A foto de um menino de sete anos caminhando sozinho em meio a um grande campo coberto de geada na Argentina estimulou um debate nas redes sociais sobre a vontade de estudar e a importância da educação. Publicada há dez dias por um professor, a imagem já teve mais de 20 mil curtidas e compartilhamentos, principalmente de internautas argentinos.
“Sentimos as manhãs geladas na bonita Misiones. Mas o peito aquece com orgulho quando se aprecia essa imagem dos alunos chegando à escola”, diz o professor Antonio Espindola, em sua publicação. “Alguns vão figurar por ocupar escolas”, opinou ele, provavelmente por causa das recentes ocupações de escolas argentinas por alunos defendendo a descriminalização do aborto no país.
“Mas esse só merece aplausos, porque a escola vai se abrir por e para ele”, completou o professor, depois de citar o nome da escola rural onde ele dá aulas e o município, Leandro N. Alem, que fica na província de Misiones, no nordeste da Argentina.
A foto logo viralizou e os meios de comunicação locais confirmaram a autoria: na verdade, quem a tirou foi Noelia Bairros, outra professora da Escuela 196, que observava a criança enquanto ele percorria os últimos metros até chegar para a aula do dia.
Ao canal de televisão local Misiones Cuatro, Noelia disse que o menino faz todos os dias o mesmo trajeto para ir à escola, que envolve três quilômetros e meio de caminhada, passando inclusive por dois riachos, o que se torna mais difícil em dias de chuva. Ele não faz isso sozinho: segundo o diário argentino, outros sete irmãos dele também fazem o mesmo trajeto na zona rural.
Segundo ela, a foto foi tirada em um dos dias mais frios do ano, mas os alunos fazem essa caminhada bem abrigados em meses como esse, quando o inverno é rigoroso na região, mas também têm problemas no verão, porque no trajeto é difícil escapar do forte calor debaixo do sol.
A professora afirmou que não esperava tanta repercussão pela foto e explicou que muitas pessoas não conhecem a realidade das escolas que ficam na zona rural. “A escola abrange um raio de sete ou oito quilômetros”, disse ela. “Há crianças que caminham por três quilômetros, outros quatro, até oito quilômetros, ou os pais os levam.”
Segundo ela, quando chegam à escola, os pequenos encontram um espaço acolhedor, apesar da pouca infraestrutura. Noelia diz, por exemplo, que o prédio não tem calefação. “Eles assistem às aulas assim, todos abrigadinhos.” Para tentar conseguir equipamentos e outras melhores, os professores chegam a fazer rifas e arrecadar recursos.