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{"id":149640,"date":"2019-05-22T09:54:00","date_gmt":"2019-05-22T12:54:00","guid":{"rendered":"https:\/\/oatlantico.com.br\/?p=149640"},"modified":"2019-05-22T09:54:00","modified_gmt":"2019-05-22T12:54:00","slug":"bilionario-se-muda-para-rr-e-ajuda-venezuelanos-que-chegam-ao-brasil","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/oatlantico.com.br\/bilionario-se-muda-para-rr-e-ajuda-venezuelanos-que-chegam-ao-brasil\/","title":{"rendered":"Bilion\u00e1rio se muda para RR e ajuda venezuelanos que chegam ao Brasil"},"content":{"rendered":"

Volunt\u00e1rio em Boa Vista, Carlos Wizard foi respons\u00e1vel por interiorizar 25% dos venezuelanos que foram encaminhados para outros estados: ‘Somos 200 milh\u00f5es de habitantes no Brasil. Ser\u00e1 que n\u00e3o conseguimos dar conta de 20 mil refugiados?’.<\/p>\n

Se n\u00e3o fosse pelo palet\u00f3 e o nome conhecido mundo afora, talvez o bilion\u00e1rio Carlos Wizard Martins, de 62 anos, passasse despercebido ao caminhar pelo Posto de Triagem da Opera\u00e7\u00e3o Acolhida, principal estrutura destinadas a assistir venezuelanos rec\u00e9m-chegados a Boa Vista (RR). \u00c9 sua rotina h\u00e1 nove meses.<\/p>\n

Mission\u00e1rio m\u00f3rmon da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos \u00daltimos Dias, que frequenta desde a juventude, ele foi designado junto com a esposa, V\u00e2nia Martins, 60, a participar de a\u00e7\u00e3o humanit\u00e1ria no estado. Se mudou em agosto passado e se divide entre constantes viagens a S\u00e3o Paulo, para cuidar dos neg\u00f3cios pessoais, e Bras\u00edlia, onde dialoga com o governo federal sobre a migra\u00e7\u00e3o venezuelana.<\/p>\n

O principal trabalho que faz em Roraima \u00e9 na interioriza\u00e7\u00e3o de venezuelanos. Ele encabe\u00e7a um grupo de volunt\u00e1rios que atua na transfer\u00eancia de imigrantes rec\u00e9m-chegados a outras partes do pa\u00eds e tamb\u00e9m articula empregos nas cidades de destino. Desde abril de 2018 seu grupo j\u00e1 levou 25% do total de venezuelanos interiorizados pela opera\u00e7\u00e3o Acolhida, criada em fevereiro de 2018 para lidar com o fluxo migrat\u00f3rio de venezuelanos em Roraima.<\/p>\n

As viagens s\u00e3o feitas em voos comerciais a custo zero desde o ano passado, gra\u00e7as a um acordo que ele pr\u00f3prio costurou com as companhias Latam, Azul e Gol que prev\u00ea uso de assentos desocupados. No m\u00eas passado, 525 venezuelanos viajaram dessa forma.<\/p>\n

\u201cDiariamente levamos as pessoas ao aeroporto. Temos uma equipe de apoio e \u00e0s vezes levamos pessoas at\u00e9 no meu carro”, explica o bilion\u00e1rio que j\u00e1 visitou 45 pa\u00edses, mas nunca esteve na Venezuela e pela primeira vez atua diretamente no acolhimento de refugiados.<\/p>\n

\u201cMinha rotina \u00e9 simples. N\u00f3s recebemos as fam\u00edlias, cadastramos, identificamos pessoas em outras partes do pa\u00eds que possam acolh\u00ea-las, trabalhamos com as empresas a\u00e9reas e acompanhamos essas fam\u00edlias at\u00e9 o aeroporto. Enquanto a fam\u00edlia n\u00e3o chega l\u00e1 no seu destino a gente se preocupa com ela\u201d.<\/p>\n

Ele explica que o objetivo do trabalho que lidera \u00e9 mais do que assistencialismo ou tutela e quer ampli\u00e1-lo com ajuda de mais empres\u00e1rios e l\u00edderes religiosos do Brasil. Na semana passada, se reuniu com a ministra Mulher, da Fam\u00edlia e dos Direitos Humanos, Damares Alves, para dialogar sobre a cria\u00e7\u00e3o de um comit\u00ea inter-religioso de acolhimento aos refugiados.<\/p>\n

“De nada adianta eu tirar um imigrante da rua aqui em Roraima e deix\u00e1-lo na rua em S\u00e3o Paulo. Eu n\u00e3o vou resolver o problema dele dessa forma. Ent\u00e3o, felizmente, temos conseguido dentro de 30 a 60 dias que eles chegam aos locais consigam trabalho com carteira assinada e todos os benef\u00edcios de um trabalhador”, afirma Wizard.<\/p>\n

