O Radar Meteorológico de Lontras, no Alto vale do Itajaí, está fora de operação há cerca de dois meses. A informação é da Defesa Civil de Santa Catarina (DCSC), que emitiu nota oficial na última sexta-feira (9) informando que o equipamento está paralisado para manutenção e não há previsão para a retomada da operação.
De acordo com a nota divulgada pela DCSC, as peças foram danificadas “pelo desalinhamento de componentes”. Só este ano, o radar apresentou problemas no dia 31 de janeiro. O defeito foi identificado, as peças foram substituídas e o equipamento voltou a funcionar em 13 de junho.
Apenas 60 dias depois, em agosto, o radar voltou a apresentar problemas. De acordo com a nota oficial, a empresa responsável pela manutenção foi acionada e enviou um técnico ao local para realizar uma inspeção.
A nota diz que a vistoria presencial constatou a “existência de peças danificadas e o desalinhamento da antena do radar”. A análise apontou a possibilidade de desgaste prematuro das peças, que pode ter sido provocados por problemas na estrutura de movimentação do radar.
Segundo a DCSC, “uma avaliação minuciosa está em andamento para apurar se existem outras situações relacionadas, tanto no sistema eletrônico quanto mecânico do equipamento”.
Radar inoperante
A DCSC esclarece que, embora o radar de Lontras esteja em condições de operação, não foi recomendado que o equipamento seja utilizado de forma regular. “O equipamento está em condições de funcionamento normal, porém existe a possibilidade de desgaste acelerado, nova quebra de peças e diminuição da vida útil caso o equipamento continue operando nestas condições”.
Por meio da assessoria de imprensa a DCSC informou que o monitoramento contínuo está sendo realizado com imagens do radar do Morro da Igreja, em Urubici, além de satélites, pluviômetros e equipamentos para medição da velocidade do vento. A assessoria reforçou que o radar de Lontras pode ser usado em situações extremas, mas está sendo mantido desligado por recomendação do fabricante até a troca de peças.
As novas peças, segundo a nota oficial, já foram solicitadas ao fabricante. Porém, são partes específicas e fabricadas sob demanda, o que pode ter um prazo longo entre serem fabricadas e enviadas, o que pode ser acentuado pela pandemia de coronavírus. A DCSC, portanto, não tem um prazo para que o equipamento volte a funcionar e afirma que aguarda um posicionamento da empresa.
Radar parado impacta em emissão de alertas de curto prazo
Adquirido por R$ 10 milhões pelo governo do Estado e inaugurado em julho de 2014, o Radar Meteorológico de Lontras é um equipamento para previsões de curto prazo.
Diretora do Sistema de Monitoramento e Alerta de Eventos Extremos de Blumenau (Alertablu), a meteorologista Tatiane Martins explica que quando o radar no Alto Vale está inoperante há maior dificuldade em emitir alertas rápidos para a região.
Ela esclarece que o equipamento não produz informações para previsão do tempo, mas auxilia na informação de eventos climáticos em curto prazo, que vão ocorrer dentro de uma a duas horas, por exemplo.
“O principal impacto para Defesa Civil, porque o Alertablu faz parte do sistema de Defesa Civil, é uma maior dificuldade de emitir alertas meteorológicos quando tem eventos de chuva previstos para o município. Nós fazemos a previsão para o dia pelo modelo meteorológico e conforme o dia passa vamos monitorando o potencial dessas ocorrências, de tempestade, potencial de granizo, chuva forte, para emitir o aviso se há necessidade”, explica.
Martins afirma que, na falta do Radar Meteorológico de Lontras, o Alertablu usa outros radares que cobrem a região, como o Radar do Morro da Igreja, em Uribici, e um radar do Paraná, que cobrem parte da região do Vale do Itajaí. Porém, ela ressalta que os equipamentos têm menos precisão e nem sempre estão disponíveis.
Pouca utilidade em eventos longos
Coordenador do Ceops (Centro de Operação do Sistema de Alerta da Bacia do Itajaí), da Furb, o professor e doutor em Meteorologia Dirceu Severo afirma que para o monitoramento da bacia dos rios Itajaí-Açu e Itajaí-Mirim as informações do Radar Meteorológico de Lontras não são tão relevantes, pois não fazem uma previsão de longo prazo.
Além disso, o especialista afirma que desconhece a calibragem do radar para a medição da quantidade de chuvas, o que tornaria os dados não confiáveis. “O dado que ele emite é instantâneo. Ele manda uma onda para o espaço, a onda encontra uma gota de chuva e reflete essa informação. Mas a informação de quantidade de chuva, por exemplo, não tenho certeza se é boa, pois é preciso fazer uma calibração, um ajuste com radar e pluviômetros para fazer uma medição na nuvem e no chão com um bom tempo de monitoramento. Isso tem uma diferença grande e que eu saiba esse equipamento não passou por essa calibração”, aponta.
O especialista ressalta ainda que as previsões de curto prazo não são relevantes para as previsão de enchente, que também são determinantes no Vale do Itajaí.
“Para o trânsito de São Paulo, por exemplo, que é todo automatizado e eles conseguem desviar ruas e fechar túneis, funciona bem uma previsão de 15 minutos, uma hora, porque eles vão conseguir fazer essa movimentação. Mas aqui no Vale do Itajaí, como é que vai se tomar uma decisão assim? Vocâ imagina numa enchente aqui em Blumenau, que você precisa saber quanto vai chover amanhã pra se planejar, o radar (de Lontras) não vai te dar essa informação”, finaliza.