Desde 11 de janeiro, quando chuvas torrenciais que afetavam Florianópolis há dias causaram destruições por diferentes pontos da cidade, 57 pessoas que moram em Ratones, no norte da Ilha, não sabem o que é ter acesso público à rua e viver em uma via com identificação pública. Isso porque a servidão Juventina Rufino Garcia, que dá o nome ao endereço de 11 famílias, foi interrompida depois que a ponte paralela à via desmoronou com a força da enxurrada. Assim, passados quatro meses das visitas de autoridades e promessas de reconstrução em Ratones, a vida de uma parcela dos habitantes do bairro ainda não voltou ao normal. E não tem data para voltar.
Morador da localidade há 25 anos, o supervisor Maurino Tomaz da Silveira, 47 anos, guarda o carro há mais de 100 metros de casa e precisa atravessar o terreno do vizinho toda vez que vai trabalhar, fazendo um caminho mais longo. Não bastasse isso, conta, as casas do entorno sofrem com barro, sujeira e ratos, que aproveitam a proximidade com o ribeirão que corre ao lado para procurar comida nas casas. Segundo Maurino, servidores da prefeitura só estiveram no local nos dias seguintes à enxurrada.
— Parece que a gente não existe para eles, porque esqueceram completamente do nosso problema. Não sou só eu, temos 11 famílias com 57 pessoas vivendo nessa situação, uma situação de abandono e esquecimento — reclama.
Não tão longe dali, a ponte principal da comunidade, na estrada Intendente Antônio Damasco, que desmoronou em janeiro, já foi refeita, porém, sem iluminação, guard rail, sinalização, terraplanagem e asfalto. Liberada para o tráfego de veículos em 8 de fevereiro, a principal ponte de Ratones já deveria estar asfaltada e concluída desde março, mas a promessa não foi cumprida. Dois meses depois, as obras estão paradas e a vizinhança se acostuma com a poeira.
— Logo que caiu a ponte, o trabalho foi rápido. Agora já está parado faz um tempo. E é perigoso, porque aqui temos uma ladeira em curva, e sem sinalização, pessoas podem se machucar — alerta o aposentado Joaquim Paim dos Santos, 74 anos.
No Diário Oficial do dia 27 de abril, a prefeitura de Florianópolis publicou o extrato de uma dispensa de licitação para contratar uma empresa para reconstruir a ponte na estrada Intendente Antônio Damasco. O prazo de execução da obra é três meses e o período de vigência do contrato, de seis meses. O valor do contrato é R$ 800,69 mil, mas a obra não tem data para começar.
Responsável pela Defesa Civil em Florianópolis, Luiz Eduardo Machado afirma que a obra na servidão Juventina Rufino Garcia está em processo de elaboração do edital de licitação, que após concluído — ainda sem data definida — será lançado a eventuais interessados no mercado.
Machado diz que os estragos na ponte ao lado da via demandaram estudos mais aprofundados por parte da prefeitura, e que a obra terá que ser licitada devido ao tempo necessário para a conclusão, mais de seis meses, o que impede uma contratação via dispensa licitatória.
— É um projeto mais complexo e por isso será licitado, porque eu não consegui executar a obra no prazo de emergência, que é de 180 dias. Então, como não vamos executar antes de 10 de julho, terá que ser licitada. Ali vamos fazer um muro de gabião na cabeceira e uma ponte de concreto armado. Assim, a servidão vai voltar a existir — explica Machado.
Já a obra na ponte da estrada Intendente Antônio Damasco, cujo extrato do contrato foi publicado no penúltimo Diário Oficial de abril, está com o valor para conclusão empenhado, porém ainda não liberado. Machado não soube dizer quando o dinheiro vai entrar na conta da prefeitura.
Com informações Hora de SC