Sem Censo 2021, Saúde Pública ficará às escuras, diz especialista

Censo 2021

A cada 10 anos, o censo demográfico realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) não só conta quantos habitantes há no Brasil, como também mostra quem são e como vivem os brasileiros. Fundamental para a elaboração de políticas de Saúde Pública, o último censo foi feito em 2010 e, por causa da pandemia, precisou ser adiado em 2020.

Este ano, quando deveria ser realizado, sofreu com os cortes orçamentários do governo federal e corre o risco de passar em branco. O STF (Supremo Tribunal Federal) determinou, no último dia 28, que o governo federal adote medidas para a realização do Censo 2021, mas ainda não há uma previsão para isso.

Por enquanto, a preocupação é sobre como a falta dos dados censitários podem dificultar a contenção dos danos causados pela pandemia na vida dos brasileiros. Para Fernanda Lopes, doutora em Saúde Pública pela USP (Universidade de São Paulo), o cenário pode deixar o país às escuras quando o assunto for mitigar os efeitos deste período pandêmico.

 

 

“Os dados censitários subsidiam o planejamento em saúde. Políticas públicas de saúde que se utilizam de indicadores como expectativa de vida, mapas de pobreza, entre outros, serão especialmente afetadas. Haverá mais prejuízos econômicos e políticos”, disse a especialista.

Fernanda explica que as informações colhidas pelo censo permitem estimar a ocorrência de diversas doenças em um determinado território, além de servirem como fontes secundárias de indicadores de saúde, como taxas de mortalidade, incidência e prevalência de doenças, prevalência de fatores de risco e proporção de leitos hospitalares por população.

“Com estas estimativas pode-se inferir, por exemplo, a necessidade de equipamentos, o dimensionamento das equipes que compõem a Estratégia de Saúde da Família e o número de leitos hospitalares a serem disponibilizados”, explica.

Como fica o SUS sem o Censo?

Para que servem, por exemplo, dados como população total por sexo, idade e raça? Além de identificarem os brasileiros, essas informações também são fundamentais para garantir uma atuação eficiente do SUS (Sistema Único de Saúde) no país.

“Os dados censitários evidenciam desigualdades dentro e entre grupos e devem orientar processos de tomada de decisões para garantir o cumprimento de um dos princípios doutrinários do SUS que é a equidade, cujo pressuposto é garantir atendimento aos indivíduos de acordo com suas necessidades, oferecendo mais a quem mais precisa”, explica ela.

Além disso, a especialista destaca que grupos populacionais que, historicamente, contam apenas com os serviços da rede SUS, serão os mais afetados pelo adiamento do Censo.

“O Censo traz informações sobre grupos populacionais específicos: idosos, jovens, indígenas, negros, pessoas com deficiência. As condições de saúde, a incidência de doenças e agravos, as taxas de mortalidade são influenciadas pelas condições de vida, trabalho e habitação que, por sua vez, sofrem influência de outros fatores, tais como sexo/gênero, raça, etnia, idade”, explica Fernanda.