A partir de 1\u00ba de janeiro de 2019, o governo de Santa Catarina passar\u00e1 a ser conduzido por Carlos Mois\u00e9s da Silva (PSL), o Comandante Mois\u00e9s, eleito em segundo turno com a marca recorde de quase 72% dos votos v\u00e1lidos. O processo de transi\u00e7\u00e3o come\u00e7ou j\u00e1 no dia seguinte ao da elei\u00e7\u00e3o. Com reuni\u00f5es di\u00e1rias, o governador eleito e sua equipe tomam conhecimento da real situa\u00e7\u00e3o do Estado. Quem vai passar o bast\u00e3o depois de um curto mandato de aproximadamente dez meses \u00e9 Eduardo Pinho Moreira (MDB). Ele recebeu jornalistas da Associa\u00e7\u00e3o de Di\u00e1rios do Interior (ADI-SC) e da Associa\u00e7\u00e3o dos Jornais do Interior (Adjori-SC) para fazer um balan\u00e7o de como entregar\u00e1 a administra\u00e7\u00e3o estadual ao final de 2018. Em entrevista exclusiva concedida em seu gabinete, alertou que Mois\u00e9s assumir\u00e1 o Executivo com uma conta de R$ 1,9 bilh\u00e3o em d\u00edvida p\u00fablica e um d\u00e9ficit de receita que gira em torno de R$ 700 milh\u00f5es. O principal desafio, na avalia\u00e7\u00e3o de Pinho Moreira, ser\u00e1 contingenciar o que ele chamou de \u2018sa\u00eddas\u2019 excessivas de recursos.<\/p><\/blockquote>\n

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Parceria ADI\/Adjori – Que Estado o novo governador, comandante Mois\u00e9s, vai receber?<\/strong><\/p>\n

Eduardo Pinho Moreira – Quando eu assumi, em 16 de fevereiro, fiz men\u00e7\u00e3o \u00e0 situa\u00e7\u00e3o do Estado de forma muito transparente e escolhi duas prioridades, que era sa\u00fade e seguran\u00e7a p\u00fablica, porque os recursos do Estado eram insuficientes para atender todas as demandas. Em mar\u00e7o eu mostrei as dificuldades, e que era preciso fazer ainda mais economia, porque a folha de pagamento tinha ultrapassado o limite legal. Tivemos que fazer uma s\u00e9rie de demiss\u00f5es, extinguir secretarias, cargos comissionados, fun\u00e7\u00f5es gratificadas.\u00a0 Os indicativos eram de que seria um ano complicado, pelo aumento da despesa com servidores. Para se ter uma ideia, mesmo sem dar nenhum percentual de reajuste n\u00f3s tivemos R$ 600 milh\u00f5es de aumento na folha.<\/p>\n

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ADI\/Adjori – A previs\u00e3o inicial do d\u00e9ficit do Estado para este ano ir\u00e1 se confirmar?<\/strong><\/p>\n

Moreira – No in\u00edcio o d\u00e9ficit anunciado era de R$ 2 bilh\u00f5es. Esse valor vai ser reduzido a R$ 700 milh\u00f5es, o que representa uma economia de R$ 1,3 bilh\u00e3o. Isso \u00e9 gest\u00e3o. N\u00e3o \u00e9 apenas a diminui\u00e7\u00e3o de cargos comissionados. \u00c9 quando voc\u00ea mostra que t\u00e1 cortando na pr\u00f3pria carne. E foi o que fizemos. Trancamos a libera\u00e7\u00e3o de recursos pra festas, por exemplo. Fechamos conv\u00eanios que eram \u2018exagerados\u2019 para alguns munic\u00edpios. Paramos, refizemos todas as contas, conseguimos vencer e pagar os sal\u00e1rios em dia, que era algo que os advers\u00e1rios apregoavam que n\u00e3o conseguir\u00edamos.<\/p>\n

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ADI\/Adjori – Este \u00e9 o cen\u00e1rio atual. Mas e a partir de 2019?<\/strong><\/p>\n

