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{"id":130251,"date":"2017-11-16T09:42:02","date_gmt":"2017-11-16T11:42:02","guid":{"rendered":"https:\/\/oatlantico.com.br\/?p=130251"},"modified":"2017-11-16T19:04:54","modified_gmt":"2017-11-16T21:04:54","slug":"pesquisas-testam-ayahuasca-no-tratamento-de-depressao-e-alcoolismo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/oatlantico.com.br\/pesquisas-testam-ayahuasca-no-tratamento-de-depressao-e-alcoolismo\/","title":{"rendered":"PESQUISAS TESTAM AYAHUASCA NO TRATAMENTO DE DEPRESS\u00c3O E ALCOOLISMO"},"content":{"rendered":"
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Uma pesquisa desenvolvida no Instituto do C\u00e9rebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte testou a ayahuasca como antidepressivo, e obteve resultados iniciais positivos em pessoas que apresentam quadro de depress\u00e3o. A solu\u00e7\u00e3o psicoativa \u00e9 usada comumente em cerim\u00f4nias religiosas, como Santo Daime e Jurema. Contudo a ci\u00eancia tem se debru\u00e7ado sobre a utiliza\u00e7\u00e3o medicinal desse ch\u00e1.<\/p>\n<\/div>\n

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De acordo com o que afirma a pesquisadora Fernanda Palhano, que defendeu este ano sua tese de doutorado com base nesse teste, orientada pelo professor Draulio Ara\u00fajo, a maior parte das pessoas que tomou a ayahuasca apresentou melhora nos sintomas depressivos. Segundo ela, foram 64% dos pacientes que beberam o ch\u00e1 com melhora cl\u00ednica em at\u00e9 sete dias ap\u00f3s o experimento.<\/p>\n<\/div>\n

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\u201cFizemos o que se conhece por ensaio cl\u00ednico duplo cego randomizado. Isso significa pegar um grupo de pacientes, dividi-lo ao meio e de maneira aleat\u00f3ria separar os pacientes que v\u00e3o fazer parte do tratamento que se quer testar, no nosso caso a ayahuasca, ou do grupo placebo. Al\u00e9m disso, nem pacientes nem pesquisadores sabiam qual a subst\u00e2ncia, ayahuasca ou placebo, estava sendo administrada, da\u00ed o termo duplo (para pacientes e pesquisadores) cego\u201d, explica.<\/p>\n<\/div>\n

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Para a pesquisa, foram selecionados pacientes que tinham depress\u00e3o resistente ao tratamento. \u201cOu seja, pessoas que j\u00e1 tinha feito uso de diversos antidepressivos comerciais, mas que n\u00e3o tinham melhora do quadro depressivo. Al\u00e9m disso t\u00ednhamos um grupo de indiv\u00edduos saud\u00e1veis, que foram usados como controle\u201d, detalha a pesquisadora.<\/p>\n<\/div>\n

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Ao todo, 29 pessoas com depress\u00e3o participaram da experi\u00eancia, al\u00e9m das 50 pessoas saud\u00e1veis do grupo de controle. Entre os doentes, 15 receberam placebo e 14 a subst\u00e2ncia real.<\/p>\n<\/div>\n

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Procedimentos<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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O experimento durava quatro dias. No primeiro dia, o paciente era submetido a uma s\u00e9rie de avalia\u00e7\u00f5es, tais como entrevistas com psiquiatra, psic\u00f3logo, exame de resson\u00e2ncia magn\u00e9tica funcional.<\/p>\n<\/div>\n

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Fernanda Palhano relata que a pessoa dormia no hospital enquanto fazia uma eletroencefalografia (m\u00e9todo de monitoramento utilizado para registrar a atividade el\u00e9trica do c\u00e9rebro) durante o sono. Pela manh\u00e3, eram coletadas amostras de sangue e saliva. Na mesma manh\u00e3, era feita a administra\u00e7\u00e3o de uma \u00fanica dose da subst\u00e2ncia (ayahuasca ou placebo).<\/p>\n

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\u201cA sess\u00e3o de tratamento tinha dura\u00e7\u00e3o de aproximadamente 8 horas. Ao final da tarde o paciente era liberado para voltar para casa. No dia seguinte, ele retornava ao hospital e as mesmas avalia\u00e7\u00f5es do primeiro dia eram refeitas. Novamente ele dormia no hospital, e no outro dia, pela manh\u00e3, era liberado\u201d.<\/p>\n<\/div>\n

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O paciente retornava para consultas com o psiquiatra 7 dias, 14 dias e 1 vez por m\u00eas durante 6 meses ap\u00f3s o tratamento.<\/p>\n<\/div>\n

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\u201cNosso primeiro resultado \u00e9 com rela\u00e7\u00e3o ao efeito antidepressivo da ayahuasca, aos dados das escalas psiqui\u00e1tricas que medem a gravidade da depress\u00e3o. Vimos que logo no primeiro dia ap\u00f3s o tratamento h\u00e1 uma diminui\u00e7\u00e3o significativa dos sintomas depressivos nos pacientes que beberam ayahuasca quando comparados aos que beberam placebo\u201d, conta a pesquisadora.<\/p>\n<\/div>\n

