Abandonado foi como o professor e bi\u00f3logo Anderson Ricardo Carlos se sentiu quando perdeu a bolsa do doutorado de seus sonhos. Mestre em Ensino e Hist\u00f3ria das Ci\u00eancias e Matem\u00e1tica pela Universidade Federal do ABC (UFABC), em S\u00e3o Paulo, o pesquisador ingressou no programa de doutorado da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP) em janeiro de 2020. Logo em seguida, participou do processo seletivo para pleitear uma bolsa oferecida pela Coordena\u00e7\u00e3o de Aperfei\u00e7oamento de Pessoal de N\u00edvel Superior (Capes). Era o \u00fanico aux\u00edlio da Capes previsto para o ano passado ao projeto de p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o do qual Anderson faz parte, o Programa Interunidades no Ensino de Ci\u00eancias da USP. Considerado muito bom, o curso \u00e9 avaliado com nota 5 pela Coordena\u00e7\u00e3o, em uma escala que vai de 1 a 7.<\/p>\n
Foi com alegria que Anderson recebeu a not\u00edcia de que havia conquistado o primeiro lugar do processo seletivo. Junto \u00e0 sua orientadora, rapidamente assinou a documenta\u00e7\u00e3o para passar a receber a bolsa de R$ 2.200 mensais concedida aos doutorandos \u2014 valor que n\u00e3o \u00e9 reajustado desde 2013. Com o aux\u00edlio (aparentemente) garantido, o bi\u00f3logo decidiu pedir demiss\u00e3o de um de seus dois empregos como professor e estava pronto para se dedicar quase exclusivamente \u00e0 pesquisa.<\/p>\n
Anderson se mudou de Santo Andr\u00e9, na grande S\u00e3o Paulo, para a capital, ficando mais perto do Instituto de Bioci\u00eancias da USP, onde desenvolve o estudo. Ele est\u00e1 analisando a trajet\u00f3ria do controverso m\u00e9dico brasileiro Jo\u00e3o Batista de Lacerda (1846-1915). Sua investiga\u00e7\u00e3o aborda como a ci\u00eancia foi usada no passado para corroborar ideias racistas \u2014 o branqueamento da popula\u00e7\u00e3o, por exemplo, era uma das propostas defendidas por Lacerda. \u201c\u00c9 um tema que pode ser usado em sala de aula, ajudar a discutir o racismo e combater o discurso de \u00f3dio\u201d, define.<\/p>\n
Em mar\u00e7o, por\u00e9m, os planos do bi\u00f3logo viraram de cabe\u00e7a para baixo. Ele n\u00e3o s\u00f3 teve que lidar com o in\u00edcio da pandemia como tamb\u00e9m com a not\u00edcia de que a Capes havia publicado a Portaria 34, estabelecendo novos crit\u00e9rios para a distribui\u00e7\u00e3o de bolsas de p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o. Sem justificativas, seu aux\u00edlio foi cancelado. A \u00fanica informa\u00e7\u00e3o que o cientista recebeu \u00e9 que sua bolsa havia passado de permanente para um modelo de empr\u00e9stimo. Nesse caso, ap\u00f3s a conclus\u00e3o da pesquisa, a verba que a Capes havia destinado ao programa n\u00e3o seria renovada para um novo projeto \u2014 como acontece na modalidade permanente.<\/p>\n