Ele explica que os imigrantes n\u00e3o saem de Roraima com emprego garantido, mas chegam \u00e0s diversas cidades e s\u00e3o encaminhados ao mercado de trabalho com o apoio da comunidade local da igreja. Entre os que j\u00e1 foram levados h\u00e1 quem conseguiu trabalho como mec\u00e2nico, t\u00e9cnico em refrigera\u00e7\u00e3o, professor de espanhol e marceneiros. Alguns trabalham at\u00e9 mesmo em suas empresas.<\/p>\n

\u201cN\u00e3o queremos enviar algu\u00e9m para ficar dependente. Todo nosso trabalho est\u00e1 baseado na autossufici\u00eancia. N\u00f3s queremos dar condi\u00e7\u00f5es para as pessoas caminharem com suas pr\u00f3prias pernas\u201d.<\/p>\n

J\u00e1 foram 2.443 mil pessoas interiorizadas pelo projeto que ele encabe\u00e7a para estados como Santa Catarina, Paran\u00e1, S\u00e3o Paulo e Minas Gerais, segundo o coronel Alexandre Carvalhaes, chefe da Interioriza\u00e7\u00e3o da For\u00e7a Tarefa Log\u00edstica Humanit\u00e1ria, que executa a opera\u00e7\u00e3o Acolhida.<\/p>\n

Fora as interioriza\u00e7\u00f5es organizadas pelo bilion\u00e1rio, outras 7.304 mil pessoas foram levadas a outros estados, inclusive em voos da FAB, que come\u00e7aram a transportar venezuelanos a outras partes do Brasil tamb\u00e9m a partir de abril. O n\u00famero inclui ainda outras institui\u00e7\u00f5es religiosas que tamb\u00e9m ofertam viagens aos imigrantes e integram a rede da opera\u00e7\u00e3o Acolhida, que al\u00e9m das For\u00e7as Armadas \u00e9 composta por ag\u00eancias da ONU, ONGs e sociedade civil.<\/p>\n

Na avalia\u00e7\u00e3o do coronel Carvalhaes, a interioriza\u00e7\u00e3o r\u00e1pida e organizada dos imigrantes \u00e9 a \u00fanica chave para desafogar Roraima em meio a um fluxo di\u00e1rio de 500 pessoas entrando diariamente pela fronteira em Pacaraima. Hoje se estima que 10 mil venezuelanos estejam em situa\u00e7\u00e3o de rua no estado, ainda que os 13 abrigos da opera\u00e7\u00e3o Acolhida recebam mais de 6,5 mil pessoas.<\/p>\n

\u201cSe a interioriza\u00e7\u00e3o n\u00e3o anda, \u00e9 colapso para Roraima. Isso vai se refletir nos atendimentos de sa\u00fade, nas escolas p\u00fablicas, numa s\u00e9rie de servi\u00e7os p\u00fablicos que o estado n\u00e3o tem preparo para absorver. N\u00f3s temos que diluir esses imigrantes pelo Brasil e n\u00e3o mant\u00ea-los concentrados aqui como est\u00e3o hoje e a forma de fazer isso \u00e9 com a interioriza\u00e7\u00e3o\u201d, explica. \u201cSem o trabalho do Carlos Wizard a opera\u00e7\u00e3o Acolhida sofreria um baque, porque ele est\u00e1 encabe\u00e7ando um movimento da sociedade civil que \u00e9 \u00fanico”.<\/p>\n

Conforme a Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas (ONU) desde 2015, cerca de 3,7 milh\u00f5es de pessoas deixaram a Venezuela e merecem prote\u00e7\u00e3o como refugiados em decorr\u00eancia da crise pol\u00edtica, econ\u00f4mica e social do pa\u00eds, que enfrenta infla\u00e7\u00e3o alta e desabastecimento. O Brasil \u00e9 o sexto pa\u00eds que mais recebe os venezuelanos.<\/p>\n

\u201cN\u00f3s temos pobres no Brasil? Com certeza temos. Em todas as cidades n\u00f3s temos. Mas um refugiado ele s\u00f3 tem a roupa do corpo e mais nada. Toda a estrutura de apoio que governo federal, estadual, municipal d\u00e1 ao nosso carente, n\u00e3o pode ser comparada \u00e0quele que acabou de chegar aqui na fronteira, com a roupa do corpo e \u00e0s vezes com bebezinho no colo\u201d, diz Wizard.<\/p>\n

‘Escondido em Roraima’<\/p>\n

Presidente do grupo Sforza, um conglomerado que tem mais de 20 empresas, entre elas a Mundo Verde, Pizza Hut, KFC, Taco Bell e Wise Up, o bilion\u00e1rio aparece na edi\u00e7\u00e3o de 2018 da lista da Forbes com uma fortuna de R$ 2,4 bilh\u00f5es.<\/p>\n