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Esse efeito, de acordo com Fernanda Palhano, permanece e \u00e9 ainda maior 7 dias ap\u00f3s o tratamento. \u201cCom 7 dias, encontramos que 64% dos pacientes do grupo ayahuasca (nove pessoas) tem uma resposta cl\u00ednica, enquanto que apenas 27% dos pacientes do grupo placebo (quatro pessoas) melhoraram\u201d, afirma.<\/p>\n<\/div>\n

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As informa\u00e7\u00f5es obtidas nos exames realizados ao longo do experimento est\u00e3o sendo analisados pelos pesquisadores do Instituto do C\u00e9rebro. De acordo com Fernanda Palhano, esses exames m\u00e9dicos ainda podem ajudar a compreender os mecanismos de a\u00e7\u00e3o da ayahuasca no organismo e o porqu\u00ea de o ch\u00e1 ter o efeito antidepressivo mostrado nos testes. \u201cOutra parte importante do trabalho \u00e9 entender o que muda nesses pacientes com depress\u00e3o quando comparados aos controles saud\u00e1veis\u201d, acrescenta.<\/p>\n<\/div>\n

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Segundo Fernanda Palhano, o pr\u00f3ximo passo da pesquisa \u00e9 ampliar a quantidade de pacientes tratados, e testar esquemas de tratamento de pacientes atrav\u00e9s da ayahuasca, n\u00e3o mais apenas ministrar uma dose do ch\u00e1.<\/p>\n<\/div>\n

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Experimentos come\u00e7aram em 2006<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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O professor Draulio Ara\u00fajo, orientador da tese de doutorado de Fernanda Palhano, diz que o projeto de pesquisa do uso da ayahuasca como antidepressivo come\u00e7ou ainda em 2006. \u201cEm Ribeir\u00e3o Preto, quando eu ainda era professor da USP (Universidade de S\u00e3o Paulo). A primeira etapa do projeto previa a realiza\u00e7\u00e3o de um ensaio aberto, sem placebo, para avaliar preliminarmente os efeitos antidepressivos, bem como efeitos adversos do uso da ayahuasca por pacientes com depress\u00e3o severa. Essa etapa do projeto foi coordenada pelo professor Jaime Hallak, da psiquiatria da USP de Ribeir\u00e3o Preto\u201d, complementa.<\/p>\n

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Em 2011, foi iniciada a segunda fase do projeto, j\u00e1 em Natal e sob a coordena\u00e7\u00e3o do professor Draulio. Nessa fase, os pesquisadores realizaram o que se conhece como “Randomized Placebo-Controlled Trial”, que \u00e9 feito controle pelo placebo. \u201cEm outras palavras, alguns pacientes foram submetidos a uma \u00fanica sess\u00e3o com Ayahuasca, e a outra metade, placebo. A fase de coleta de dados dessa etapa durou 2 anos e meio, e foi finalizada em meados de 2016. Atualmente estamos analisando os dados coletados e escrevendo os manuscritos associados a eles\u201d, refor\u00e7a Draulio Ara\u00fajo.<\/p>\n<\/div>\n

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De acordo com o professor, os estudos atuais sobre o uso terap\u00eautico da ayahuasca t\u00eam focado principalmente em pacientes com depress\u00e3o, e no tratamento do uso abusivo de subst\u00e2ncias, principalmente de \u00e1lcool.<\/p>\n

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Ayahuasca contra o alcoolismo<\/h2>\n<\/div>\n<\/div>\n
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O psiquiatra e professor da Universidade Federal de S\u00e3o Paulo (Unifesp) Dartiu Xavier da Silveira desenvolveu uma pesquisa em que relaciona o uso do ch\u00e1 de ayahuasca em contexto religioso ao tratamento de alcoolismo. \u201cO que chamou a aten\u00e7\u00e3o pra gente de cara foi que a gente descobriu v\u00e1rias pessoas que eram alco\u00f3latras h\u00e1 mais de 40 anos e, quando entraram em uma dessas religi\u00f5es ayahuasqueiras simplesmente abandonaram o uso de \u00e1lcool\u201d, relata.<\/p>\n

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De acordo com Dartiu Xavier, quatro desses casos foram estudados e documentados na pesquisa de uma tese de doutorado.<\/p>\n<\/div>\n

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Depois disso, o professor passou a estudar os efeitos da ayahuasca em adolescentes. Foram comparados adolescentes que tomavam o ch\u00e1 com outros que nunca haviam tomado. \u201cForam oitenta adolescentes. Os que usavam ayahuasca tinham menos sintomas depressivos, menos sintomas ansiosos, mais capacidade de se concentrar. As meninas adolescentes que tomavam ayahuasca tinham menos altera\u00e7\u00f5es da imagem corporal, menos problemas de transtornos alimentares. Ou seja, era um grupo mais sadio do que o que n\u00e3o usava ayahuasca\u201d, resumiu.<\/p>\n<\/div>\n

