Alterações no olfato ou no paladar, sentidas por cerca de 65% dos infectados pelo novo coronavírus, vêm sendo consideradas entre os principais sintomas da Covid-19. Isso porque, diferente de gripes e resfriados comuns, essas alterações não ocorrem devido à obstrução do fluxo de ar, causada pela congestão nasal ou coriza. No caso do coronavírus, a perda de olfato e paladar acontece mesmo na ausência de outros sintomas respiratórios. A hipótese que passou a ser estudada desde então é que a região olfativa seria diretamente atingida por algum microrganismo, teoria que vem sendo confirmada em pesquisas recentes.
Nas últimas semanas, alguns estudos trouxeram importantes informações sobre o comportamento do vírus no corpo humano. Segundo as pesquisas, o Covid-19 se liga diretamente com uma proteína presente nas células do sistema olfativo para conseguir invadir o corpo humano. Essa descoberta, além de explicar o fenômeno da perda de olfato, também dá pistas sobre o motivo do novo coronavírus ser tão infeccioso.
As pesquisas analisaram o epitélio nasal, dividido entre respiratório (ER) e olfatório (EO), cujas funções e tipos celulares diferem. O ER nasal, analisado já nos primeiros estudos sobre o novo coronavírus, reveste grande parte do trato respiratório e acredita-se que umidifique o ar ao entrar no nariz, revelando-se um ambiente propício para a reprodução do vírus. Já o epitélio olfatório, foco das pesquisas mais recentes, é responsável diretamente pela detecção de odor.
Uma das descobertas, publicada recentemente no European Respiratory Journal, identificou que o vírus se conecta diretamente com a enzima ECA-2, muito presente nas células da região do epitélio olfativo. Segundo o estudo, a ECA-2 encontra-se de 200 a 700 vezes mais presente nesta região do que em qualquer outro tecido do nariz ou da traqueia. Identificar a presença desta enzima no organismo humano pode nos ajudar a entender quais são os locais do organismo que o Covid-19 utiliza como porta de entrada para infectar o corpo humano.
Já em outro estudo, publicado na Science Advanced, pesquisadores da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, analisaram quais células específicas do epitélio olfativo apresentavam a enzima com tanta intensidade, para assim detectar que tipo de dano o vírus causava na capacidade de sentir cheiro. As análises genéticas apresentaram que as células de suporte do epitélio olfativo eram as responsáveis pela alta quantidade da enzima ECA-2, e que o mesmo não acontecia com os neurônios sensoriais olfativos. Segundo os pesquisadores, isso indica uma boa notícia, pois devido à preservação dos neurônios, o organismo tem a capacidade de se recuperar normalmente após a melhora da infecção.
Na maioria dos casos, a ausência de olfato em infectados pelo novo coronavírus tem durado, em geral, de quatro a seis semanas, de acordo com os pesquisadores de Harvard. No entanto, existem casos registrados de pessoas que ainda não recuperaram a capacidade de sentir cheiros após serem curadas. Alguns especialistas sugerem que esse fenômeno possa estar ligado a uma reação exagerada do corpo contra o vírus, que acaba danificando diversos órgãos e sistemas, entre eles o neurológico.