H\u00e1 seis anos ele vendeu, por quase R$ 2 bilh\u00f5es, o grupo Multi, que inclu\u00eda as escolas de ingl\u00eas Wizard e a rede profissionalizante Microlins. Foi a maior aquisi\u00e7\u00e3o em educa\u00e7\u00e3o j\u00e1 feita no pa\u00eds at\u00e9 ent\u00e3o.<\/p>\n

Com toda essa fortuna, o bilion\u00e1rio conhecido no mundo executivo como “mago dos neg\u00f3cios”, garante que tentou passar despercebido em Roraima, o estado com o menor PIB do Brasil, e conseguiu faz\u00ea-lo durante v\u00e1rios meses, mas com as constantes idas a Bras\u00edlia acabou sendo “descoberto”.<\/p>\n

Ainda assim, diz que \u00e9 um desconhecido entre aqueles que ajuda e afirma que lidando com refugiados se surpreende e se emociona todos os dias.<\/p>\n

\u201cTodo dia \u00e9 uma li\u00e7\u00e3o, especialmente de humildade. \u00c0s vezes vou at\u00e9 o aeroporto, eles pedem para a fam\u00edlia colocar a bagagem na balan\u00e7a e colocam um saco pl\u00e1stico com 5kg de peso. \u00c9 uma vida toda dentro de um saco pl\u00e1stico e a gente tem tanto. Uma vez minha esposa preparou um lanchinho para um passageiro e tinha uma ma\u00e7\u00e3. A pessoa se emocionou ao ver a ma\u00e7\u00e3 e contou que h\u00e1 tr\u00eas anos n\u00e3o sabia o que era comer uma ma\u00e7\u00e3. Voc\u00ea pode comer uma, duas, uma caixa de ma\u00e7\u00e3, mas para um refugiado comer uma ma\u00e7\u00e3 tem um significado diferente\u201d.<\/p>\n

O bilion\u00e1rio conta que j\u00e1 esteve na fronteira, em Pacaraima, e tomou conhecimento da situa\u00e7\u00e3o do estado em meio \u00e0 crise provocada pela chegada de milhares de pessoas. Ele e a esposa ficam na miss\u00e3o humanit\u00e1ria em Roraima at\u00e9 julho do ano que vem.<\/p>\n

\u201cCada dia \u00e9 uma hist\u00f3ria diferente. Tem uma que me marcou muito. Um imigrante de 40 anos chegou aqui com uma menininha de colo, de pouco mais de um ano. Ele perdeu a esposa atropelada na Venezuela e veio com a crian\u00e7a. O detalhe \u00e9 que ele \u00e9 deficiente visual. Voc\u00ea imagina ser uma pessoa cega, sem vis\u00e3o, carregando uma criancinha no colo? Ele foi ent\u00e3o para uma abrigo aqui e o maior medo dele era que algu\u00e9m levasse a menina embora. Minha esposa quando soube perguntou se ele n\u00e3o queria que a filha fosse adotada e ele disse que j\u00e1 havia perdido a esposa, que a nen\u00e9m era tudo o que ele tinha e iria cri\u00e1-la. Minha esposa conseguiu contato de uma institui\u00e7\u00e3o na cidade de Jata\u00ed [GO], que tem como fundador um deficiente visual que acolhe essas pessoas. Eles concordaram em receb\u00ea-los e, para nossa maior satisfa\u00e7\u00e3o e ao mesmo tempo emo\u00e7\u00e3o, descobrimos que a institui\u00e7\u00e3o ficava a uma quadra da Igreja de Jesus Cristo l\u00e1 na cidade\u201d.<\/p>\n

Para capitanear mais ajuda e alavancar a transfer\u00eancia de venezuelanos de Roraima para outros estados onde haja emprego, a rede de volunt\u00e1rios que ele lidera mant\u00e9m uma conta no WhatsApp: (019) 99955-9050.<\/p>\n

\u201cSe voc\u00ea for hoje na maternidade vai ver mais m\u00e3es venezuelanas dando \u00e0 luz do que brasileiras. Se for ao Hospital Geral de Roraima vai ver que os corredores est\u00e3o cheios de venezuelanos. As escolas j\u00e1 n\u00e3o t\u00eam mais vagas para p\u00f4r crian\u00e7as. Ent\u00e3o, a solu\u00e7\u00e3o n\u00e3o est\u00e1 em Roraima. A solu\u00e7\u00e3o est\u00e1 compartilhada em v\u00e1rios estados do Brasil\u201d.<\/p>\n

\u201cN\u00f3s somos 200 milh\u00f5es de habitantes no Brasil, ser\u00e1 que n\u00e3o conseguimos dar conta de 20 mil refugiados? Claro que conseguimos. Se cada um fizer sua pequena contribui\u00e7\u00e3o vai significar muito para aquele que n\u00e3o tem nada”.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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