Temos vivido tempos dif\u00edceis, talvez os mais dif\u00edceis da nossa hist\u00f3ria recente. Com a pandemia da Covid-19 vieram consequ\u00eancias sociais, econ\u00f4micas e pol\u00edticas sem precedentes – todas essas quest\u00f5es, apesar de j\u00e1 fragilizadas antes de todo esse caos sanit\u00e1rio, agora est\u00e3o escancaradas. Percebe-se uma disputa de narrativas quanto ao que \u00e9 \u201cmeu direito\u201d e o que \u00e9 \u201cdireito do coletivo\u201d, entre o que \u00e9 dever p\u00fablico e o que \u00e9 direito privado. Esse texto \u00e9 um convite \u00e0 reflex\u00e3o quanto a nossa vida vivida no coletivo.
\nPor exemplo: quando vemos algu\u00e9m defendendo o n\u00e3o uso da m\u00e1scara, alegando liberdade individual, temos a\u00ed um conflito do que \u00e9 direito individual e interesse p\u00fablico. Quando vemos donos de estabelecimentos lotados, defendendo seu direito econ\u00f4mico – temos a\u00ed de novo um conflito entre o que \u00e9 direito individual e o que \u00e9 interesse p\u00fablico.
\nMas o que \u00e9 p\u00fablico e o que \u00e9 interesse individual? Qual o limite entre um e outro?
\nO autor estadunidense do s\u00e9culo passado, John Dewey, passou boa parte de sua vida pesquisando sobre a no\u00e7\u00e3o do sentido de \u201cp\u00fablico\u201d. Ele conseguiu reunir todas suas ideias e formular esse conceito (que \u00e9 referenciado em v\u00e1rias obras h\u00e1 quase um s\u00e9culo) em seu livro \u201cThe public and its problems\u201d, ou \u201cO p\u00fablico e seus problemas\u201d, ele descreve que \u201c[…] somos levados a observar que as consequ\u00eancias s\u00e3o de dois tipos, aquelas que afetam as pessoas diretamente envolvidas em uma transa\u00e7\u00e3o e aquelas que afetam outras pessoas al\u00e9m das imediatamente envolvidas. Nessa encontramos o germe da distin\u00e7\u00e3o entre o privado e o p\u00fablico\u201d (DEWEY, 1927, p.12).
\nSob essa \u00f3tica, Dewey ainda continua seu pensamento procurando ent\u00e3o o que \u00e9 o Estado e a mais genu\u00edna, por\u00e9m n\u00e3o final descri\u00e7\u00e3o, \u00e9 que o Estado (executivo, legislativo, judici\u00e1rio) \u00e9 a organiza\u00e7\u00e3o respons\u00e1vel por cuidar e regular as a\u00e7\u00f5es realizadas por indiv\u00edduos ou grupos que afetam outras pessoas pelas consequ\u00eancias do que eles realizam (p. 39).<\/p>\n

Dessa forma, percebemos que quando defendemos atitudes individuais, unilaterais, que afetam a coletividade negativamente, estamos contribuindo para que o caos que hoje est\u00e1 instaurado continue. Quando voc\u00ea n\u00e3o usa m\u00e1scara e contrai a Covid-19, o v\u00edrus pode at\u00e9 n\u00e3o se desenvolver no seu corpo, mas voc\u00ea ainda assim vai transmiti-lo. Voc\u00ea talvez pode n\u00e3o parar em um leito de hospital, mas outras pessoas que tiveram contato com voc\u00ea sem m\u00e1scara ir\u00e3o.
\nQuanto mais pessoas pararem nos hospitais e o sistema de sa\u00fade (p\u00fablico e tamb\u00e9m privado) n\u00e3o der conta, mais mortes teremos. Mais fam\u00edlias ficar\u00e3o sem o pai, sem m\u00e3e para colocar o p\u00e3o dentro de casa. Mais vulnerabilidade haver\u00e1. Menos pessoas com poder aquisitivo para consumir haver\u00e1.
\nN\u00e3o usar a m\u00e1scara e n\u00e3o tomar vacina pode ser uma escolha sua individual mas as consequ\u00eancias s\u00e3o p\u00fablicas, s\u00e3o sofridas por todos. Toda decis\u00e3o individual que n\u00e3o pensa no coletivo produz uma consequ\u00eancia, contribui para o caos. Ent\u00e3o antes de defender atitudes individuais e privadas, vamos contribuir para que o coletivo JUNTO saia dessa situa\u00e7\u00e3o?<\/p>\n

DIEGO CABALHEIRO
\nAnalista de Rela\u00e7\u00f5es Internacionais – Instituto Arax\u00e1 de Inova\u00e7\u00e3o Social<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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