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{"id":140227,"date":"2018-08-29T11:45:45","date_gmt":"2018-08-29T14:45:45","guid":{"rendered":"https:\/\/oatlantico.com.br\/?p=140227"},"modified":"2018-08-29T11:45:45","modified_gmt":"2018-08-29T14:45:45","slug":"o-brasileiro-com-problemas-cardiacos-que-desenvolveu-um-gel-para-imprimir-coracoes-artificiais","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/oatlantico.com.br\/o-brasileiro-com-problemas-cardiacos-que-desenvolveu-um-gel-para-imprimir-coracoes-artificiais\/","title":{"rendered":"O brasileiro com problemas card\u00edacos que desenvolveu um gel para imprimir cora\u00e7\u00f5es artificiais"},"content":{"rendered":"

N\u00e3o seria exagero dizer que o destino profissional do m\u00e9dico Gabriel Liguori foi tra\u00e7ado no seu nascimento. Ele veio ao mundo com uma cardiopatia cong\u00eanita chamada atresia pulmonar, o que significa que uma das principais art\u00e9rias do seu cora\u00e7\u00e3o nunca foi formada.<\/p>\n

Aos sete dias de vida, entrou pela primeira vez no Instituto do Cora\u00e7\u00e3o (Incor), da Faculdade de Medicina da Universidade de S\u00e3o Paulo (FMUSP), onde, aos 2 anos, foi operado. Hoje, \u00e9 m\u00e9dico especializado no atendimento de crian\u00e7as. Como pesquisador, desenvolveu um gel, feito com as pr\u00f3prias c\u00e9lulas do paciente, que poder\u00e1 levar \u00e0 cria\u00e7\u00e3o de um cora\u00e7\u00e3o artificial para transplantes.<\/p>\n

As passagens constantes pelo Incor desde os primeiros dias de vida criaram nele o interesse pela Medicina, mais precisamente pela cirurgia card\u00edaca pedi\u00e1trica. “O que poderia ter sido um trauma acabou virando uma paix\u00e3o”, diz o m\u00e9dico, hoje com 29 anos.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, suas limita\u00e7\u00f5es de sa\u00fade, que o impediam de praticar esportes ou de participar de brincadeiras que exigiam esfor\u00e7o f\u00edsico, o levaram cedo para um caminho mais intelectual, que o aproximou da leitura e das ci\u00eancias. Lia de tudo nessa \u00e1rea, de Charles Darwin \u00e0 mec\u00e2nica qu\u00e2ntica, al\u00e9m de fazer seus pr\u00f3prios experimentos em casa.<\/p>\n

Como isso o trouxe at\u00e9 o desenvolvimento do gel \u00e9 uma longa hist\u00f3ria.<\/p>\n

“Tentando resumir um pouco, o fato de eu estar constantemente no hospital me despertou o interesse pela Medicina”, conta. “Desde crian\u00e7a, eu sempre quis ser m\u00e9dico e trabalhar no Incor, tratando crian\u00e7as que apresentassem essas mesmas malforma\u00e7\u00f5es cong\u00eanitas que eu tive. Com sucesso, passei no vestibular e entrei na Faculdade de Medicina da USP em 2009.”<\/p>\n

Desde o in\u00edcio da gradua\u00e7\u00e3o, Gabriel se envolveu com diversos projetos na \u00e1rea de cirurgia card\u00edaca, principalmente a pedi\u00e1trica.<\/p>\n

“Na \u00e9poca em que eu estava terminando a faculdade, comecei a entrar em contato com a engenharia de tecidos, inicialmente \u00e0 dist\u00e2ncia”, conta. “Quanto mais eu lia sobre, mais encantado eu ficava e mais eu acreditava que aquele era o futuro da cirurgia card\u00edaca. Basicamente, essa \u00e1rea procura organizar pol\u00edmeros, c\u00e9lulas e biomol\u00e9culas de maneira a construir tecidos vivos, para a reposi\u00e7\u00e3o e regenera\u00e7\u00e3o de \u00f3rg\u00e3os ou parte deles”, explica.<\/p>\n

De acordo com ele, hoje h\u00e1 milhares de pessoas na fila de transplante card\u00edaco, e a maioria delas nunca conseguir\u00e1 receber um cora\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

“Por isso, acreditando que seria poss\u00edvel criar \u00f3rg\u00e3os em laborat\u00f3rio nos pr\u00f3ximos anos e, assim, resolver o problema da escassez – e tamb\u00e9m da rejei\u00e7\u00e3o – para transplante, decidi que faria meu doutorado nessa \u00e1rea”, diz. “Assim, em 2015, ingressei direto nele, sem fazer mestrado, na Universidade de Groningen, na Holanda, e desenvolvi uma s\u00e9rie de projetos, sendo que um deles deu origem a esse gel.”<\/p>\n

Impress\u00e3o em 3D<\/p>\n

Liguori explica que seu plano \u00e9 construir um cora\u00e7\u00e3o utilizando uma t\u00e9cnica de engenharia de tecidos conhecida como bioimpress\u00e3o, que nada mais \u00e9 do que a impress\u00e3o 3D de tecidos humanos.<\/p>\n

