Em 2020, os brasileiros voltaram a ocupar o topo da lista dos que mais obtiveram, do governo de Portugal, autoriza\u00e7\u00f5es para viver no pa\u00eds. Dados preliminares que o SEF (Servi\u00e7o de Estrangeiros e Fronteiras) portugu\u00eas revelam que, de 117,5 mil novos t\u00edtulos de resid\u00eancia emitidos no ano passado, 41,99 mil (35,7%) foram entregues a brasileiros.<\/p>\n

Em seguida, com 13,16 mil (11,2%) solicita\u00e7\u00f5es, v\u00eam os cidad\u00e3os do Reino Unido \u2013 conjunto de pa\u00edses que re\u00fane a Inglaterra, Esc\u00f3cia, Pa\u00eds de Gales e Irlanda do Norte e que, em janeiro de 2020, deixou oficialmente a Uni\u00e3o Europeia. Na sequ\u00eancia v\u00eam os indianos, com 7,017 mil (6%) solicita\u00e7\u00f5es, angolanos, com 4,82 (4,1%) mil, e italianos, com 4,48 mil (3,8%).<\/p>\n

Os pedidos de novos t\u00edtulos de resid\u00eancia feitos por brasileiros representam cerca de 36% do total j\u00e1 apurado. Por ora, \u00e9 um total inferior aos 48,79 mil t\u00edtulos concedidos a brasileiros em 2019 – antes de Portugal ser afetado pela crise decorrente da pandemia de covid-19 que, segundo o INE (Instituto Nacional de Estat\u00edstica), levou o PIB (Produto Interno Bruto) a encolher 7,6% durante o ano passado. Ainda assim, o resultado revela que, mesmo em meio \u00e0 crise, muitos brasileiros continuam optando por viver em Portugal.<\/p>\n

Para a ex-professora P\u00e2mela Fumagalli Machado da Silveira, 38 anos, a seguran\u00e7a e o clima pesaram na decis\u00e3o de se mudar de Primavera do Leste (MT) para Barreiro, a cerca de 40 quil\u00f4metros de Lisboa. Embora tenha cidadania italiana \u2013 o que facilita o ingresso dela, do marido e de seus dois filhos, de 18 e 10 anos, em qualquer pa\u00eds da Comunidade Europeia \u2013 P\u00e2mela e a fam\u00edlia optaram por Portugal. Se mudaram em novembro de 2020, ap\u00f3s obter o t\u00edtulo de resid\u00eancia. E, no in\u00edcio, enfrentaram algumas das dificuldades que a maioria dos imigrantes enfrenta, mesmo estando em situa\u00e7\u00e3o legal.<\/p>\n

\u201cNo Brasil eu dava aulas em escolas particulares e meu marido trabalhava na \u00e1rea de Tecnologia da Informa\u00e7\u00e3o [TI]. Aqui, nos primeiros meses, tivemos que trabalhar em restaurantes, em servi\u00e7os muito puxados. Agora, meu marido j\u00e1 conseguiu trabalho no setor dele, mas eu estou trabalhando com costura e artesanato que, felizmente, s\u00e3o coisas de que eu sempre gostei\u201d, contou P\u00e2mela, garantindo que a fam\u00edlia n\u00e3o se arrepende da decis\u00e3o.<\/p>\n

\u201cV\u00ednhamos planejando nos mudar j\u00e1 h\u00e1 alguns anos. Escolhemos Portugal em fun\u00e7\u00e3o da qualidade de vida, pois sab\u00edamos que esse n\u00e3o \u00e9 um pa\u00eds para ganhar dinheiro, mas que oferece seguran\u00e7a e que, por receber muitos imigrantes, \u00e9 mais receptivo que outros da Europa. Al\u00e9m disso, para n\u00f3s brasileiros, h\u00e1 a facilidade da l\u00edngua\u201d, lembrou a brasileira, acrescentando que h\u00e1 tamb\u00e9m outro lado, de adversidades e desafios, que se agravou com a pandemia.<\/p>\n