Moreira – O estado ter\u00e1 um d\u00e9ficit de R$ 700 milh\u00f5es. Isso \u00e9 despesa maior do que a receita. Isso porque n\u00f3s, at\u00e9 a metade do ano, pagamos R$ 500 milh\u00f5es em d\u00edvidas de anos anteriores. Na metade do ano eu decidi, junto com meu secret\u00e1rio da Fazenda, que se continu\u00e1ssemos pagando aquilo que \u2018eles\u2019 deixaram, n\u00e3o ir\u00edamos cumprir o nosso ano.\u00a0 Se n\u00e3o tivesse pago nada de 2017 o d\u00e9ficit seria ainda menor, de R$ 200 milh\u00f5es. Mas paguei, e em v\u00e1rios setores, como sa\u00fade, sistema prisional. Com isso vamos entregar o governo com R$ 700 milh\u00f5es de d\u00e9ficit, fora as d\u00edvidas de anos anteriores. E isso \u00e9 uma grande interroga\u00e7\u00e3o, porque tem as d\u00edvidas que est\u00e3o empenhadas e aquelas que s\u00e3o notas assinadas de recebimento de servi\u00e7os prestados, mas que est\u00e3o \u2018na gaveta\u2019, e que n\u00e3o foram nem emprenhadas ainda. E isso \u00e9 incalcul\u00e1vel.<\/p>\n

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ADI\/Adjori – Qual a proje\u00e7\u00e3o de valores para 2019 quanto ao endividamento do Estado?<\/strong><\/p>\n

Moreira – Santa Catarina vai pagar em d\u00edvida p\u00fablica at\u00e9 o final deste ano R$ 1,9 bilh\u00e3o. Essa \u00e9 uma d\u00edvida com o governo federal e o sistema banc\u00e1rio. Para 2019 esse valor deve passar de R$ 2 bilh\u00f5es. Al\u00e9m disso tem o d\u00e9ficit previdenci\u00e1rio, que dever\u00e1 chegar a R$ 3,6 bilh\u00f5es. De tudo o que arrecadamos com a previd\u00eancia, todos os meses ficam faltando R$ 300 milh\u00f5es.<\/p>\n

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ADI\/Adjori – Diante de um cen\u00e1rio como este, e se o senhor assumisse um novo mandato a partir do pr\u00f3ximo ano, qual seria a primeira medida?<\/strong><\/p>\n

Moreira – O enxugamento da m\u00e1quina p\u00fablica. Conten\u00e7\u00e3o e controle absoluto dos gastos p\u00fablicos. Para onde vai o dinheiro, porque vai, qual a consequ\u00eancia desse recurso e o que \u00e9 que essa medida vai gerar. Controle rigoroso nas obras p\u00fablicas, que muitas vezes s\u00e3o de baixa qualidade e acabam tendo que ser refeitas em pouco tempo.<\/p>\n

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ADI\/Adjori – Ainda \u00e9 poss\u00edvel enxugar? Em quais setores?<\/strong><\/p>\n

Moreira – As sa\u00eddas de dinheiro. S\u00e3o poucas fontes de entrada com muitas formas de sair. Por exemplo, do jeito que est\u00e3o, as Secretarias Regionais perderam a raz\u00e3o de existir. Elas foram esvaziadas em suas fun\u00e7\u00f5es por decis\u00e3o do ent\u00e3o governador Raimundo Colombo e sua equipe. N\u00e3o est\u00e3o mais cumprindo o que o Luiz Henrique idealizou l\u00e1 atr\u00e1s, que era de levar o governo para pr\u00f3ximo do cidad\u00e3o. Essas estruturas s\u00e3o, hoje, uma sa\u00edda de dinheiro, com alugu\u00e9is de ve\u00edculos, pr\u00e9dios, pagamento de manuten\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

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ADI\/Adjori – O senhor assumiu o cargo de governador em fevereiro de 2018, ap\u00f3s a sa\u00edda de Raimundo Colombo. Antes disso, era vice-governador. N\u00e3o conhecia a real situa\u00e7\u00e3o das contas do Estado?<\/strong><\/p>\n

Moreira – N\u00e3o faz\u00edamos parte do n\u00facleo de governo. Quem administrava a Sa\u00fade? Era a Secretaria da Fazenda. Criaram uma Secretaria Adjunta da Sa\u00fade para colocar um cara da Fazenda. Ent\u00e3o, \u2018eles\u2019 tinham controle absoluto, e n\u00f3s n\u00e3o t\u00ednhamos acesso aos dados. Claro, se entrasse no Portal da Transpar\u00eancia tinha acesso \u00e0s informa\u00e7\u00f5es, mas n\u00e3o t\u00ednhamos acesso ao n\u00facleo, ao \u00e2mago da quest\u00e3o, no dia a dia. Coisa que s\u00f3 viemos a ter depois que assumimos a Secretaria da Fazenda. E mesmo assim somos surpreendidos todos os dias. O governo \u00e9 muito \u2018grande\u2019, \u00e9 de uma complexidade impressionante. E isso precisa acabar. A burocracia predisp\u00f5e esse tipo de desconhecimento. \u00c9 t\u00e3o confuso que o acesso \u00e9 dif\u00edcil. A administra\u00e7\u00e3o p\u00fablica precisa passar por uma rediscuss\u00e3o para torna-la mais intelig\u00edvel para a popula\u00e7\u00e3o e para os gestores.<\/p>\n

