Como a greve dos caminhoneiros impacta Santa Catarina

Em três dias de manifestação, a paralisação nacional dos caminhoneiros trouxe diversas consequências para os catarinenses. Ao mesmo tempo em que a categoria já conquistou algumas de suas reivindicações, como a isenção do tributo Cide, as dezenas de bloqueios continuam aumentando nas rodovias do Estado e afetam serviços essenciais em alguns municípios.

A situação mais grave é a falta de combustível, principalmente no Oeste. O município de São Lourenço do Oeste, por exemplo, não tem mais gasolina nem diesel desde terça-feira. Em São Miguel do Oeste e Chapecó também começa a faltar combustível. Nesta quarta-feira (23) motoristas enfrentaram filas nos postos das cidades para tentar garantir gasolina antes de haver um possível desabastecimento.

Os postos de combustível de Biguaçu, na Grande Florianópolis, também deixaram de receber combustível na manhã desta quarta-feira. De acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Minerais de Florianópolis (Sindópolis), os caminhões que abastecem os postos foram obstruídos no bloqueio da SC-407, onde há diversos manifestantes reunidos. Situação semelhante é enfrentada em Itajaí, no Litoral Norte. Ambas as cidades podem ficar sem combustível a partir desta quarta à noite.

O vice-presidente do Sindópolis, Joel Fernandes, alertou que o problema de desabastecimento pode atingir mais cidades. Se a situação for agravada, com mais bloqueios nas rodovias catarinenses, a gasolina pode acabar na maior parte das cidades do Estado em até seis dias. Na Grande Florianópolis, pode faltar combustível nas bombas a partir de quinta-feira. Além disso, a redução do valor nos últimos dias pode não ser repassada pelos postos ao consumidor.

Serviços

Alguns órgãos do poder público começaram a limitar os serviços por conta da paralisação dos caminhoneiros. A Prefeitura de Criciúma suspendeu todos os trabalhos “que não forem essenciais e que utilizam combustível”, como a atividade de máquinas pesadas e caminhões em trabalhos sem urgência urgência. O Executivo ainda disse, em nota, que apoia o movimento e que o  transportes de pacientes e de estudantes está mantido.

Outro serviço que será limitado é dos Correios. A instituição suspendeu temporariamente as postagens de encomendas com dia e hora marcados, como Sedex 10, Sedex 12 e Sedex Hoje. A estatal divulgou um comunicado oficial no qual considera que “os Correios também estão sendo seriamente atingidos” e que “haverá o acréscimo de dias no prazo de entrega das correspondências enquanto perdurarem os efeitos desta greve”.

Protestos nas estradas

Os caminhoneiros estão mobilizados em 51 trechos do Estado durante a manhã desta quarta-feira — sendo 36 em rodovias federais e 15 em estradas estaduais. O número tem variado nas últimas horas, com o crescimento das manifestações em novas regiões e a desmobilização em outros locais. A rodovia com o maior número de bloqueios até o início da tarde desta quarta-feira é a BR-101, com manifestação em nove trechos.

De acordo com os agentes rodoviários, os manifestantes continuam obstruindo apenas a passagem de veículos pesados, os quais são obrigados a parar e convidados a aderir ao movimento. Carros, motos e ônibus têm o trânsito liberado nos bloqueios, mas precisam enfrentar lentidão no trânsito por conta dos caminhoneiros que ocupam a pista.

Outras categorias têm realizado manifestações em solidariedade aos caminhoneiros. Cerca de 40 pessoas, entre motoristas de vans, motos e veículos de transporte por aplicativo, realizaram um comboio na manhã desta quarta-feira, saindo do Norte da Ilha e chegando até a sede da Transpetro na cidade de Antônio Carlos, na Grande Florianópolis. Outras manifestações da categoria estão previstas para a quinta-feira (24) e o sábado (26).

As empresas de ônibus de turismo de Santa Catarina também devem realizar protesto amanhã em Biguaçu. De acordo com Nilton Pacheco, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Turístico e Fretamento de SC (Sinfrettusc), cerca de 150 veículos devem sair em carreata pela BR-101 em “protesto contra os aumentos abusivos dos combustíveis e a alta tributação”.

Reivindicações nacionais

A principal conquista da categoria até agora foi a isenção da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), um dos tributos que incide sobre o diesel. O decreto da medida, no entanto, depende ainda da aprovação da reoneração da folha de pagamento de outros setores, que devem perder benefício do desconto a partir de dezembro de 2020.

Ainda há outra medida que o grupo reivindica, que é o fim da alíquota de PIS/Pasep e Cofins na venda do diesel. De acordo com os manifestantes, os impostos representam cerca de 40% de todos os custos que envolvem o serviço dos caminhoneiros autônomos.

Os combustíveis também tiveram redução pelo segundo dia seguido. A partir de quinta-feira, o valor do diesel nas refinarias passará de R$ 2,3351 para R$ 2,3083, em redução de 1,15%. Já o valor da gasolina deve cair 0,62%, passando a custar R$ 2,0306. A medida, entretanto, não é uma resposta às manifestações, e sim o movimento de mercado causado pela Nova Política de Preços da Petrobras. Com informações DC