
O desenvolvimento de anticorpos e células de defesa que carregam uma “memória” após a infecção por coronavírus tem criado uma falsa sensação de segurança. Esse discurso tem sido reproduzido com cada vez mais força, principalmente por jovens, que dizem não temer a infecção pelo vírus.
Nessa linha de raciocínio, contrair o vírus poderia trazer proteção, pois forçaria uma “imunidade natural”. Sendo assim, não precisariam mais se preocupar com medidas de segurança, já que estão “protegidos” de novas infecções (casos de reinfecções por covid-19 estão sendo registrados, mas até então são raros). Essa teoria de que o contágio seria melhor do que esperar a imunização tem alimentado o descaso com as medidas de prevenção.
A ciência ainda não sabe especificar por quanto tempo a imunidade natural fica presente em nossos corpos, mas há um consenso na comunidade científica de que desenvolver uma imunidade a partir da infecção não é seguro. Isso por que, a possibilidade de alcançar a imunidade coletiva por vias naturais pode resultar em um número altíssimo de óbitos e sequelas inesperadas.
Essa teoria foi testada em um estudo realizado por pesquisadores brasileiros e publicado na revista Science. Segundo a pesquisa, mesmo boa parte da população seja infectada e adquira imunidade, o vírus continua circulando. A pandemia apenas perderia força quando quase toda a população tivesse contato com o vírus.
Nesse caso, o único meio de imunização seguro é a vacinação. Isso por que a vacina funciona como um processo que engana o sistema imune. Ela faz com que o organismo produza anticorpos de proteção contra a doença sem que o vírus esteja realmente presente, então, quando a pessoa adoece, os anticorpos já estão lá, por isso a doença não evolui. Para serem autorizadas para o uso humano, as vacinas passam por testes rigorosos, com avaliação de efeitos adversos e análise de eficácia. Seus efeitos são previsíveis e sua comercialização é autorizada apenas após a comprovação da sua segurança.
A imunidade natural, por sua vez, é conquistada após a infecção ocorrer, o que pode resultar em danos irreparáveis a vários órgãos, além da chance de morte ou contaminação dos demais. Vale destacar que a doença não evolui igualmente em todas as pessoas. Essa estratégia também pode acarretar na superlotação do sistema de saúde, ocasionando a morte de pacientes, inclusive com outras enfermidades, devido à indisponibilidade de leitos de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) ou vagas no hospital.
Os especialistas recomendam a vacinação mesmo para aqueles que já adquiriram a proteção natural, ou seja, já tiveram covid-19 e se curaram. O argumento é de que a vacina pode estimular ainda mais o sistema imune, garantindo uma resposta melhor ao vírus, mesmo que ainda não haja pesquisas que informem qual resposta imune é mais forte – a natural ou induzida por meio de vacinação.
Em relação à imunizantes para outras doenças, a resposta é variada. No caso de caxumba, por exemplo, o desenvolvimento do sistema imune natural é mais forte do que o adquirido por meio da vacina, entretanto, há risco de o paciente contaminado sofrer com sequelas graves. Já no caso da meningite, a vacinação fornece uma resposta mais consistente que a natural.