No final do mês de agosto, o Governo de Santa Catarina divulgou o plano estadual de contingência para a retomada das aulas presenciais no Estado. O documento servirá como referência aos municípios para a elaboração de regras municipais sobre o retorno às salas de aula, previsto, de maneira gradual, para a partir de 13 de outubro.
Mas, afinal, é seguro deixar as crianças na escola? Um estudo liderado por uma pesquisadora do Centro Nacional para Pesquisa e Monitoramento de Imunidade em colégios australianos sugere que as escolas não foram um grande foco de infecção por coronavírus. O risco de infecção entre as crianças foi considerado baixo. No entanto, professores e funcionários, que correspondem a apenas 10% da população escolar, responderam por 56% dos casos de Covid-19 registrados em ambiente escolar.
Vale lembrar que as condições de segurança e higiene oferecidas pelas escolas também podem influenciar esse tipo de resultado. Segundo a orientadora da EEB Anita Garibaldi, em Itapema, Eloisa de Carli, há um despreparo para lidar com a situação do coronavírus em caso de retorno das aulas presenciais. “O que se sabe é que a maioria dos pais e professores são contra o retorno ainda neste ano. Há muitos professores que são grupo de risco e terão que lidar com salas lotadas de alunos, refeitórios pequenos e poucos banheiros”, destaca Eloisa.
As escolas da rede pública do Amazonas foram as primeiras do país a retomar as aulas presenciais. Mesmo com o retorno gradual, apenas para os alunos do ensino médio, segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), três semanas após a volta das aulas 7,6% dos profissionais de educação testaram positivo para Covid-19. Dessa maneira, é possível perceber como seria uma possível reabertura das escolas em outras regiões brasileiras, e quais seriam as consequências.
Além de representar riscos para os profissionais da educação, alguns pais demonstram receio em levar os filhos às aulas presenciais, mesmo tendo que lidar com as dificuldades impostas pelo modelo de educação à distância, utilizado atualmente.
Esse é o caso de Leydyani Mendes da Silva, com três filhas matriculadas na rede pública de ensino em Itapema. Segundo ela, as filhas mais velhas, de 11 e 14 anos, conseguiram acompanhar bem no início, mas a caçula demanda atenção especial, visto que está em fase de alfabetização. “Hoje nos revezamos em auxiliar a Olívia (7 anos), pedi ajuda para as irmãs mais velhas dela a ajudarem quando não estou”, explica Leydyani. Mesmo assim, ela relata que não mandaria as filhas à escola caso as aulas retornassem ainda esse ano “Não quero correr riscos, estou gestante e meus pais, que me ajudam muito com as meninas, são idosos. Não vale a pena arriscar tudo que cuidamos tanto até agora para ter apenas três meses de aula”, destaca a moradora de Itapema.
Luciana Zamboni também tem receio pela saúde da filha Carla. “Acho difícil que as escolas consigam oferecer a estrutura necessária, principalmente quando se trata de crianças. Amo e cuido tanto da minha filha, não a colocaria em risco, não mandaria ela para a escola agora.” Claudia Regina Diz Schmitt também é contra o retorno dos encontros presenciais. “As aulas online pegaram todos desprevenidos e claramente não substituem a figura presencial do professor, mas infelizmente ainda não é seguro o retorno. A curva da pandemia ainda está muito alta e, se muitos adultos não estão sabendo enfrentar com a situação, como podemos esperar que as crianças saibam lidar com isso?”, questiona Cláudia.
Já a moradora de Porto Belo, Adriane Fabiani de Almeida, relata que as escolas em que os filhos estudam já estão estudando estratégias, como o Instituto Federal Catarinense, que disponibilizou um plano de contingência em seu portal da internet, e não teria problemas em mandar seus filhos para a escola, desde que houvesse segurança para isso. “Meus filhos são maiores, já entendem o que está acontecendo, então fica mais fácil garantir que eles tenham os hábitos para preservar sua saúde.”
Segundo um orientador educacional Itapemense, que preferiu não ter seu nome divulgado, ainda que a unidade escolar apresente o maior número de alunos acessando as aulas online, os alunos da escola pública encontram dificuldades em se adaptar e acompanhar as atividades virtuais, uma vez que demanda rotina, interesse e participação. Além disso, os pais que precisam trabalhar em tempo integral, ou que não estão conseguindo auxiliar os filhos nos estudos, também têm interesse no retorno das aulas.
De acordo com a secretária da Educação de Porto Belo, Rosane Grauppe, a escola entrará em contato com os pais por meio de um questionário, para ouvir a comunidade e avaliar a possibilidade de retorno. Segundo o Governo do Estado, as aulas estão suspensas até dia 12 de outubro na rede estadual de educação, nas redes municipais e também em escolas privadas. Após essa data, a situação será reavaliada de acordo com a situação sanitária de Santa Catarina no fim de setembro. Os governos municipais já traçam estratégias para garantir a segurança dos alunos e professores, mas dizem depender da orientação e liberação por parte do governo estadual.
Em Itapema um questionário foi aplicado com as famílias sobre o retorno das aulas
Cerca de 80% dos pais responderam que são contra o retorno das aulas presenciais este ano. Mesmo assim, a Secretaria de Saúde já prepara o ambiente para receber os alunos em caso de um retorno. “Seguimos com o ensino remoto, mas também já estamos desenvolvendo algumas ações, como por exemplo a medição de temperatura no sistema de frequência facial. Este dispositivo já está sendo usado pelos funcionários e os pais que vão até a escola receber o material impresso todas terças e quintas-feiras”, explicou a Secretária de Educação, Alessandra Ghiotto.