Covid-19 deixa mais de 40 mil crianças órfãs de mãe no Brasil

Um estudo conduzido por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) revelou que 40.830 crianças perderam a mãe por Covid-19 entre 2020 e 2021 no Brasil. O artigo foi divulgado nesta segunda-feira (26) pelo Observa Infância (Observatório de Saúde na Infância) e publicado na revista Archives of Public Health, da Springer Nature.

Segundo a pesquisa, a morte de um dos pais, principalmente da mãe, está ligada a desfechos adversos ao longo da vida e tem graves consequências ao bem-estar da família. Pessoas entre 40 e 59 anos foram as mais afetadas pela doença.

O levantamento considera os dados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade), do Ministério da Saúde, em 2020 e 2021, e do Sinasc (Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos), entre 2003 e 2020.

De acordo com o relatório, desde o início da pandemia o Brasil registrou 30 milhões de casos e 630 mil mortes causadas por Covid-19. Entre 2020 e 2021, o vírus foi responsável por quase um quinto (19%) de todas as mortes registradas no Brasil.

Em comparação com outros países, o Brasil é o sexto país com maior número de órfãos pela covid-19. Em nota, o coordenador do Observa Infância, da Fiocruz, Cristiano Boccolini — um dos autores do estudo —, destacou que o vírus foi “responsável por um terço de todas as mortes relacionadas a complicações no parto e no nascimento entre mulheres jovens”.

 

Outros fatores

O estudo apontou que a mortalidade entre analfabetos chegou a ser de 38,8 mortes a cada 10 mil pessoas, enquanto a média da população brasileira foi de 14,8 mortes para cada 10 mil pessoas. Para aos pesquisadores, a morte de pessoas adultas analfabetas foi três vezes maior do que entre aqueles que concluíram o ensino superior.

Os autores da pesquisa destacam que o maior peso da mortalidade nos indivíduos de menor escolaridade reflete o impacto desigual da pandemia nas famílias brasileiras socialmente desfavorecidas. Uma das hipóteses para os pesquisadores para explicar os dados obtidos é que indivíduos de baixa escolaridade ficaram mais expostos à infecção pela necessidade de trabalhar fora de casa, sem a possibilidade de parar durante a pandemia.

Em nota, Wanessa da Silva de Almeida, uma das autoras da pesquisa, aponta que “a desigualdade socioeconômica acarreta iniquidades no acesso aos serviços de saúde e, consequentemente, dificuldades no diagnóstico oportuno e no tratamento dos casos”.

O estudo acredita que “o atraso na adoção das medidas de saúde pública necessárias para controlar a epidemia agravou a propagação da doença, resultando em várias mortes evitáveis”.