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{"id":156858,"date":"2019-11-27T10:15:35","date_gmt":"2019-11-27T13:15:35","guid":{"rendered":"https:\/\/oatlantico.com.br\/?p=156858"},"modified":"2019-11-27T10:18:45","modified_gmt":"2019-11-27T13:18:45","slug":"human-rights-watch-denuncia-policiais-chilenos-por-graves-violacoes-dos-direitos-humanos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/oatlantico.com.br\/human-rights-watch-denuncia-policiais-chilenos-por-graves-violacoes-dos-direitos-humanos\/","title":{"rendered":"Human Rights Watch denuncia policiais chilenos por graves viola\u00e7\u00f5es dos direitos humanos"},"content":{"rendered":"Policiais arrastam a manifestante durante um protesto na segunda-feira em Santiago.REUTERS<\/figcaption><\/figure>\n
Os Carabineiros (pol\u00edcia uniformizada do Chile) cometeram \u201cgraves viola\u00e7\u00f5es dos direitos humanos\u201d ao longo de 40 dias de protestos sociais, disse a organiza\u00e7\u00e3o Human Rights Watch (HRW) nesta ter\u00e7a-feira em Santiago. As \u201cs\u00f3lidas provas\u201d colhidas pela ONG mostram \u201cpreocupantes den\u00fancias\u201d tanto de uso excessivo da for\u00e7a contra transeuntes e manifestantes como de abusos durante a deten\u00e7\u00e3o de cidad\u00e3os, incluindo surras brutais e abusos sexuais. O diretor para as Am\u00e9ricas da organiza\u00e7\u00e3o, Jos\u00e9 Miguel Vivanco, que se reuniu nesta manh\u00e3 com o presidente Sebasti\u00e1n Pi\u00f1era, fez um apelo por uma \u201curgente\u201d reforma da estrutura policial.<\/p>\n
\u00a0\u201cOs abusos durante o per\u00edodo de deten\u00e7\u00e3o e as graves les\u00f5es sofridas por centenas de manifestantes ocorreram em grande medida devido \u00e0s falhas estruturais em assegurar uma adequada supervis\u00e3o e responsabiliza\u00e7\u00e3o dos carabineiros por suas a\u00e7\u00f5es, que j\u00e1 ocorriam antes das manifesta\u00e7\u00f5es do \u00faltimo m\u00eas\u201d, diz a HRW em seu relat\u00f3rio. De acordo com Vivanco, as den\u00fancias \u201cn\u00e3o podem ficar impunes e devem ser pronta e rigorosamente investigadas e punidas\u201d.<\/p>\n
A ONG fala de um uso indiscriminado e indevido de armas e escopetas antimotins, “golpes ferozes” nos manifestantes, disparos com muni\u00e7\u00f5es tipo bean bag (balas de chumbo dentro de uma bolsa de tecido), cartuchos de gases lacrimog\u00eaneos dirigidos diretamente contra os manifestantes e atropelamentos com ve\u00edculos e motocicletas oficiais.<\/p>\n
\u201cOutra das acusa\u00e7\u00f5es mais frequentes foi que os carabineiros obrigaram detidos \u2014 incluindo meninos e meninas \u2014 a se despirem e fazer agachamentos totalmente nus em delegacias de pol\u00edcia.\u201d Embora se trate de uma pr\u00e1tica proibida desde mar\u00e7o passado, a ONG advertiu que isso ainda ocorre, inclusive desde antes das manifesta\u00e7\u00f5es. De acordo com a informa\u00e7\u00e3o do Minist\u00e9rio da Sa\u00fade reunida pela organiza\u00e7\u00e3o humanit\u00e1ria, at\u00e9 22 de novembro \u201cos servi\u00e7os de urg\u00eancia atenderam 11.564 pessoas feridas\u201d no contexto da eclos\u00e3o social, das quais 1.100 apresentavam les\u00f5es moderadas ou graves.<\/p>\n