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ADI\/Adjori – O senhor considera que h\u00e1 um desequil\u00edbrio financeiro grave no Estado? Isso compromete a capacidade de fazer investimentos?<\/strong><\/p>\n

Moreira – Vamos ter uma receita l\u00edquida de aproximadamente R$ 20 bilh\u00f5es em 2018. S\u00f3 que para ter dinheiro para investir, teremos que buscar financiamento. Conseguimos um financiamento para o acesso ao aeroporto. A SC 401 tem que \u2018fazer\u2019. A obra t\u00e1 licitada h\u00e1 mais de um ano, mas n\u00e3o foi dada a ordem de servi\u00e7o at\u00e9 hoje porque n\u00e3o tem dinheiro. Foi licitada a duplica\u00e7\u00e3o ao acesso \u00e0 \u00e1rea industrial de Joinville. S\u00f3 que n\u00e3o tem dinheiro em caixa. Se tirar dinheiro do caixa para fazer essas obras, n\u00e3o consegue pagar a folha. Ou investe, ou mant\u00e9m as contas em dia.<\/p>\n

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ADI\/Adjori – O senhor falou que um dos chamados \u2018esqueletos\u2019 que est\u00e3o no arm\u00e1rio do governo \u00e9 a SC-401. Qual o valor disso? Que outros problemas podem surpreender o pr\u00f3ximo governador?<\/strong><\/p>\n

Moreira – N\u00e3o sei o valor que est\u00e1 hoje essa situa\u00e7\u00e3o da SC-401. Mas com certeza ser\u00e1 necess\u00e1rio fazer um acordo. Esses \u2018esqueletos\u2019 que o Merisio colocou na campanha, querendo atingir o MDB, mas errou de alvo, n\u00e3o passam, por enquanto, de expectativas de direito. N\u00e3o \u00e9 d\u00edvida ainda porque est\u00e1 judicializado. Pode ser que a Justi\u00e7a julgue a favor do Estado ou daquele que se diz credor.<\/p>\n

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ADI\/Adjori – Sobre privatiza\u00e7\u00f5es no Estado. Qual a sua opini\u00e3o?<\/strong><\/p>\n

Moreira – Celesc e Casan, esquece. Celesc vai bem, d\u00e1 lucro e bons dividendos. Infelizmente a empresa teve um erro hist\u00f3rico, de 50 anos atr\u00e1s, quando n\u00e3o investiu na gera\u00e7\u00e3o e na transmiss\u00e3o, ficando s\u00f3 com a distribui\u00e7\u00e3o de energia. E a Casan s\u00f3 n\u00e3o deu lucro porque passou por um PDVI pesado (Programa de Demiss\u00e3o Volunt\u00e1ria Incentivada). Mas no ano que vem vai dar um lucro de R$ 200 milh\u00f5es, ou at\u00e9 mais. Privatizaria o Porto de S\u00e3o Francisco, o de Imbituba, o de Itaja\u00ed, que \u00e9 administrado pelo munic\u00edpio.<\/p>\n

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ADI\/Adjori – Podem vir da\u00ed os recursos para o futuro governador gerar receita?<\/strong><\/p>\n

Moreira – N\u00e3o s\u00f3. Onde \u00e9 que o Mois\u00e9s vai buscar dinheiro no primeiro ano? Na venda de ativos do Estado. O Estado de Santa Catarina \u00e9 um grande propriet\u00e1rio de bens im\u00f3veis. Propriedades que valem fortunas. S\u00f3 para citar exemplos da Grande Florian\u00f3polis, n\u00f3s temos o Sapiens Parque, em uma regi\u00e3o que est\u00e1 se desenvolvendo muito. Se tiver a possibilidade de se estabelecer uma parceria p\u00fablico-privada, vir\u00e1 um grande retorno. Temos a \u00e1rea do Ceasa, com 40 hectares na beira da BR-101. Estou citando s\u00f3 dois exemplos, mas o Estado tem propriedades em todos os munic\u00edpios. O valor que pode sair dessas vendas \u00e9 muito grande.<\/p>\n

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Por Andr\u00e9a Leonora (ADI-SC) e Douglas Rossi (Adjori-SC)<\/p>\n

Fotos: Jaqueline Noceti\/Secom<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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