Nesta \u00faltima quarta-feira (14), 80 pesquisadores de v\u00e1rios pa\u00edses divulgaram uma carta em que apontam a imunidade de rebanho para a Covid-19 como sendo \u201cuma fal\u00e1cia perigosa n\u00e3o suportada por evid\u00eancias cient\u00edficas\u201d. O documento, publicado no peri\u00f3dico The Lancet, \u00e9 assinado por especialistas em sa\u00fade p\u00fablica, epidemiologia, medicina, pediatria, sociologia, virologia, doen\u00e7as infecciosas, sistemas de sa\u00fade, psicologia, psiquiatria, pol\u00edtica de sa\u00fade e modelagem matem\u00e1tica.<\/p>\n

“\u00c9 fundamental agir decisiva e urgentemente”, escrevem os pesquisadores. “Medidas eficazes para suprimir e controlar a transmiss\u00e3o precisam ser amplamente implementadas e devem ser apoiadas por programas financeiros e sociais que incentivem respostas da comunidade e abordem as desigualdades que foram ampliadas pela pandemia.”<\/p>\n

O apelo \u00e9 especialmente voltado \u00e0s regi\u00f5es que est\u00e3o enfrentando uma segunda onda de infec\u00e7\u00f5es pelo novo coronav\u00edrus. Al\u00e9m disso, os cientistas chamam aten\u00e7\u00e3o para aqueles locais em que o n\u00famero de casos de Covid-19 n\u00e3o variou muito desde o in\u00edcio da pandemia.<\/p>\n

“Restri\u00e7\u00f5es cont\u00ednuas provavelmente ser\u00e3o necess\u00e1rias no curto prazo, para reduzir a transmiss\u00e3o e consertar sistemas ineficazes de resposta \u00e0 pandemia, a fim de evitar bloqueios futuros”, afirma o documento. “O objetivo dessas restri\u00e7\u00f5es \u00e9 suprimir com efic\u00e1cia as infec\u00e7\u00f5es por Sars-CoV-2 a n\u00edveis baixos que permitam a detec\u00e7\u00e3o r\u00e1pida de surtos localizados e uma resposta \u00e1gil por meio de sistemas eficientes e abrangentes de localiza\u00e7\u00e3o, testagem, rastreamento, isolamento e suporte, para que a vida possa retornar ao pr\u00f3ximo normal sem a necessidade de restri\u00e7\u00f5es generalizadas.”<\/p>\n

Os especialistas tamb\u00e9m explicam que a transmiss\u00e3o descontrolada entre os mais jovens traz riscos de sa\u00fade e morte significativos em toda a popula\u00e7\u00e3o. Por isso, ressaltam que s\u00e3o necess\u00e1rios esfor\u00e7os especiais para proteger os mais vulner\u00e1veis e que, para funcionarem, devem ser acompanhados de estrat\u00e9gias multifacetadas em n\u00edvel populacional. “A prote\u00e7\u00e3o de nossas economias est\u00e1 intimamente ligada ao controle da Covid-19”, pontuam os cientistas. “Devemos proteger nossa for\u00e7a de trabalho e evitar incertezas a longo prazo.”<\/p>\n

Eles tamb\u00e9m afirmam que n\u00e3o h\u00e1 evid\u00eancias de que aqueles que j\u00e1 tiveram a doen\u00e7a tenham imunidade protetora duradoura ao Sars-CoV-2, e alertam que ter apenas uma imunidade decrescente ao novo coronav\u00edrus n\u00e3o encerraria a pandemia de Covid-19, mas resultaria em ondas repetidas de transmiss\u00e3o ao longo de v\u00e1rios anos. Esse fen\u00f4meno, por sua vez, poderia colocar popula\u00e7\u00f5es vulner\u00e1veis \u200b\u200bem risco indefinido.<\/p>\n

Isso porque, conforme j\u00e1 foi observado anteriormente com outras doen\u00e7as, estrat\u00e9gias de imunidade de rebanho baseadas em infec\u00e7\u00f5es que ocorrem naturalmente, isto \u00e9, passando de uma pessoa para outra, resultaram em epidemias recorrentes. O ideal, portanto, \u00e9 suprimir a dissemina\u00e7\u00e3o do v\u00edrus at\u00e9 a vacina\u00e7\u00e3o de boa parcela da popula\u00e7\u00e3o global.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, os autores alertam que as abordagens de imunidade de rebanho baseadas em infec\u00e7\u00f5es naturais podem impactar a for\u00e7a de trabalho como um todo e sobrecarregar a capacidade dos sistemas de sa\u00fade de fornecer cuidados agudos e de rotina.<\/p>\n

“A evid\u00eancia \u00e9 muito clara: controlar a dissemina\u00e7\u00e3o da Covid-19 pela comunidade \u00e9 a melhor maneira de proteger nossas sociedades e economias at\u00e9 que vacinas e terapias seguras e eficazes cheguem nos pr\u00f3ximos meses. N\u00e3o podemos permitir distra\u00e7\u00f5es que minem uma resposta eficaz; \u00e9 essencial que ajamos com urg\u00eancia com base nas evid\u00eancias”, concluem os pesquisadores.<\/p>\n

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