“Minha missão está acabando. Agora sou só um torcedor”

Na segunda parte da série especial da Coluna Pelo Estado com o governador Raimundo Colombo, ele fala sobre relações partidárias, de sua pré-candidatura ao Senado e alguns assuntos que, caso eleito, pretende levar para debate.

As fotos ao lado são apenas uma pequena mostra do ritmo acelerado de Colombo nesses dias finais de seu governo. Uma maratona preparatória para a próxima campanha.

 

 

[PeloEstado] – O governo do Estado ficará em boas mãos com a sua licença e a sua renúncia?

Raimundo Colombo – Com certeza. O Eduardo (Pinho Moreira, vice-governador) é uma pessoa muito preparada, tem todas as condições e terá todo o nosso apoio para fazer aquilo que entender prioritário. Ele tem todo direito de querer impor sua marca pessoal e de tomar as decisões que considerar acertadas.

 

[PE] – Deve ficar por perto?

Colombo – Não. A minha missão está acabando. Agora sou só um torcedor e vou procurar ajudar sempre que consultado. Mas não pretendo e nem me sinto no direito de ficar incomodando.

 

[PE] – O senhor teve a ajuda do MDB para chegar ao governo. Como está a relação com o partido?

Raimundo Colombo – Sim. O Luiz Henrique (da Silveira) foi de fato um extraordinário companheiro nessa caminhada. Eu lamento muito e sinto muito a sua ausência. Quanto à relação com o MDB, tenho certeza absoluta de que fui correto com os catarinenses e também com o MDB. Não troquei a minha equipe, respeitei os nomes do MDB; minha secretária, o meu ajudante de ordens…

 

[PE] – Refere-se a quando assumiu o primeiro mandato?

Colombo – E estão até hoje! Eu não fiz a separação se era do MDB, se era do PSD ou se era de outro partido. É claro que eu precisava ter apoio político. Tenho o meu partido, que é o PSD, mas tentei ser correto com todos. E cumpri meu dever com o MDB. Sou muito grato pela confiança e o apoio que recebi. Sem eles, eu provavelmente não teria chegado ao governo.

 

[PE] – Líderes emedebistas sempre dizem que esperavam a contrapartida, seu apoio e o do PSD para eles chegarem ao governo nas próximas eleições. O que fala  sobre isso?

Colombo – Eu nunca falhei com o MDB. Nas eleições eu sempre dei o retorno, procurei fazer as alianças na minha região. Onde tinha condições de ajudar eu ajudei de forma muito significativa… na eleição do Luiz Henrique (ao Senado), na eleição do Dário (Berger, também ao Senado) e de outros. Foi uma aliança boa para os dois grupos políticos. Agora, se ela vai continuar, não depende só de mim. O futuro vai dizer.

 

[PE] – Se dependesse só do senhor?

Colombo – Eu faria uma ampla aliança para que houvesse uma maior harmonia política a fim de enfrentarmos os momentos difíceis.

 

[PE] – PSD, PP, PSDB, MDB?

Colombo – Se possível todos! Defendo que em política você pode discutir a mensagem, mas tem que respeitar o mensageiro. Não se faz política atacando as pessoas e por isso o relacionamento é importante. Fazer ou não parte do governo não deve ser mais importante do que estar alinhado nos momentos cruciais do estado. Reforma da Previdência, reforma do Estado, enfrentar os desafios que nós enfrentamos… eu, sinceramente, agradeço a todos. Esse alinhamento aconteceu na prática.

 

[PE] – Alinhamento também com os outros poderes?

Colombo – Com certeza. Acredito que tenha sido o melhor governo em convivência e respeito mútuo entre todos os poderes, todas as instituições. Respeitamos e fomos respeitados. Agimos com coerência, com transparência e também foi assim que nos trataram. Foi um período de poucas crises institucionais exatamente porque nos dispusemos ao diálogo, à busca da harmonia, à colaboração, para que prestássemos o melhor serviço à sociedade que, no fundo, é o patrão de todos nós.

