Ocupação nos hotéis cai 33,5% no verão de 2021 em SC

Demissões, adaptações forçadas, fechamentos, hospedagens mais curtas, diárias mais acessíveis para sobreviver, colaboração discreta dos turistas estrangeiros. Este é o cenário atual nos hotéis de Santa Catarina.

No verão de 2021, a taxa de ocupação de leitos da rede hoteleira ficou em 52,6%. Uma redução de 33,5% em relação a 2020, que teve ocupação de 79%.

Os dados estão na “Pesquisa Fecomércio SC de Turismo de Verão no Litoral Catarinense 2021”, realizada em quatro regiões turísticas do estado.

A pesquisa, que ouviu 67 meios de hospedagens em cinco municípios: Florianópolis, Laguna, São Francisco do Sul, Imbituba e Balneário Camboriú, também mostra a tímida vinda de turistas estrangeiros no último verão.

Na temporada de 2020, os brasileiros correspondiam a 82% dos turistas e 18% eram estrangeiros. No último verão, a participação dos brasileiros saltou para 97%. Os estrangeiros caíram para 2% de participação.

Os argentinos, que correspondiam a 14,8% do total de visitantes em 2020, tiveram 0,2% de participação no turismo do último verão.

 

Palace Praia Hotel
Palace Praia Hotel

 

Na Páscoa, os números também não foram animadores. Segundo pesquisa do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Florianópolis, a ocupação geral ficou em 28,3%.

Ao todo 53 empresas foram pesquisadas. Das 5.801 unidades disponíveis, 1.639 ficaram ocupadas.

O relato dos empresários de hotéis

O empresário Adriano Palma Silva possui hotel em Florianópolis. Na primeira quinzena de março de 2020, quando ficou aberto, seu hotel teve faturamento duas vezes maior que todo mês de março de 2021.

“Para o setor hoteleiro, um mês desesperador. Estamos falando de um hotel executivo, que estava esperando a retomada de eventos, clientes corporativos e fomos absurdamente impactados”, avalia Adriano.

Ele lembra que os números de dezembro de 2020, janeiro e fevereiro de 2021 até animaram. A expectativa de recuperação para março, porém, não se confirmou.

“Contratamos de volta alguns colaboradores, mas, infelizmente, depois desse março, tivemos que demitir. Alguns, inclusive, tiveram o desprazer de perder o emprego ano passado, foram recontratados e demitidos novamente”, lamenta.

O empresário Luciano Pereira Oliveira também é do ramo hoteleiro, com negócios na capital. Ele enxergou perspectiva de melhora mais cedo.

“Em outubro do ano passado, começou a ter uma certa demanda de clientes nos feriados e achamos que ia refletir na temporada de verão. Infelizmente, essa expectativa não se concretizou.

Segundo Luciano, que também é conselheiro da Abih-SC (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Santa Catarina), o setor registrou, em média, metade da ocupação do ano anterior, na alta temporada.

“Teve hotel de praia com 15% de ocupação. Um mês de março normal alcança 70 a 80% de ocupação”, ressalta. E não foi só a ocupação que caiu.

Os empresários precisaram reduzir os preços para competir. “Diárias 30 a 50% abaixo do normal para o período trouxeram um resultado financeiro muito ruim, para não dizer catastrófico”, aponta.

O presidente da Abih-SC, Rui Schürmann explicou que a hotelaria tem nichos de mercado, entre os quais, os hotéis executivos. Nas palavras de Rui, esse pessoal está quebrado.

“Ficaram ano passado em situação bastante desfavorável. Quem move esse tipo de hotel é o turismo de negócios: feiras, eventos, visitas a clientes. Mas quem está visitando o cliente hoje?” questiona Rui.

Segundo ele, hotéis desse nicho estão conseguindo no máximo 20 a 30% de ocupação. A baixa ocupação também atinge os hotéis de lazer. Rui possui três na praia de Bombinhas.