Para a HRW, os protestos, que come\u00e7aram em 18 de outubro, \u201crefletem um descontentamento maci\u00e7o por profundas defici\u00eancias nos servi\u00e7os p\u00fablicos e a desigualdade econ\u00f4mica\u201d. Ap\u00f3s mais de 70 entrevistas feitas durante este m\u00eas \u2014 com v\u00edtimas, policiais, m\u00e9dicos, advogados, acad\u00eamicos, representantes da sociedade civil e altas autoridades do Estado e do Governo \u2014, a organiza\u00e7\u00e3o concluiu que \u201cos carabineiros feriram milhares de pessoas, independentemente de terem ou n\u00e3o participado de fatos violentos\u201d.<\/p>\n
Um assunto \u201cparticularmente alarmante\u201d foi o uso de escopetas antimotins que \u201cdisparam balas n\u00e3o letais de forma indiscriminada\u201d, segundo a HRW. Embora seu uso tenha sido suspenso na semana passada pelos Carabineiros, \u00e0 espera de relat\u00f3rios que determinem seu conte\u00fado, as autoridades agora acham duvidoso que se trate de balas de borracha, como afirmou a pol\u00edcia durante semanas. Essa muni\u00e7\u00e3o causou pelo menos 220 les\u00f5es oculares, de acordo com o Instituto Nacional de Direitos Humanos (INDH), um organismo independente e p\u00fablico.<\/p>\n
Les\u00f5es oculares<\/em><\/strong><\/p>\n
Em seu relat\u00f3rio, a ONG destaca que o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade noticiou que, das 220 pessoas lesionadas nos olhos, 16 tinham perdido a vis\u00e3o total de um olho, e 34 tinham sofrido ferimentos graves que poderiam resultar em perda de total ou parcial da vis\u00e3o. Para a organiza\u00e7\u00e3o humanit\u00e1ria, o uso das escopetas antimotins \u201cdeveria ser suspenso de forma indefinida em todas as circunst\u00e2ncias at\u00e9 que autoridades id\u00f4neas e independentes realizem uma ampla auditoria para determinar os riscos que acarretam\u201d.<\/p>\n
Uma das pessoas que perderam a vis\u00e3o total de um olho \u00e9 Marlene Morales, de 33 anos. Em 19 de outubro passado, ela se aproximou junto com sua filha, de 14 anos, de uma multid\u00e3o que estava perto da sua casa, em Santiago. Escutou disparos e sentiu o impacto de um proj\u00e9til no olho direito. \u201cPerdi a vis\u00e3o imediatamente. Tinha muito sangue\u201d, relatou \u00e0 HRW. Para a organiza\u00e7\u00e3o, o fato de alguns feridos terem sido atingidos por m\u00faltiplos disparos, \u201csugere que a pol\u00edcia atirou de perto\u201d. Foi o caso de uma estudante secundarista do Liceu 7 do distrito de Providencia, na capital chilena. A jovem recebeu quase 10 disparos no seu corpo durante uma invas\u00e3o policial da escola em 5 de novembro.<\/p>\n
O relat\u00f3rio do HRW recorda que o INDH apresentou 442 questionamentos, e 341 se referem a delitos como torturas e maus tratos, e outras 74 a den\u00fancias de abusos sexuais. Em 21 de outubro, cadetes da Marinha detiveram uma mulher de 39 anos na cidade costeira de Valpara\u00edso. \u201cOs agentes a arrastaram<\/u> pelos cabelos, a atiraram no ch\u00e3o e lhe deram golpes nas costas com suas armas. Mandaram que andasse como um cachorro enquanto lhe apontavam suas armas, at\u00e9 chegar a uma parte da rua onde corria \u00e1gua, e ali lhe disseram para que se arrastasse como um verme\u201d, denuncia a ONG.<\/p>\n
Viol\u00eancia contra mulheres<\/em><\/strong><\/p>\nDe acordo com Instituto Nacional de Direitos Humanos, h\u00e1 79 den\u00fancias de viol\u00eancia sexual contra a pol\u00edcia chilena durante os protestos<\/figcaption><\/figure>\n
