Entre os 100 municípios com casos confirmados do novo coronavírus (covid-19) divulgados pelo governo do Estado até esta quarta-feira, 22, pelo menos 48 deles informam ter mais casos do que o relatório estadual. A reportagem fez um levantamento inédito e examinou os boletins divulgados por 92 das 100 prefeituras – as demais não divulgam boletins nos sites, nas redes sociais oficiais ou não responderam aos pedidos – e comparou com o total de casos divulgados pelo governo do Estado para essas mesmas cidades.
No total, são pelo menos 34,1% de casos, ou 371 pacientes, a mais contabilizados pelos municípios em relação ao total por cidade compilado pelo Estado. Enquanto somados os 92 municípios avaliados registram 1.458 casos confirmados, o governo Estadual informou até esta quarta-feira 1087 para essas cidades.
Apenas nessas 92 prefeituras, há ainda outros 419 casos suspeitos ou aguardando resultados dos exames. Segundo o boletim divulgado nesta quarta-feira pelo governo do Estado, são 296 os casos em análise.
Nos municípios onde essa disparidade é maior a diferença pode chegar a sete vezes, como em Sangão, no Sul do Estado, onde a prefeitura anunciou ter identificado 14 pacientes com covid-19, mas no boletim estadual ainda há apenas 2. Em Braço do Norte, também no Sul, a diferença é de quase 4 vezes em relação aos dados confirmados pelo Estado.
Mesmo nas cidades mais populosas, o número apresenta diferenças significativas. Enquanto o Estado aponta para 33 casos em Tubarão, a prefeitura divulga ter 67. Em Lages, a prefeitura divulga 23 pacientes com covid-19, mas a Secretaria de Estado da Saúde ainda contabiliza 13.
Em Criciúma são 78 casos informados pelo município, mas o relatório estadual ainda aponta para 46. Mesmo para Florianópolis existe um atraso na contabilização dos casos: a prefeitura registra pelo menos 306, mas o boletim do Estado ainda tem 244. No Vale do Itajaí, Blumenau apresenta 98 pacientes, enquanto a Secretaria da Saúde ainda informa ter 81.
Em Braço do Norte, dos 107 casos apontados pela prefeitura, 28 tiveram confirmação do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) do Estado, segundo a prefeitura. Mas no relatório mais recente divulgado pela secretaria estadual a cidade ainda figura com 27. Segundo o secretário de Saúde de Braço do Norte, Sergio Arent, os demais casos divulgados pela prefeitura são referentes a resultados obtidos com testes rápidos de laboratórios privados, que não tiveram a confirmação do Lacen:
– O Estado não está considerando os resultados dos testes rápidos, temos 79 casos confirmados em laboratórios particulares através deles.
Conforme o secretário, o município decidiu adotar esse controle quando os laboratórios privados passaram a ser autorizados a testar pacientes suspeitos de coronavírus, porque acredita ter mais clareza da situação no município.
– Inclusive foi baixado um decreto obrigando os laboratórios e clínicas a repassarem as informações no prazo máximo de 4 horas. Nossa intenção foi organizar os trabalhos com as equipes da Secretaria e laboratórios para a correta divulgação dos dados sobre os exames de Covid-19 – justifica Arent.
Temos algumas explicações que podem resultar nessa diferença de números, mas sempre é importante relatar que os municípios, a partir do momento em que eles têm a positividade de casos dentro de seu território, precisam preencher a notificação deste agravo para que o Estado e o Ministério da Saúde possam receber a informação e quantificar como caso positivo. – Helton Zeferino, secretário de Estado da Saúde
A Secretaria de Saúde de Florianópolis, que apresenta o maior número de casos em Santa Catarina, também foi procurada para explicar as possíveis razões da disparidade dos números em relação ao boletim estadual, mas não respondeu aos questionamentos.
Governo admite haver subnotificação e explica diferença dos dados
O governador Carlos Moisés da Silva reconheceu que há subnotificação dos casos em Santa Catarina, em entrevista coletiva na noite desta quarta-feira, 22. O secretário de Estado da Saúde, Helton Zeferino, acrescentou que outros fatores influenciam nessa disparidade. Ele afirma que é necessário averiguar como os municípios estão fazendo a testagem. O uso de testes rápidos, se devidamente homologado pelo Ministério da Saúde, também são considerados, desde que o município notifique o Estado.
– Temos diversos testes no mercado, alguns estão homologados, outros não. Esse teste pode estar sendo realizado dentro de um laboratório que não está devidamente credenciado também no sistema. Enfim, temos algumas explicações que podem resultar nessa diferença de números, mas sempre é importante relatar que os municípios, a partir do momento em que eles têm a positividade de casos dentro de seu território, eles precisam preencher a notificação deste agravo para que o Estado possa receber essa informação e, inclusive, o Ministério da Saúde também possa receber a informação e quantificar como caso positivo – argumenta Zeferino.
Modelos geram estimativas de subnotificação
Na terça-feira, o governador Carlos Moisés afirmou que as estimativas feitas a partir dos modelos usados pelo governo indicam a possibilidade de haver subnotificação 8 a 15 vezes superior ao total de casos identificados, pelo fato de não ser possível testar toda a população.
– Mas as nossas ferramentas não trabalham com notificação, estamos trabalhando de forma reversa, em cima da análise do número de óbitos, que no nosso Estado é muito preciso. Estamos acompanhando tudo o que acontece nos hospitais. Houve falecimento de uma pessoa, há todo o interesse do nosso Laboratório Central e da Secretaria de Saúde de testar se há alguma coisa relacionada à covid-19 e, aguardando alguns dias, por isso que às vezes a plataforma demora, se ela for confirmada, vai para nossa estatística – garante Moisés.
Fonte: NSC