A combina\u00e7\u00e3o de intelig\u00eancia artificial e o estudo de mol\u00e9culas ligadas ao processo de ac\u00famulo de gordura no organismo levou pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolverem uma tecnologia capaz de identificar se uma pessoa tem predisposi\u00e7\u00e3o para engordar e desenvolver doen\u00e7as como diabete e hipertens\u00e3o. Com mais de 95% de precis\u00e3o, o m\u00e9todo pode ser usado mesmo que o paciente n\u00e3o seja obeso e funciona como uma estrat\u00e9gia para que ele receba orienta\u00e7\u00f5es para mudar o estilo de vida antes de apresentar o quadro.<\/p>\n

A nova t\u00e9cnica utiliza um software que foi treinado para identificar a presen\u00e7a de mol\u00e9culas capazes de predizer se uma pessoa pode desenvolver o excesso de peso e doen\u00e7as associadas. A tecnologia l\u00ea os resultados de an\u00e1lises de amostras de sangue feitas por um equipamento chamado espectr\u00f4metro de massas, que faz o mapeamento das mol\u00e9culas.<\/p>\n

“Na minha tese de doutorado, decidimos fazer um estudo de biomarcadores de ganho de peso por metabol\u00f4mica, que \u00e9 o estudo das pequenas mol\u00e9culas de um organismo, do produto final do metabolismo do nosso corpo. O grande diferencial desse trabalho \u00e9 a utiliza\u00e7\u00e3o de t\u00e9cnicas da intelig\u00eancia artificial para chegar ao biomarcador”, explica Fl\u00e1via Lu\u00edsa Dias Audibert, nutricionista e doutoranda da Faculdade de Ci\u00eancias M\u00e9dicas da Unicamp.<\/p>\n

Dos 18 biomarcadores analisados, cinco se enquadraram no perfil do estudo: quatro s\u00e3o ligados a processos inflamat\u00f3rios e produ\u00e7\u00e3o de radicais livres e um de diabete relacionada com quadros de obesidade.<\/p>\n

“A inflama\u00e7\u00e3o j\u00e1 est\u00e1 bem descrita na literatura como um processo relacionado \u00e0 obesidade. O ganho de peso \u00e9 um processo inflamat\u00f3rio de baixo grau, n\u00e3o \u00e9 como quando se tem uma bact\u00e9ria. N\u00e3o \u00e9 vis\u00edvel e n\u00e3o tem sintomas, como febre. Os radicais livres t\u00eam a mesma rela\u00e7\u00e3o e, al\u00e9m disso, est\u00e3o ligados com o envelhecimento.”<\/p>\n

Segundo Fl\u00e1via, os dados de 180 pacientes, entre pessoas com peso normal e acima do peso, foram utilizados para “treinar” o software. “A precis\u00e3o de acerto desses biomarcadores \u00e9 de 96%. Para esse modelo, quanto mais amostras receber, mais preciso ele fica”, diz Fl\u00e1via.<\/p>\n

Os resultados da pesquisa, que recebeu incentivo da Funda\u00e7\u00e3o de Amparo \u00e0 Pesquisa do Estado de S\u00e3o Paulo (Fapesp), foram publicados na revista Frontiers in Bioengineering and Biotechnology.<\/p>\n

Futuro<\/strong><\/h2>\n

Diante do aumento no Brasil da obesidade e doen\u00e7as associadas – como diabete e hipertens\u00e3o -, o m\u00e9todo pode ser um aliado na preven\u00e7\u00e3o desses casos.<\/p>\n

“\u00c9 uma ferramenta de apoio para a interven\u00e7\u00e3o nutricional e o cuidado cl\u00ednico. Sabemos que parte da popula\u00e7\u00e3o est\u00e1 obesa, e isso tem um peso muito grande na sa\u00fade p\u00fablica.”<\/p>\n

Em julho do ano passado, o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade apresentou um levantamento que apontou aumento de 67,8% no n\u00famero de pessoas obesas no per\u00edodo de 2006 a 2018 no Pa\u00eds. Em 2018, 19,8% da popula\u00e7\u00e3o era considerada obesa.<\/p>\n

Os dados, da Pesquisa de Vigil\u00e2ncia de Fatores de Risco e Prote\u00e7\u00e3o para Doen\u00e7as Cr\u00f4nicas por Inqu\u00e9rito Telef\u00f4nico (Vigitel), mostraram ainda que mais da metade da popula\u00e7\u00e3o est\u00e1 acima do peso (55,7%).<\/p>\n

Segundo relat\u00f3rio de 2019 da Federa\u00e7\u00e3o Internacional de Diabete, h\u00e1 16,8 milh\u00f5es de pessoas de 20 a 79 anos que vivem com a condi\u00e7\u00e3o no Brasil.<\/p>\n

Fl\u00e1via estima que, com investimento p\u00fablico e privado na tecnologia, \u00e9 poss\u00edvel que a t\u00e9cnica esteja dispon\u00edvel para a popula\u00e7\u00e3o em cinco anos.<\/p>\n

Mesmo assim, o grupo j\u00e1 liberou os c\u00f3digos do programa para download gratuito. “Qualquer pesquisador que tenha acesso a um espectr\u00f4metro de massa pode fazer a an\u00e1lise de dados.”<\/p>\n

Coordenador do trabalho, Rodrigo Ramos Catharino, que \u00e9 professor da Faculdade de Ci\u00eancias Farmac\u00eauticas da Unicamp, explica que o teste utiliza t\u00e9cnicas que podem ser adotadas com as tecnologias dispon\u00edveis e poderiam ser utilizadas tanto na rede privada quanto no Sistema \u00danico de Sa\u00fade (SUS).<\/p>\n

“A gente sempre pensa em devolver para a sociedade o que a gente recebe. Estamos preocupados com a qualidade de vida das pessoas que ganham peso, e n\u00e3o h\u00e1 nada parecido no mercado. Desenvolvemos coisas simples e aplic\u00e1veis para que as pesquisas cheguem \u00e0s pessoas, para que a tecnologia brasileira chegue e beneficie a popula\u00e7\u00e3o”, afirma Catharino, que tamb\u00e9m \u00e9 coordenador Laborat\u00f3rio Innovare de Biomarcadores da universidade.<\/p>\n

Fonte: Terra<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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