
Com a promessa de valor acessível e velocidade semelhante a testes de gravidez, o teste para Covid-19 que está sendo desenvolvido por um grupo de cientistas indianos vem apresentando resultados promissores. O exame chamado de “Feluda” – famoso personagem indiano – tem como principal material o papel, traz um resultado em menos de 1 hora, ao valor de cerca de 500 rúpias (em torno de R$ 38).
Segundo o professor K Vijay Raghavan, principal conselheiro científico do governo indiano, o Feluda é um teste simples, preciso, confiável e econômico, com capacidade de fácil reprodução em larga escala. A agência reguladora de medicamentos da Índia já liberou o uso comercial do que poderá ser o primeiro teste de Covid-19 no mundo feito de papel e disponibilizado no mercado.
O produto mostrou sensibilidade de 96% e especificidade de 98% em experimentos realizados no Instituto CSIR de Genômica e Biologia Integrativa, em Déli, onde o Feluda foi desenvolvido. Cerca de 2 mil pacientes participaram do experimento, incluindo alguns que já tinham obtido resultado positivo para o vírus anteriormente.
O alto grau de sensibilidade indica uma detecção de quase todos os portadores da doença, enquanto o grau de especificidade mostra que os pacientes que não possuem a doença serão corretamente descartados. Ou seja, o primeiro indicador garante que não haja muitos resultados falsos negativos, assim como o segundo descarta falsos positivos.
A tecnologia utilizada no Feluda é a de edição de genes, chamada Crispr – abreviação em inglês para repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente espaçadas. De acordo com os cientistas, a edição de genes funciona de forma similar ao processamento de um texto – é como usar o cursor para corrigir um erro de digitação, removendo uma letra incorreta e inserindo a certa. A técnica é tão precisa que pode remover e adicionar uma única letra do genoma.
Quando essa tecnologia é utilizada como ferramenta de diagnóstico, como no caso do Feluda, a Crispr localiza um conjunto de “letras genéticas”, que carregam uma espécie de assinatura da Covid-19, dando destaque e reproduzindo o “texto” da assinatura em um pedaço de papel. Assim como nos testes de gravidez mais comuns, esse “texto” é transformado em linhas azuis: duas linhas indicam resultado positivo, enquanto uma única linha representa o resultado negativo.
O teste desenvolvido pelos indianos representa melhor desempenho que os testes mais utilizados na Índia e no Brasil, o PCR e o teste rápido de antígenos. O teste PCR, ou molecular, usa produtos químicos para amplificar o material genético do vírus em laboratório. Apesar de apresentar boa confiabilidade, com baixas taxas de falsos positivos e negativos, é um teste caro e demorado. Já o teste rápido de antígenos, que busca fragmentos de vírus em uma amostra sanguínea, é de baixo custo e apresenta certa rapidez, mas gera mais falsos negativos do que o teste molecular.
Segundo o pesquisador da Escola Médica de Harvard, Stephen Kissler, é necessário fazer de tudo para que os testes deixem de ser um recurso limitado e para que sua disponibilidade seja melhorada. Kissler ainda chama atenção para o fato de que, apesar da vacina ser fundamental para a recuperação total da pandemia, os testes confiáveis e acessíveis são essenciais para atingir uma “sensação de normalidade”, afirmando que, em um cenário ideal, um teste deveria ser feito com a mesma facilidade que escovar os dentes.