meninos é preciso ensinar a subir em árvore, andar de bicicleta, e zoar com os amigos. Para as meninas tem que ensinar a brincar de cuidar das bonecas, fazer comidinhas, respeitar as amigas. Aqui já vemos a diferença”, ressalta.
Percepção de risco
O Tenente Rafael Manoel José explica que há ainda, muitas vezes, falta de percepção de risco. Isso acontece quando mesmo vendo uma placa que indique que naquele local o mar é revolto, há quem escolha mergulhar.
“As pessoas não conseguem enxergar, não conseguem perceber o risco aos quais elas se expõem. Além do que, muitas delas não levam em conta a sinalização colocada nos locais de perigo pelo corpo de bombeiros”, desabafa.
Para não correr o risco, o profissional aconselha para quem busca diversão em um ambiente aquático, deve fazê-lo em um local monitorado pelos Bombeiros.
“Quando a pessoa vai tomar banho em um lugar onde a gente não está presente o risco dela é muito maior”, fala.
Por nd+




