“A polícia mandou a ambulância que ia levar meu filho voltar”, acusa mãe de menor morto

A mãe do adolescente Marcos Vinícius da Silva, de 14 anos, foi ao Instituto Médico-Legal (IML), no Centro do Rio, fazer a liberação do corpo do filho na manhã desta quinta-feira (21). Ele foi morto nesta quarta-feira (20) durante operação na comunidade da Maré, na Zona Norte do Rio. A diarista Bruna da Silva afirmou que os moradores tiveram dificuldades para socorrer o menino.

“Um morador gritou: ‘É criança! É estudante!’, mas eles não ligaram. O que fizeram? Os moradores colocaram o meu filho no carro e foram para a UPA [Unidade de Pronto Atendimento]. Eu liguei para o celular, um rapaz atendeu e falou: ‘Seu filho está na UPA, ele tomou um tiro’. Quando eu cheguei lá ele estava com um tiro no abdômen, que atravessou”, explicou Bruna, que destacou que ele estava lúcido e tinha saído atrasado para a aula.

Na metade do caminho, por causa dos tiros, ele não conseguiu chegar à escola. Por isso, ele tentou voltar para casa e foi atingido.

 Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, morreu após ser baleado na Maré (Foto: Reprodução)

Marcos Vinicius da Silva, de 14 anos, morreu após ser baleado na Maré (Foto: Reprodução)

Segundo ela, a ambulância que faria a remoção do filho para uma unidade mais equipada demorou a entrar na favela.

“A ambulância veio para levar o meu filho para o hospital, que dava tempo. A ambulância demorou uma hora porque um policial mandou a ambulância voltar. O pessoal da UPA, junto com a secretaria do Estado, é que ligou para a prefeitura. O governador [Luiz Fernando Pezão] autorizou a ambulância voltar e entrar na comunidade para resgatar o meu filho baleado na UPA”, contou.

Questionado, o governador do RJ afirmou que não foi consultado sobre a ambulância. 

Bruna da Silva estende a camiseta da escola pública com a qual o filho, Marcos Vinícius, foi alvejado na comunidade da Maré (Foto: Reprodução/ GloboNews)

Bruna da Silva estende a camiseta da escola pública com a qual o filho, Marcos Vinícius, foi alvejado na comunidade da Maré (Foto: Reprodução/ GloboNews)

Indignada, Bruna afirmou que casos como o de Marcos Vinícius não podem se repetir. “Meu filho era alegre. Os amigos estão arrasados. A escola não teve aula. Isso não pode mais acontecer. Chega de alvejar crianças!”

Ela culpou o Estado pela morte do filho. “Ele alvejou uma criança indo para a escola. Onde bandido carrega isso na mochila? Esse era o armamento dele”, destacou, exibindo os cadernos e material escolar do adolescente.

Mãe exibe conteúdo da mochila de Marcos Vinícius, de 14 anos, morto na Maré na quarta-feira (20) (Foto: Reprodução/ GloboNews)

Mãe exibe conteúdo da mochila de Marcos Vinícius, de 14 anos, morto na Maré na quarta-feira (20) (Foto: Reprodução/ GloboNews)
 O pai do menino também acredita que a morte do adolescente foi causada por um erro da polícia, já que ele estava uniformizado. Ele acha que o filho foi atingido porque carregava uma mochila.

“Eu estava trabalhando e não acreditei quando ouvi. Abandonei o trabalho e fui às pressas e, quando cheguei, ele estava entubado no hospital. Eu só o vi respirando com os aparelhos, não consegui falar com ele”, explicou José Gerson da Silva.

A Polícia Civil do RJ informou que a Delegacia de Homicídios da capital abriu inquérito para apurar as circunstâncias da morte do adolescente. A perícia foi realizada no local e está prevista a realização de uma reconstituição dos fatos para determinar de onde partiu o tiro que atingiu o estudante.

Morte também na Zona Oeste

Horas depois da morte de Marcos Vinícius, um jovem da mesma idade perderia a vida em outra comunidade do Rio. À noite, Guilherme Henrique Pereira foi atingido por disparos vindos de um carro em Padre Miguel, na Zona Oeste. O garoto estava numa bicicleta com um amigo quando o veículo passou atirando. Ele, o carona e um homem ficaram feridos. Guilherme chegou morto ao hospital. Com informações G1