
“Dar banho” em embalagens e itens que vieram da rua já se tornou rotina e até piada na internet. A notícia de que foram encontrados traços de coronavírus em embalagens de um lote de frango na China, exportado pelo Brasil, levantou o debate em torno da transmissão por meio de embalagens e superfícies. Apesar das recomendações para cuidados serem claras, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda não há um consenso sólido no meio científico que comprove a transmissão do vírus dessa maneira.

Os especialistas alertam que experimentos em laboratórios mostraram que o vírus pode sim sobreviver por horas, ou até dias, em alguns materiais, principalmente em papelão ou plástico. Alguns cientistas, como Julian Tang, professor associado de Ciências Respiratórias da Universidade de Leicester, no Reino Unido, questionam se o resultado dos testes é fiel enfrentando as variáveis encontradas fora de laboratório, já que no mundo exterior, as condições ambientais mudam rapidamente.
Segundo o professor de microbiologia da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, Emanuel Goldman, os estudos de laboratório usaram cargas de partículas virais mais concentradas em amostras laboratoriais, em até 10 milhões de partículas, enquanto esse número é reduzido drasticamente em condições normais. Uma superfície atingida por um espirro, por exemplo, normalmente fica contaminada com menos de 100 dessas partículas.
“Na minha opinião, a chance de transmissão por meio de superfícies inanimadas é muito pequena e apenas nos casos em que uma pessoa infectada tosse ou espirra na superfície e outra pessoa toca essa superfície logo após a tosse e o espirro (dentro de uma a duas horas)”, destaca Goldman.
O professor conclui em um estudo científico publicado na revista científica The Lancet, que a chance de transmissão por meio do contato com embalagens ou superfícies existe, mas é muito pequeno comparado ao contato direto, de pessoa para pessoa. Além disso, o cientista relata certa dificuldade em comprovar a contaminação através da embalagem, já que seria necessário excluir qualquer contato recente com outra fonte”.
Mesmo assim, a Organização Mundial da Saúde reafirma que embora não haja nenhum caso comprovado de contaminação por esse meio, é importante seguir as recomendações de limpeza, principalmente a higiene das mãos, que devem ser religiosamente lavadas após manusear qualquer tipo de embalagem, especialmente antes de comer. Além disso, o órgão ainda recomenda o uso de desinfetante de mãos antes de entrar em lojas, se possível, assim como lavar bem as mãos quando voltar para casa e após manusear e armazenar os produtos comprados.