\u201cN\u00e3o conhe\u00e7o quem tenha decidido voltar ao Brasil, mas sim pessoas que falam que cogitam fazer isso, que dizem estar no limite. Quem trabalha de casa, como o meu marido e eu, est\u00e1 se mantendo. Estamos h\u00e1 meses praticamente fechados em casa. J\u00e1 quem trabalhava em restaurantes, bares, clubes, em muitos dos servi\u00e7os que empregam estrangeiros, est\u00e1 sem trabalhar. Est\u00e1 tudo fechado\u201d, contou P\u00e2mela, afirmando que, apesar de tudo, sua fam\u00edlia n\u00e3o pensa em voltar. \u201cAcho que estamos em um bom lugar. E, nas redes sociais, vemos que h\u00e1 muitos brasileiros querendo vir para c\u00e1.\u201d<\/p>\n

 <\/p>\n

Comunidade<\/h3>\n

Al\u00e9m de integrar o grupo que mais pediu novos vistos de resid\u00eancia durante o ano passado, os brasileiros s\u00e3o maioria entre os estrangeiros que residem em terras lusitanas. Em 2020, segundo o Servi\u00e7o de Estrangeiros e Fronteiras, das 661 mil pessoas que se registraram, 183,83 mil haviam deixado o Brasil \u2013 o que n\u00e3o inclui quem tenha obtido nacionalidade portuguesa. Em seguida est\u00e3o as pessoas provenientes do Reino Unido (46,27 mil); Cabo Verde (36,6 mil); Rom\u00eania (30,06 mil) e Ucr\u00e2nia (28,61 mil).<\/p>\n

Dados da OIM (Organiza\u00e7\u00e3o Internacional para as Migra\u00e7\u00f5es), da ONU (Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas), mostram que, at\u00e9 meados de 2020, havia ao menos 1 milh\u00e3o de imigrantes vivendo em Portugal \u2013 o que representaria 9,8% dos 10,2 milh\u00f5es de habitantes do pa\u00eds. Para especialistas, no entanto, esses n\u00fameros podem estar subestimados, n\u00e3o correspondendo ao real n\u00famero de imigrantes.<\/p>\n

Natural de S\u00e3o Paulo, o jornalista Jair Rattner vive h\u00e1 35 anos em Portugal, onde colabora com v\u00e1rios ve\u00edculos de imprensa. Para ele, mesmo com a instabilidade brasileira contribuindo para tornar Portugal atraente para muitos brasileiros como P\u00e2mela, as dificuldades decorrentes da pandemia que Portugal enfrenta v\u00eam motivando pessoas a regressar aos pa\u00edses de origem.<\/p>\n

\u201cO impacto da crise se faz sentir mais sobre os estrangeiros que j\u00e1 estavam em Portugal e que, com a dificuldade de encontrar emprego, regressam a seus pa\u00edses, do que entre aqueles que continuam chegando em busca de melhores condi\u00e7\u00f5es\u201d, acredita o jornalista.<\/p>\n

\u201cH\u00e1 muitas pessoas desempregadas e, por ora, a economia portuguesa n\u00e3o tem condi\u00e7\u00f5es de absorver mais pessoas. Acontece que quando algu\u00e9m decide deixar seu pa\u00eds, n\u00e3o pensa nisso. A pessoa se deixa influenciar mais pelos relatos que ouve do que pela avalia\u00e7\u00e3o da real situa\u00e7\u00e3o socioecon\u00f4mica\u201d, disse Rattner.<\/p>\n

De acordo com o INE, Portugal fechou 2020 com uma taxa de desemprego oficial de 6,9% – sendo que, entre as mulheres em idade ativa, o percentual atingiu 7,1%.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Em 2020, os brasileiros voltaram a ocupar o topo da lista dos que mais obtiveram, do governo de Portugal, autoriza\u00e7\u00f5es para viver no pa\u00eds. Dados preliminares que o SEF (Servi\u00e7o de Estrangeiros e Fronteiras) portugu\u00eas revelam que, de 117,5 mil novos t\u00edtulos de resid\u00eancia emitidos no ano passado, 41,99 mil (35,7%) foram entregues a brasileiros. […]<\/p>\n","protected":false},"author":45,"featured_media":171570,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_acf_changed":false,"footnotes":""},"categories":[391,389,390],"tags":[5],"acf":[],"yoast_head":"\n