A pr\u00e1tica de exigir que os detidos se dispam nas delegacias afeta sobretudo mulheres e meninas, segundo a HRW. Xiomara Aguilar, de 18 anos, foi detida nos primeiros dias dos protestos. Na delegacia, junto com uma amiga, \u201cas obrigaram a se despir e a fazer agachamentos completamente nuas\u201d. \u201cUma advogada de direitos humanos nos contou outros casos em que os carabineiros tocaram os genitais das mulheres ap\u00f3s obrig\u00e1-las a tirar a roupa\u201d, acrescenta o relat\u00f3rio. O INDH tamb\u00e9m documentou casos de amea\u00e7a de estupro, assim como a viola\u00e7\u00e3o sexual de quatro homens.<\/p>\n
\u201cFaziam-me gritar muito forte: \u2018Sou viado\u2019\u201d, relatou Josu\u00e9 Maureira. O jovem de 21 anos usava as unhas pintadas e cal\u00e7as justas quando foi detido, em 21 de outubro, num supermercado que tinha sido saqueado em Santiago, conforme contou \u00e0 HRW. Uma vez na delegacia, cinco carabineiros o violentaram com um cassetete.<\/p>\n
A organiza\u00e7\u00e3o humanit\u00e1ria indica que, embora a maioria dos manifestantes tenha agido de maneira pac\u00edfica, nestas quatro semanas “alguns grupos” cometeram \u201cgraves atos de viol\u00eancia\u201d, como ataques a carabineiros e delegacias com pedras e coquet\u00e9is molotov, saques e queima de bens p\u00fablicos e privados.<\/p>\n
A HRW entrevistou policiais feridos que, segundo a institui\u00e7\u00e3o, chegam a 1.896 agentes. Deles, 127 apresentam les\u00f5es graves, inclu\u00eddos cinco que perderam parcial ou totalmente a vis\u00e3o. A ONG afirma que foram mobilizados 20.000 dos 60.000 carabineiros chilenos para responder \u00e0s manifesta\u00e7\u00f5es em todo o pa\u00eds \u2014 dos quais apenas 1.400 s\u00e3o especialistas das For\u00e7as Especiais \u2014, colocando na rua inclusive policiais dedicados a trabalhos administrativos, ap\u00f3s receberem uma capacita\u00e7\u00e3o de apenas um dia. Nestes 40 dias, trabalharam em turnos de at\u00e9 16 horas, em vez de 8, \u201csem tirar folgas nem ganhar horas extras\u201d.<\/p>\n
O Minist\u00e9rio P\u00fablico chileno investiga 26 mortes, incluindo cinco supostamente cometidas por a\u00e7\u00e3o de agentes do Estado. Os promotores questionam o caso de um manifestante que morreu depois de “supostamente receber uma surra de carabineiros na rua”, indica a HRW. S\u00e3o investigadas tamb\u00e9m as mortes de “outras tr\u00eas pessoas que teriam recebido disparos letais por militares e de uma pessoa que foi atropelada por um ve\u00edculo de Infantaria da Marinha”, informa o relat\u00f3rio da organiza\u00e7\u00e3o humanit\u00e1ria.<\/p>\n
Paralelamente, indica a ONG, socorristas informaram que um manifestante com uma doen\u00e7a card\u00edaca “morreu por n\u00e3o poder receber atendimento de emerg\u00eancia adequado, porque alguns carabineiros usaram armas contra manifestantes e profissionais da sa\u00fade que o estavam atendendo” no epicentro dos protestos, a pra\u00e7a Baquedano, em Santiago. Os promotores chilenos investigam, enquanto isso, as mortes de outros dois homens que estavam sob cust\u00f3dia dos carabineiros, em casos atualmente tratados como suic\u00eddios.<\/p>\n
A HRW tomou conhecimento de que pelo menos outras 18 pessoas morreram em inc\u00eandios durante saques, foram atropelados por ve\u00edculos particulares durante as manifesta\u00e7\u00f5es ou morreram por outras causas sem que haja provas “at\u00e9 o momento” de envolvimento de agentes p\u00fablicos.<\/p>\n<\/blockquote>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
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