 

[PE] – O que vai pautar sua campanha para o Senado?

Colombo – Acho que a próxima campanha é imprevisível. Está totalmente sem controle, não se sabe o que virá. Pode ser surpreendente. Não acho que se possam apontar favoritos, porque o quadro está totalmente aberto. Eu me sinto no dever de dar a minha colaboração. Hoje tenho um relacionamento importante em nível nacional, algo importante que pode ser colocado a serviço do estado, e também a minha experiência, porque se aprende muito aqui. Senador é um representante do Estado, diferente dos deputados, que representam as pessoas. Devo me oferecer como alternativa, consciente dos riscos.

 

[PE] – O combate à burocracia, tantas vezes apontada pelo senhor como um entrave, vai ser uma bandeira sua no Senado?

Colombo – Vai ser. Se eu me eleger. Considero que será uma eleição muito desafiadora. Estamos em um novo cenário, há um desgaste, as pessoas avaliam os candidatos e as propostas por outros parâmetros, mas não tenho dúvidas que se não mudar esse Estado burocrático a que estamos sujeitos, as coisas não vão melhorar e os processos vão ser cada vez mais difíceis.

 

[PE] – Sendo eleito, depois de cumprido o mandato pretende se candidatar à presidência da República?

Colombo – Não tenho essa pretensão. Sinceramente, eu quero ajudar. O Brasil vai ter muitos desafios e eu quero ajudar a vencer esses desafios. Mas não quero ser o protagonista. Vai ser um período muito duro. Agora eu preciso de um ritmo menos intenso.

 

[PE] – O senhor sempre se colocou como governador-prefeito. E os municípios estão em situação de penúria. No caso de virar senador, pretende trabalhar para mudar esse quadro?

Colombo – Eu tenho certeza que nós temos que municipalizar as ações. E dar condições aos municípios para realizar. Sou um municipalista por convicção e tenho certeza de que se nós tivéssemos mais força, mais capacidade de investimento nos municípios, a vida das pessoas seria muito melhor. Quanto mais longe a população do nível de poder, mais forte é a burocracia. Quanto mais perto, mais prevalece o lado humano. Melhora em todos os sentidos: maior fiscalização na aplicação dos recursos públicos, melhores resultados, menor custo, maior eficiência. Este é o melhor caminho.

 

[PE] – Sua saúde deu alguns sustos, especialmente logo depois da reeleição. Está se cuidando?

Colombo – Esse período de governo foi muito tenso e de muitas dificuldades. O período anterior, no governo Lula, por exemplo, o Brasil viveu uma expansão, uma euforia, tudo dava certo. E nós trabalhamos quase que dentro de um furacão, com dificuldades, corta ali, corta aqui, segura, para, vamos ajustar porque a receita está caindo… tudo foi muito difícil. E, claro, você vive tenso, angustiado. Tive que priorizar a parte da gestão e praticamente ignorar os relacionamentos, a política, as visitações. Tudo para poder cuidar dos números e não deixar acontecer em Santa Catarina o que estava acontecendo nos outros estados. Isso tem consequência na saúde. Eu me sinto absolutamente saudável e super bem. Mas, tive problema cardíaco, problema de herpes zoster,  problema de diverticulite, claramente resultado do estresse.

 

[PE] – Sua rotina mudou para se preservar um pouco?

Colombo – Tenho praticado exercícios sempre que posso. Duas vezes por semana. Aquém do ideal, mas durante um tempo não fazia nem isso.

 

[PE] – Do que mais vai sentir falta?

Colombo – Foi uma etapa da vida. Eu sabia que tinha data para começar e para terminar. Acho que vou sentir falta da intensidade, porque é trabalho 24 horas por dia. Mas eu preciso agora de um tempo com menos pressão. Acho que vai me fazer bem a nova fase que vem aí…

 

[PE] – Que é uma campanha para o Senado!

Colombo – (Risos) Falo de depois da campanha. Ganhando ou perdendo, vai aliviar um pouco.