“Diferentemente da impress\u00e3o 3D tradicional, entretanto, em vez de utilizar materiais pl\u00e1sticos como mat\u00e9ria-prima, a bioimpress\u00e3o utiliza algo chamado de biotinta, que se constitui justamente do gel que desenvolvemos, combinado com c\u00e9lulas-tronco, que, em conjunto, v\u00e3o originar os tecidos de interesse.”<\/p>\n

O pesquisador n\u00e3o d\u00e1 detalhes do processo de fabrica\u00e7\u00e3o do gel, porque ele est\u00e1 em fase de an\u00e1lise para patente. O que pode dizer \u00e9 que \u00e9 um produto fabricado a partir de tecidos animais an\u00e1logos aos dos humanos.<\/p>\n

“Para faz\u00ea-lo, utilizamos um cora\u00e7\u00e3o su\u00edno”, revela. “A partir desses tecidos animais, retiramos as c\u00e9lulas, para n\u00e3o causar rejei\u00e7\u00e3o no receptor, e utilizamos apenas o conte\u00fado extracelular. Com isso, vamos imprimir um \u00f3rg\u00e3o artificial.”<\/p>\n

De acordo com ele, os resultados at\u00e9 agora t\u00eam sido promissores. O gel se mostrou, nos estudos, como um grande aliado na cultura tridimensional – e consequente bioimpress\u00e3o – de c\u00e9lulas, em particular c\u00e9lulas-tronco. “Elas entendem o nosso gel como se ele fosse o tecido nativo, onde deveriam estar e, dessa forma, respondem exatamente como as encontradas nele”, explica.<\/p>\n

Liguori diz ter demonstrado que o gel, al\u00e9m de influenciar a prolifera\u00e7\u00e3o e diferencia\u00e7\u00e3o de c\u00e9lulas-tronco, tamb\u00e9m possibilita a forma\u00e7\u00e3o de redes microvasculares, que s\u00e3o os pequenos vasos que existem em todos os \u00f3rg\u00e3os e pelos quais o sangue passa para chegar aos tecidos.<\/p>\n

Isso \u00e9 muito importante pois, para qualquer \u00f3rg\u00e3o que se queira fabricar em laborat\u00f3rio, ser\u00e1 necess\u00e1rio que eles apresentem uma extensa rede microvascular para n\u00e3o morrer.<\/p>\n

Forma\u00e7\u00e3o<\/p>\n

Durante sua gradua\u00e7\u00e3o na USP, Liguori passou um per\u00edodo em Harvard, fazendo o curso “Principles and Practice of Clinical Research” e estagiando no Children’s Hospital Boston, considerado um dos melhores dos Estados Unidos na \u00e1rea pedi\u00e1trica.<\/p>\n

O jovem pesquisador tamb\u00e9m fez um est\u00e1gio em Londres, onde, durante um m\u00eas, p\u00f4de analisar a cole\u00e7\u00e3o de cora\u00e7\u00f5es com cardiopatias cong\u00eanitas do Royal Bromptom Hospital. Depois, tamb\u00e9m por um m\u00eas, esteve na cidade holandesa de Maastrich, pelo Programa de interc\u00e2mbio da International Federation of Medical Students Associations.<\/p>\n

No final de 2014, ele se formou com destaque na FMUSP, recebendo o Pr\u00eamio Prof. Dr. Edmundo Vasconcelos de distin\u00e7\u00e3o em Cirurgia.<\/p>\n

No ano seguinte, Liguori foi selecionado como um dos 24 bolsistas – entre 80 mil candidatos – da Funda\u00e7\u00e3o Estudar, que d\u00e1 apoio financeiro e de orienta\u00e7\u00e3o acad\u00eamica para jovens com potencial de lideran\u00e7a.<\/p>\n

Em 2017, voltou ao Incor, agora como m\u00e9dico e pesquisador. Atualmente, ele continua trabalhando no desenvolvimento do gel, que est\u00e1 em fase de estudos pr\u00e9-cl\u00ednicos. “Ou seja, estamos estudando seu funcionamento em animais para compreender melhor como o organismo reage a ele quando \u00e9 implantado em diferentes regi\u00f5es do corpo”, explica.<\/p>\n

Ele ressalva, no entanto, que o uso do produto em pacientes ainda dever\u00e1 levar algum tempo, n\u00e3o por causa do gel em si, mas pelos diversos outros processos que s\u00e3o necess\u00e1rios otimizar para que se consiga fabricar \u00f3rg\u00e3os e tecidos em laborat\u00f3rio. “Mesmo assim, acredito que conseguiremos iniciar testes cl\u00ednicos com tecidos mais simples, fabricados a partir desse dele, nos pr\u00f3ximos cinco anos”, prev\u00ea.<\/p>\n

Fonte: Notisul<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

N\u00e3o seria exagero dizer que o destino profissional do m\u00e9dico Gabriel Liguori foi tra\u00e7ado no seu nascimento. Ele veio ao mundo com uma cardiopatia cong\u00eanita chamada atresia pulmonar, o que significa que uma das principais art\u00e9rias do seu cora\u00e7\u00e3o nunca foi formada. 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