
Uma das diversas notícias falsas veiculadas sobre poderosos antídotos contra o novo coronavírus é de que a chance de morte pela doença seria quase nula para adultos que possuam altos níveis de vitamina D no organismo. O boato correu pela internet como uma resposta salvadora, que poderia ser reforçada com suplementação ou exposição ao sol, e desde o início da pandemia, sociedades científicas alertam que não há evidências científicas sustentando o reforço da vitamina como medida de proteção.
Na verdade, a conexão entre os níveis de vitamina D e a Covid-19 é outra. Segundo um estudo preliminar realizado pela Universidade de Chicago, quem demonstrou nível suficiente da vitamina no organismo pode ser menos propenso a um resultado positivo para o vírus.
A pesquisa, publicada no periódico científico JAMA Network Open, mediu o nível de vitamina D de quase 500 pacientes que fizeram o teste molecular para identificar a presença do novo vírus. Os dados sobre os níveis de vitamina D dos pacientes já constavam em um sistema da faculdade de medicina, por isso a pesquisa é considerada como retrospectiva e observacional.
A pesquisa retrospectiva é diferente de um estudo clínico controlado, em que os pesquisadores conseguem controlar as variáveis, e assim acompanhar a evolução do experimento em tempo real, sendo aptos a perceber uma relação de causa e efeito.
Do total de pacientes incluídos no estudo, 71 (equivalentes a 15%) testaram positivo para Covid-19. Entre os participantes considerados deficientes para vitamina D, 19% (32 participantes) testaram positivo, enquanto no grupo sem deficiência, o percentual foi de 12% (39). O resultado aponta que o risco de testar positivo para a doença do novo coronavírus foi apenas 1,77 maior em pacientes que apresentavam deficiência da vitamina.
As pesquisas são preliminares, e ainda precisam de mais estudos científicos para compreender com precisão como essa relação funciona. Os pesquisadores já tinham evidências de que a vitamina D poderia diminuir a incidência de outras doenças respiratórias. Segundo o estudo, o tratamento com a vitamina D pode reduzir a transmissão da doença, pois previne a infecção. “A vitamina D modula a função imunológica por meio de efeitos nas células dendríticas e nas células T, que podem promover a eliminação do vírus e atenuar as respostas inflamatórias que produzem os sintomas”, cita o artigo. “Na medida em que previne a infecção, diminui a replicação viral ou acelera a eliminação do vírus, o tratamento com vitamina D pode reduzir a transmissão (da doença).”
O artigo ainda ressalta que, por outro lado, se a vitamina D reduz a inflamação, a transmissão assintomática pode aumentar, e os sintomas clínicos podem diminuir, “incluindo a tosse, tornando difícil prever seu efeito na disseminação do vírus”.