São Paulo é campeão paulista e acaba com jejum de nove anos sem títulos

São Paulo

Os deuses do futebol escrevem certo por chutes tortos. Às vezes eles se sentem obrigados a interferir no jogo quando o pragmatismo dos envolvidos o ameaça de morte por tédio. Foi uma obra do acaso de autoria do volante Luan que finalmente abriu a porta para a emoção entrar na decisão do Campeonato Paulista. Melhor para o São Paulo, que venceu por 2 a 0 no Morumbi e acabou com um jejum de títulos que durava nove longos anos, muito para os padrões do tricolor.

— Quero lembrar o ano passado. Estávamos brigando pela Libertadores, e numa partida contra o Palmeiras, a bola bateu em mim e entrou. Chorei muito — afirmou Luan, emocionado com o gol que abriu caminho para o título que não vinha desde 2005: — Hoje, eu chuto e a bola desviou para entrar. A nossa torcida merece voltar a ser campeã. Uma equipe como o São Paulo não pode ficar tanto tempo sem ganhar títulos.

Se não fosse pelo desvio do chute em Felipe Melo, que desmontou Weverton, talvez não haveria gol de bola rolando nos dois jogos da final. E assim o Choque-Rei seria privado da injeção de adrenalina que a desvantagem no placar significa para quem foi vazado.

Provavelmente o time mais cerebral do futebol brasileiro, o Palmeiras se viu obrigado a abrir mão do estilo usual, que caminha sobre a linha tênue que separa o jogo seguro daquele que é feio de se ver. Obrigado a atacar, atacou mal e abriu espaços na defesa. Tanto que o São Paulo esteve mais perto do segundo gol do que de levar o empate. Luciano, livre, matou o jogo e mostrou que a impressão de antes era verdadeira.

 

Palmeiras sofre

Foram dois jogos no Morumbi. O primeiro, antes do gol de Luan. Ele parecia, na verdade, um prolongamento da partida de ida, disputada quinta-feira passada: duas equipes bem postadas em campo, ambas com uma proposta de marcação em linha média e alta e uma dificuldade crônica para criar chances de gols a partir desse cenário.

É normal, a experiência do futebol consagra justamente isso: criar sistemas defensivos sólidos é uma coisa. Desenvolver um estilo de jogo capaz de superar essas defesas bem postadas é outra, bem mais complexa. O Palmeiras já mostrou mais de uma vez que não tem essa virtude tão bem desenvolvida, ainda que seja inegavelmente vencedor com seu estilo de contra-ataques eficazes.

Um lance foi emblemático disso, ainda no primeiro tempo: minando todas as opções de saída de Miranda, o Palmeiras obrigou o zagueiro a errar o passe. Luiz Adriano ficou com ela na altura da intermediária. Poderia ter sido uma chance clara, se o time de Abel Ferreira ocupasse mais seu campo ofensivo.

Já o São Paulo de Crespo cresce nesta temporada dando sinais de que é mais articulado nessa dura missão que é oferecer ao futebol um pouco mais do que a eficiência mecânica do contra-ataque bem articulado. Entretanto, sentiu a pressão das finais e também a ausência dos seus dois jogadores mais criativos: Daniel Alves e Benítez, ambos fora do jogo deste domingo, lesionados. Conseguiu se soltar apenas depois do gol, com a desorganização do Palmeiras.