Falta de médicos nos plantões do Samu em SC tem novos desdobramentos

Samu

Os profissionais de saúde que trabalham no Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) de Santa Catarina receberam, nesta terça-feira (16), um comunicado sobre a obrigação de se manter no plantão médico até a chegada do próximo médico. O episódio ocorre após a falta de profissionais para atuar na Grande Florianópolis.

A reportagem teve acesso ao documento enviado pela OZZ Saúde, responsável pelo gerenciamento e operacionalização do atendimento do Samu, no qual destaca que o “abono de plantão” constitui infração ética, prevista no artigo 9 do Código de Ética Médica.

” Deixar de comparecer a plantão em horário preestabelecido ou abandoná-lo sem a presença de substituto, salvo por justo impedimento”, destaca o texto.

No entanto, de acordo com o advogado Henrique Manoel Alves, que representa cerca de 200 trabalhadores do Samu, a empresa e o Governo de Santa Catarina estava ciente dos problemas nas escalas de plantão médico porque é definido com 30 dias de antecedência.

“Se ninguém vem, eles devem ficar, mas a empresa resolveu dar férias para alguns que estão em atraso e o problema ficou no colo dos profissionais. Os médicos trabalharem acima da escala pode atrapalhar a tomada de decisão e, como resultado, afetar o atendimento da sociedade”, explica o advogado Henrique Alves.

A OZZ Saúde esclarece que o comunicado foi publicado por conta dos problemas na cobertura das escalas presenciadas na primeira metade de novembro “decorrente do aumento exponencial de faltas sob a justificativa de atestados médicos, combinado com a programação de férias”.

“A empresa está sendo negligente porque está dando férias de forma totalmente ausente de logística e acarreta o problema da falta de médicos. Alguns funcionários estão com férias vencidas desde 2017. Agora, com a aproximação do rompimento do contrato, resolveu dar férias dessa maneira”, relata o representante dos funcionários do Samu em Santa Catarina.

Por fim, a OZZ Saúde afirma, por meio do comunicado interno, que cumprirá com o contrato administrativo de forma integral até o último dia de vigência “e espera de seus profissionais médicos o mesmo comprometimento e responsabilidade”.

Conforme o SinSaúde/SC (Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde em Santa Catarina), no momento, não ocorre o risco de greve porque a OZZ Saúde pagou os salários no início de novembro.

“No entanto, a 1ª parcela do 13º salário vence em 30 de novembro e existe o receio de um eventual atraso. Os trabalhadores permanecem em estado de atenção”, relata o sindicato.

A OZZ Saúde foi procurada pela reportagem do ND+ e afirma que o comunicado interno não é um pedido devido a demanda, mas “um reforço de aviso aos colaboradores em relação ao Código de Ética Médica que o médico não pode abandonar o plantão até a chegada de outro plantonista”.

Além disso, ressalta que o cenário vivenciado na Grande Florianópolis, na última semana, não vem se repetindo, mas apenas situações “pontuais” de troca de escalas de plantões por solicitações ou por atestados médicos e “que são super normais”.

Além disso, a SES (Secretaria de Estado da Saúde) também foi procurada pela reportagem, mas também ainda não houve manifestação sobre o assunto.

 

Entenda a situação

As ambulâncias de suporte avançado do Samu estavam sem médicos para atuar na Grande Florianópolis, conforme relatos recebidos na última sexta-feira (12).

Na ocasião, apenas três médicos estavam trabalhando na regulação do serviço, que presta atendimento telefônico e orienta a assistência aos municípios. A região possui quatro ambulâncias alfas que atuam nos 22 municípios, que necessitam de médicos especializados.

São esses veículos que se deslocam até a população em casos de urgências e emergências que requerem apoio médico. Além disso, também foi relatado furos na escala dos médicos que atendem nas unidades e na regulação.

“Pelo fato da empresa ter dado férias para alguns médicos e licença maternidade para outras e não terem coberto esses furos, por estarem com atraso de três anos no pagamento de férias e FGTS e por estarem sucateando o serviço com tanto descaso, é o pior cenário já visto no Samu”, relatou um profissional, que preferiu não se identificar.

Na ocasião, a OZZ Saúde, por meio de nota, afirmou que encontra dificuldades para a cobertura de plantões médicos, com o aumento do número de demissões, atestados e abandono de plantões.

De acordo com a OZZ, isso ocorre desde que a SES (Secretaria de Estado da Saúde) anunciou oficialmente a descontinuidade do contrato com a empresa e o retorno de uma organização social para a gestão do Samu em Santa Catarina

A OZZ informa que notificou a SES sobre a situação, “já prevendo um cenário conturbado, e solicitando uma abertura para contratação de plantões através de modelo PJ para suprir essa demanda”, mas que não obteve retorno.

Também por meio de nota, a SES destacou que estava ciente do problema relatado pelos profissionais do Samu e que estava em contato com a empresa.

A pasta destaca que, conforme o contrato, é de responsabilidade da OZZ Saúde disponibilizar o RH para o serviço. Na falta de profissional para substituir o que está no plantão, este não pode abandoná-lo, pois isso fere o código de ética médica.

A Secretaria ressalta que, como gestora e fiscalizadora do contrato, já está tomando as medidas administrativas e judiciais cabíveis para manter o serviço ativo, “até porque honra mensalmente as obrigações contratuais.”

Por nd+