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Segundo Dartiu, as pessoas que participaram dos experimentos tomavam o ch\u00e1 duas vezes por m\u00eas. Com rela\u00e7\u00e3o aos poss\u00edveis efeitos colaterais e seguran\u00e7a de tomar a ayahuasca, os efeitos colaterais do ch\u00e1, o professor diz que esse tema tamb\u00e9m foi alvo de investiga\u00e7\u00e3o pelos pesquisadores. Foram feitos testes psicol\u00f3gicos com pessoas que come\u00e7aram a tomar a bebida ainda crian\u00e7as, para saber se elas tinham alguma altera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n<\/div>\n

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\u201cE n\u00e3o. O desempenho delas foi excelente, mostrando que a ayahuasca, mesmo que come\u00e7ando a ser usada precocemente, desde que seja no contexto ritualizado, contexto de ritual religioso, n\u00e3o \u00e9 prejudicial ao c\u00e9rebro\u201d, revela.<\/p>\n

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O neurocientista Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto do C\u00e9rebro (ICe) da UFRN, afirma que a ci\u00eancia est\u00e1 se abrindo mais para as subst\u00e2ncias psicod\u00e9licas. \u201cVai ser como uma nova ind\u00fastria. O que vem a\u00ed \u00e9 uma revolu\u00e7\u00e3o. H\u00e1 uma tens\u00e3o entre quem vai tomar conta nisso, mas o que \u00e9 obvio \u00e9 que essa revolu\u00e7\u00e3o \u00e9 inevit\u00e1vel\u201d, disse.<\/p>\n<\/div>\n

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Sidarta defende que o futuro da Medicina estar\u00e1 atrelado \u00e0s descobertas relacionadas aos psicod\u00e9licos e canabinoides, subst\u00e2ncias que comp\u00f5em a maconha.<\/p>\n<\/div>\n

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As pesquisas procuram cada vez mais comprovar capacidade medicinal dessas subst\u00e2ncias qu\u00edmicas, sob a expectativa de que elas venham a se tornar rem\u00e9dios para diversos tipos de doen\u00e7as. Parte delas j\u00e1 \u00e9 usada pela Medicina, principalmente os derivados da Cannabis Sativa. J\u00e1 h\u00e1 decis\u00f5es judiciais em diferentes lugares do Brasil que autorizam o uso de medicamentos \u00e0 base de Canabidiol (CBD), por exemplo, para tratar convuls\u00f5es.<\/p>\n<\/div>\n

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Dentro dos estudos que se debru\u00e7am sobre o tema, h\u00e1 os testes com as subst\u00e2ncias puras e complexas. Ou seja, as subst\u00e2ncias em seu estado origin\u00e1rio, individual, e a combina\u00e7\u00e3o delas, segundo ele explica Sidarta Ribeiro. E ainda n\u00e3o h\u00e1 resposta na ci\u00eancia para qual das duas tem melhor rea\u00e7\u00e3o para determinados tipos de usos terap\u00eauticos.<\/p>\n<\/div>\n

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\u201cA mistura que \u00e9 feita no ch\u00e1 de ayahuasca \u00e9 uma mistura psicoativa muito poderosa, que vai muito al\u00e9m do DMT (N,N-dimetiltriptamina , um composto presente no ch\u00e1). \u00c9 poss\u00edvel que muito dos benef\u00edcios terap\u00eauticos que adv\u00eam do uso da ayahuasca sejam devido justamente a essa intera\u00e7\u00e3o\u201d, diz.<\/p>\n<\/div>\n

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Para Sidarta Ribeiro, a pesquisa desenvolvida no ICe evidencia o potencial da ayahuasca. \u201cNa pesquisa do Draulio e da Fernanda eles mostraram que, em um ambiente controlado, num hospital, n\u00e3o tava na igreja, mas havia um cuidado com a pessoa, tem um resultado. E o resultado foi lindo e forte\u201d.<\/p>\n<\/div>\n

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Em outubro, Sidarta Ribeiro e Draulio Ara\u00fajo assinaram como coautores um artigo do professor Stevens Rehen, do Rio de Janeiro, em que apontam o DMT como um estimulante das atividades cerebrais no que diz respeito \u00e0 capacidade de aprender. \u201caumenta a plasticidade do c\u00e9rebro\u201d, afirma Sidarta. O estudo, feito a partir da cria\u00e7\u00e3o de organoides que imitam o c\u00e9rebro, \u00e9 considera tamb\u00e9m um avan\u00e7o no campo.<\/p>\n

Apesar de a ci\u00eancia ter avan\u00e7ado nas pesquisas, segundo Sidarta n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil atuar nessa linha de pesquisa. O Instituto do C\u00e9rebro publica desde 2012 sobre ayahuasca e, al\u00e9m dos pesquisadores brasileiros, h\u00e1 poucos grupos no mundo que se debru\u00e7am sobre o tema.\u201cS\u00e3o subst\u00e2ncias poderosas que hoje ainda \u00e9 dif\u00edcil usar, estudar, est\u00e3o relegadas ao mundo ilegal. Por\u00e9m isso est\u00e1 mudando rapidamente no mundo. No Brasil nem tanto, mas na pesquisa n\u00f3s brasileiros estamos na vanguarda\u201d.<\/p>\n

Fonte: G1
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