“Não tivemos verão nos hotéis de praia de Santa Catarina inteiro. Nos momentos de pico, chegamos a 60, 70% de ocupação, mas com muita dificuldade. A regra do mercado foi 30, 35% na temporada de verão. É muito ruim. Estávamos sempre muito próximos do 100%”, lembra o empresário.

O drama das demissões

O hotel de Luciano também precisou fazer demissões. Ele lembra que em 2020, quando a pandemia chegou em Santa Catarina e os hotéis fecharam [março de 2020], houve demissões. Alguns foram recontratados, porque houve uma expectativa de melhoria, mas ela não se confirmou.

“Os hotéis tiveram que dispensar essas novas contratações e, para esse ano, com certeza vai ser uma situação de dispensa maior. Ano passado, muitos conseguiram segurar mais tempo, com as possibilidades de redução de jornada e afastamento remunerado”, Luciano.

Alternativas

No campo das alternativas, muitas ideias e poucas políticas aplicadas. Questionado sobre os danos no caixa, o empresário Adriano disse que, no momento, os números no setor são negativos e muitos estão vivendo de empréstimos bancários.

“Esperávamos dois, ou três meses parados e estamos passando de um ano. Precisamos do apoio das entidades, do Estado, da cidade, precisamos reagir. Precisamos de um plano de retomada, que necessariamente envolva uma linha de crédito a longo prazo. Não é um problema que vai ser recuperado em poucos meses”, receia Adriano.

Na visão dele, a proposta do governo federal de criar o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) é um caminho interessante, que poderia ser copiado no município.

“A proposta do governo federal auxilia muito, à medida que dá isenção de cinco anos no imposto de renda, Pis, Cofins, contribuição social. É uma medida bem impactante”, avalia.

Outro ponto positivo para o empresário é que o Perse terá um fundo garantidor, abrindo caminho para que as empresas do setor consigam acessar empréstimos novamente, considerando que os bancos enxergam um certo risco no setor atualmente.

“Muito triste. Você tem pessoas treinadas, que estão há cinco, dez anos trabalhando na empresa e não tem como manter”, conta Luciano.

Um cenário desolador, segundo o conselheiro da Abih-SC, onde hotéis que nunca atrasaram pagamentos, impostos e com seus fornecedores não têm recurso para seus compromissos.

“Alguns sendo fechados, outros indo a leilão. Alguns estão se transformando em prédios, sendo vendidos por Airbnb”, conta Luciano.

Para Adriano, o poder público precisa ajudar, principalmente os municípios. “No caso da hotelaria, como o nosso tributo principal é municipal, acredito que uma redução de IPTU por algum tempo, ou mesmo uma isenção, seria necessário”, afirma.

O que diz o poder público municipal e estadual

O secretário de Turismo de Florianópolis, Juliano Pires, explica que a Prefeitura está trabalhando em duas frentes. A primeira seria a reestruturação da cidade. Assim, quando houver a retomada do turismo, Florianópolis estará apta a receber uma demanda forte de turistas.

A segunda é a participação de Gean Loureiro no consórcio de prefeitos. Juliano acredita que a vacinação da população é a alternativa para a retomada do turismo.

“Trabalhando a questão da vacinação, deixando a cidade apta para receber o mais cedo possível e reestruturando todos os pontos turísticos da nossa cidade, entendemos que talvez seja o melhor caminho nesse momento”, ressalta o secretário.

 

 

Segundo ele, a Prefeitura fica amarrada a aspectos legalistas, mas que, no momento, estão estudando uma alternativa de postergar o pagamento do ISS (Imposto Sobre Serviços).

No âmbito estadual, o presidente da Agência de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina, Leandro “Mané” Ferrari, defendeu que o governo está ao lado do trade desde o início da pandemia e que o estado é o que mais disponibilizou valores em linhas de créditos: R$ 300 milhões.

“Fomos um dos primeiros a liberar o retorno das atividades gradualmente, ainda em abril de 2020, com regras sanitárias criadas com empresários e a Secretaria de Saúde. Conseguimos, também, a liberação total da capacidade dos hotéis no final do ano”, destaca Mané Ferrari.

Fonte: nd+