SC pode ter volta de doenças erradicadas por queda brusca na vacinação

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Santa Catarina registra uma queda acentuada da cobertura vacinal de crianças em 2021, conforme apontam os dados da Dive/SC (Diretoria de Vigilância Epidemiológica).

O fato acende um alerta porque pode trazer de volta doenças que estavam controladas ou erradicadas. Saiba quais são os riscos e as possíveis causas para a baixa adesão vacinal no Estado.

O risco de essas doenças “ressuscitarem” é muito alto, segundo a infectologista pediátrica Sonia Maria de Faria. “A única doença que podemos falar em erradicação (extinção) é a varíola, erradicada na década de 70. E foi controlada com vacinação”, reitera.

Mesmo as vacinas sendo comprovadamente seguras e eficazes, muitas tiveram a menor aplicação em anos, como é o caso da BCG, aplicada em recém-nascidos contra a tuberculose. O índice da cobertura vacinal neste ano é de 69,71%, contra 102% em 2016.

Os dados chamam a atenção da infectologista. “A BCG previne formas graves de tuberculose, mais frequentes nas crianças nos primeiros anos de vida. Por isso é tão importante ser aplicada já na maternidade”, afirma. Segundo a médica, o país está entre os 20 piores do mundo em relação à tuberculose.

O cenário reflete o que ocorre em todo o país, já que nenhuma das metas de imunização infantil estabelecidas no PNI (Programa Nacional de Imunização) foram cumpridas em 2020.

A Dive aposta em alguns motivos para justificar a baixa adesão à cobertura vacinal, como por exemplo, a falsa sensação de segurança causada pela diminuição e/ou ausência de doenças imunopreveníveis, as fake news e a pandemia de Covid-19.

Os percentuais da cobertura vacinal de crianças de até 1 ano desde 2010 apresentam uma queda gradual ao longo dos anos, mas que se intensificou em 2021.

 

Confira os números:

Baixa cobertura vacinal em SC pode trazer doenças de volta à realidade do Estado – Foto: Dive/SC/Divulgação/ND

 

Além da BCG, a tetra viral, que protege contra sarampo, caxumba, rubéola e catapora, tem a menor cobertura desde sua implantação, em 2013. Apenas 31% das crianças com até 1 ano foram vacinadas em 2021.

Sonia pondera, porém, que por falta do imunizante as crianças podem ter sido imunizadas com a tríplice viral, e imunizadas separadamente contra a catapora.

Entretanto, a Dive informou “não houve desabastecimentos de doses das vacinas de rotina em Santa Catarina”, e que em nenhum momento a vacina tríplice viral teria sido aplicada no lugar da tetra viral.

Além disso, o órgão destacou que a cobertura da hepatite B está na vacina pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b).

 

Baixa cobertura da BCG

Quanto à adesão da vacina BCG, que vem diminuindo gradativamente no Estado a cada ano, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina ressaltou que “a baixa cobertura vacinal da BCG não está relacionada a falta de vacinadores”.

O órgão cita também a diferença entre os municípios do Estado. “A vacina BCG tem algumas particularidades”, continua a nota explicativa da Dive.

“Em alguns municípios como Florianópolis, São José, Joinville, por exemplo, que são municípios maiores, ela é feita na maternidade. Esses municípios possuem equipes volantes que vão até as maternidades a cada 2 dias para fazer a vacinação dos recém-nascidos. O bebê só não sai vacinado se existe alguma contraindicação (prematuro, que precisa esperar atingir peso). Nesse caso, os pais precisam levar depois em um posto de saúde para vacinar. Nos outros municípios, o processo é diferente, os pais precisam levar na unidade de saúde”.

 

Motivos para a baixa cobertura vacinal

A vacinação infantil é obrigatória no Brasil, segundo o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). No entanto, Sonia Maria de Faria acredita que o movimento antivacina contribui um pouco, mas não é o principal fator para a baixa cobertura.

“Houve falha em parte dos responsáveis pela criança e das próprias unidades de saúde. No primeiro momento da pandemia, as pessoas ficaram com medo de procurar os serviços de saúde pelo risco de contaminação com a Covid-19”, diz.

Por outro lado, a médica aponta que “os postos também acabaram contribuindo para que a cobertura vacinal fosse baixa. Porque tudo ficou voltado para a Covid-19, em um primeiro momento”.

Já o retorno dos serviços de saúde não ocorreu “da forma como se fazia antes, passou a se adotar um agendamento de vacina”, conforme a infectologista.

Em relação aos que alegam liberdade para escolher se imunizar ou não, a infectologista alerta: “a vacina não é apenas proteção individual, é proteção coletiva. Ao se vacinar, além de estar se protegendo, você protege aqueles que estão ao seu redor”, reforça.

Para tentar explicar a baixa adesão, a Dive listou uma série de razões que podem motivar a queda na vacinação no Estado. “São vários fatores que contribuem para essa queda”.

Entre elas, o órgão cita: “pode ocorrer sim a recusa dos pais em aplicar a vacina nos filhos, mas também a falsa sensação de segurança causada pela diminuição e/ou ausência de doenças imunopreveníveis; movimento antivacinas; desconhecimento da importância da vacinação; falsas notícias (fake news) veiculadas, especialmente, nas redes sociais; interoperabilidade dos sistemas de informações; somando-se a situação atual da pandemia da Covid-19”.

 

Riscos que aumentam a chance do retorno de doenças

Os índices de baixa cobertura de imunizações se intensificaram nos últimos cinco anos. Conforme Sonia, os riscos aumentam por causa das viagens e circulação das pessoas em diferentes partes do mundo.

A poliomelite, por exemplo, causa que lesões permanentes, inclusive motoras, ocorre em poucos países do mundo. Mas, “as pessoas se deslocam com muita facilidade pelos continentes e, ao se deslocar alguém com esse tipo de infecção, corre o risco de esse tipo de doença ressurgir se a cobertura vacinal não se mantiver alta”.

Os números de vacinação contra a poliomelite no Estado eram melhores que o nível nacional em 2015, superior a 100%. Neste ano, porém, o índice de imunização segue baixo, com apenas 81,97%.

O mesmo ocorre com o sarampo. A Dive/SC recomenda uma atenção especial, porque Santa Catarina voltou a registrar surto ativo de sarampo em julho de 2019 e que só foi encerrado em setembro de 2020 com a intensificação da aplicação das vacinas.

A tríplice viral deve ser aplicadas em crianças de 12 meses, e a tetra viral aos 15 meses. Caso não tenham sido vacinadas, devem se vacinar posteriormente. As pessoas com idade entre 1 ano e 29 anos precisam tomar duas doses ao longo da vida.

 

Estado lança campanha de multivacinação

O governo de Santa Catarina inicia no dia 1º de outubro a campanha de multivacinação para atualização da Caderneta de Vacinação da Criança e do Adolescente até 14 anos. A ação segue até o dia 29 do mesmo mês.

O principal objetivo é resgatar crianças e adolescentes que, por algum motivo, não tomaram vacinas que fazem parte do Calendário Nacional de Vacinação. O Dia D de divulgação e mobilização estadual será em 16 de outubro, terceiro sábado do mês.

O diretor da Dive/SC, João Augusto Brancher Fuck, ressalta que a adesão à campanha é de extrema importância para que o Estado aumente as coberturas vacinais e reduza, cada vez mais, a incidência de doenças preveníveis com a vacinação.

“Isso nos preocupa porque baixas coberturas vacinais permitem que doenças já controladas ou erradicadas retornem ao nosso convívio”, avalia o diretor.

Por ND+