Família relata violência policial em festa de 15 anos

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Uma adolescente de São José terá como lembrança da festa de 15 anos não a alegria, a dança e a presença de amigos e da família. A noite de sábado (11) ficará marcada pela agressão que sofreu na cabeça e provocou convulsões. A adolescente, K. M. R., e a família contam terem vivido horas de terror ao final do aniversário realizado no Centro Comunitário do Bairro Bela Vista, em São José.

A mãe da menina, Camila, conta que a filha estava apresentando as coreografias ensaiadas para a festa quando o salão foi invadido por policiais militares, que não se identificaram e nem disseram o porquê de estarem ali. “Eu estava servindo os convidados e quando eles entraram eu fui falar com eles, mas me xingaram e me mandaram calar a boca. Não entendi nada”.

De acordo com Camila, no pátio do Centro Comunitário – que tem acesso por outra rua – havia uma outra festa onde a música estava alta. “Eu acho que denunciaram porque o som estava alto. Aqui a música estava baixa porque tinha criança com autismo e não pode ter barulho. Eles arrebentaram a porta e entraram, não vieram pela frente, não falaram nada com a gente”, relata.

Camila conta que foi algemada e sofreu agressões físicas e verbais. “Uma policial disse: ‘aquela ali é a dona da festa, pode prender’. Então eu perguntei o porquê ela mandou eu calar a boca e disse ‘tu vai ter o que merece’ e sempre me xingando de preta suja”.

Segundo Camila, apesar dos apelos para que eles não atirassem, os policiais utilizaram bala de borracha. Várias pessoas ficaram feridas, entre elas uma menina de 12 anos que teve uma das coxas atingida por balas. Outras pessoas foram atingidas por golpes de cassetetes e quase todos que não conseguiram fugir receberam spray de pimenta nos olhos, inclusive crianças, conforme Camila.

Perseguição na rua

O irmão de Camila conseguiu gravar partes da ação policial e por isso foi perseguido pela rua. Geovani estava com a namorada e entrou numa casa próxima ao Centro Comunitário. O proprietário do imóvel havia ouvido estampidos e saiu de casa para ver o que estava acontecendo.

“Era umas 1h10 quando eu ouvi uns estampidos de escopeta 12. Eu saí no pátio de casa e vi duas moças – eram as garçonetes – correndo na rua, eu perguntei o que tinha acontecido e elas só disseram “moço, entrou polícia na festa”, relata Lari Rodrigues, o vizinho do Centro Comunitário.

Em seguida, conta Rodrigues, Giovani e a namorada pediram para entrar no pátio da casa e ele concordou. Logo após chegou um policial e puxou Giovani, que teve a camisa rasgada e foi atingido por cassetete. “O policial só não atingiu a moça porque eu entrei na frente. Ele não gostou e disse para eu me retirar da minha própria casa. Eu nunca vi nada parecido com isso. Acabaram com a festa de uma família”, diz.

Injúria racial

A família da aniversariante diz ter sido vítima de violência policial e de injúria racial. Camila conta que foi humilhada pela cor da pele e pela condição social. “Eles não paravam de xingar a gente de macaco, de preto lixo e de tudo que não presta”, relata a mãe de Keila.

Delegacia

Levados para a 2ª Delegacia de Polícia Civil, em Barreiros, Camila e Giovani contam que não foram atendidos pelo delegado de plantão. “Ele saiu na porta e disse ‘resolvam isso vocês’ e entregou um papel para a gente assinar e ser liberado”. O documento, um TC (Termo Circunstanciado) foi assinado. A família pretende procurar o Ministério Público nesta segunda-feira (13) para denunciar a ação policial.

Contraponto

Procurada, a assessoria da Polícia Militar não retornou as ligações e nem respondeu ao pedido de posicionamento sobre a denúncia até a noite deste domingo (12).

Fonte: ND+