Autor da chacina na creche de SC pode ter pena próxima dos 100 anos

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Dez minutos. Esse foi o tempo que Fabiano Kipper Mai levou para cometer a chacina na creche Pró-Infância Aquarela, de Saudades, no Oeste do Estado, na terça-feira (4). Segundo o advogado criminalista Alexandre Neuber, em casos como este, a primeira ação é que o criminoso seja submetido a exames de sanidade, podendo ser qualificado como inimputável e, portanto, isento de pena.

“Também pode ter a semi-imputabilidade, que é uma reduzida capacidade de entender o caráter do crime. Isso também vai ser averiguado. Superado isso, se julgado, pode ter uma pena que varia muito”, explica o advogado.

Alexandre Neuber diz que, nesse tipo de crime, o juiz também pode entender que foi um crime continuado. Ou seja, Fabiano teria uma pena mais grave por um dos homicídios – 12 a 30 anos, aumentada até a metade da pena.

O advogado explica que, considerando casos semelhantes, se responder por todos os crimes, pode ter pena próxima dos 100 anos de prisão. Com os cinco homicídios e uma tentativa, de início, um criminoso pode pegar de 12 a 30 anos por vítima.

Neuber lembra que o tempo máximo de prisão em regime fechado é de 40 anos no Brasil. Depois, o preso tem a progressão da pena, podendo entrar no regime semi-aberto.

Como ele agiu na creche

Portando as duas armas brancas, Fabiano entrou na creche e, questionado pela professora Keli, não falou nada: começou a sequência de crimes atacando a professora, sua colega Mirla e as crianças.

Após a chegada da polícia, teve voz de prisão e foi levado para o hospital em estado grave, com ferimentos que ele mesmo causou. Na quarta-feira (5), a Justiça converteu a prisão em flagrante para preventiva.

Segundo o delegado regional de Chapecó, Ricardo Casagrande, que auxilia a equipe do delegado Jeronimo Marçal nas diligências, os familiares do assassino colaboraram com a polícia.

Eles foram ouvidos em uma conversa preliminar no dia do crime, abriram a residência e entregaram, espontaneamente, os objetos de interesse da investigação.

 

 

O casal está constrangido e consternado pelo ato do filho e não será responsabilizado. Uma representante da empresa onde Fabiano trabalha também foi ouvida.

“Ele tinha uma atividade há algum tempo em uma empresa da cidade, sem qualquer registro faltoso. Uma representante, que nos passou informações preliminares e será ouvida, disse que se tratava de um funcionário normal”, conta o delegado.

A Polícia Civil de Santa Catarina autuou Fabiano em flagrante por cinco homicídios triplamente qualificados. Também foi indiciado pela tentativa de homicídio da sua sexta vítima, a criança que estava no Hospital Regional do Oeste e foi transferida, na quarta-feira, para o Hospital da Criança Augusta Muller Bohner, também em Chapecó.

Segundo o boletim divulgado às 18h de quarta, o bebê está se recuperando, encontra-se estável e em leito clínico.

As qualificadoras dos crimes foram motivo torpe, utilização de recurso que impossibilitou a defesa das vítimas e utilização de meio cruel. Com o procedimento lavrado pela Polícia Civil, Fabiano está sob os cuidados do Deap (Departamento de Administração Prisional) e segue hospitalizado.

Polícia aguarda autorização para analisar computador

O delegado Jeronimo Marçal quer interrogar Fabiano e aguarda autorização judicial para acessar os eletrônicos apreendidos. Nos próximos dias, a polícia continuará trabalhando no inquérito policial atrás da motivação.

O foco é coletar elementos para identificar os motivos que levaram Fabiano aos crimes. A materialidade e a autoria foram comprovadas no dia do crime, com a prisão em flagrante.

“Foram apreendidos bens e objetos pessoais, também um computador. Esses objetos vão para perícia e comprovação, por exemplo, da aquisição das armas usadas no crime”, conta o delegado Ricardo Casagrande.

A polícia vai analisar todos os materiais apreendidos na casa de Fabiano para compreender sua rotina. Os materiais serão confrontados com as provas testemunhais, para que a polícia analise se há convergência entre provas e depoimentos.

Os detalhes do crime

Fabiano utilizou uma adaga do tamanho de uma espada, estimada em R$ 5 mil, e uma faca de 40 cm a 50 cm na chacina. Qualquer pessoa pode comprar essas armas em loja física ou virtual.

A polícia vai apurar detalhes, como a data da compra e a forma de pagamento, para traçar uma linha da conduta de planejamento do criminoso.

Fabiano tentou invadir outras salas, mas não conseguiu, porque foram imediatamente trancadas. Segundo testemunhas, ele ameaçou as demais professoras passando a adaga nas janelas, fazendo um grande barulho.

De acordo com o delegado Ricardo Casagrande, Fabiano foi contido por pessoas que escutaram os pedidos de socorro das professoras, antes disso, ele praticou as autolesões. Na sequência, chegou um sargento da Polícia Militar que o deteve e deu a voz de prisão.