Oscar adota regras para a promoção da diversidade na categoria de melhor filme

oscar

A discussão pela diversidade e representatividade tem estado cada vez mais em evidência nos últimos anos. O debate trata sobre a importância de se sentir representado ou identificado na sociedade. O termo tem sido muito discutido na última década, isso porquê, em pleno século XXI, ainda há um abismo enorme na valorização das diferenças. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, no ano de 2017, ao menos 76% dos brasileiros não se sentiam representados pelas propagandas exibidas na televisão.

O termo não se aplica somente na inclusão destas minorias na publicidade, mas sim, na sociedade de forma geral. Foi com base nesse objetivo, que a Academia de Cinema de Hollywood revelou que começará a exigir certas condições mínimas de diversidade nos filmes que disputam ao Oscar na categoria de melhor filme. As exigências começarão a valer a partir de 2025, ou seja, os longas produzidos em 2024 que quiserem disputar o Oscar nessa categoria precisarão ter no mínimo: o protagonista do filme de um grupo sub-representado (não branco, mulher, LGBTQ ou deficientes), ou que 30% dos papéis secundários sejam distribuídos entre minorias, ou que se abordem os problemas que rodeiam estas comunidades como o tema principal da obra.

A Academia vinha recebendo críticas pela falta de diversidade. A trajetória começou com a polêmica do #Oscarssowhite (“Oscars brancos demais”), de cinco anos atrás. Naquele ano, todos os 20 indicados nas categorias para atores eram brancos, mesmo que houvessem excelentes filmes com intérpretes negros. A partir desta polêmica, iniciou-se um debate em Hollywood que buscou estabelecer objetivos ambiciosos para ampliar a diversidade entre o eleitorado, até então composto principalmente por homens brancos, norte-americanos.

Entre os anos de 2015 a 2020, a Academia admitiu centenas de novos membros, buscando corrigir a situação. O número de mulheres passou de 25% para 33% do eleitorado do Oscar, e o número de não-brancos subiu de 10% para 19%. Além disso, um dos objetivos da instituição é tornar o evento mais internacional, não somente norte-americano, mas global. Neste período, 819 membros de 68 países diferentes foram admitidos.

As mudanças puderam ser notadas ainda em 2019, quando filmes como o longa mexicano Roma ganhou quatro estatuetas e esteve perto do prêmio de melhor filme daquele ano e, em fevereiro de 2020, o thriller sul-coreano Parasita fez história ao se tornar o primeiro filme produzido no exterior e rodado em um idioma que não o inglês a receber o Oscar de melhor filme.

As novas exigências ainda não são tão rigorosas como pode parecer. A diversidade na tela é um entre quatro padrões de inclusão que os filmes devem cumprir. Os outros envolvem as equipes criativas. Por exemplo, que 30% da equipe seja de grupos sub-representados, ou que pelo menos um chefe de equipe seja de uma minoria. Também pode dar oportunidades de estágio a minorias, ou que as equipes de marketing e distribuição sejam diversificadas.

Ou seja, se um filme trata de soldados britânicos da Primeira Guerra Mundial, em 1917, não é preciso minorias e mulheres apareçam com destaque na tela. Há outros requisitos de inclusão que o filme poderá cumprir para disputar o prêmio de melhor filme. Estas novas normas não afetam as demais categorias do Oscar, só o prêmio principal.

As novas regras são baseadas nas normas implementadas pelos prêmios BAFTA – Academia Britânica de Cinema e Televisão, do Reino Unido, e segundo a Academia, têm como objetivo fomentar a representação equitativa dento e fora das telinhas. As obras que pretendem concorrer ao Oscar de melhor filme em 2022 e 2023 não precisarão atender a essas normas, mas devem apresentar à Academia dados confidenciais sobre diversidade.