Pandemia de Covid-19 representa desafios para ações de combate à AIDS

Com o início da pandemia provocada pelo novo coronavírus, toda a atenção e esforços foram destinados a fim de conter a doença desconhecida, tornando-se prioridade para órgãos públicos, instituições de saúde e para a população. No entanto, nesta semana em que é celebrado o Dia Mundial de Luta contra a AIDS (01/12), o Programa das Nações Unidas para o combate à AIDS – UNAIDS, iniciou as discussões sobre o tema chamando atenção para as consequências da pandemia nas ações de prevenção, educação e tratamento de pessoas que convivem com a doença.

Durante o mês de dezembro, o UNAIDS terá “Solidariedade global, conscientização compartilhada” como tema da campanha mundial de conscientização sobre HIV e AIDS. Segundo alerta Winnie Byanyima, diretora executiva do UNAIDS, “a Covid-19 está ameaçando todo o progresso que o mundo fez em saúde e desenvolvimento nos últimos 20 anos, incluindo os ganhos que fizemos contra o HIV”.

 

 

Segundo especialistas, a Covid-19 está longe de trazer problemas apenas por sua gravidade, mas todo o contexto do vírus gera a desestruturação no sistema de saúde, fazendo com que o combate e acompanhamento de outras doenças seja colocado de lado, como é o caso do HIV. A diretora executiva do UNAIDS ainda destaca que é necessário abolir as injustiças sociais que colocam a sociedade em risco de contaminação por HIV, e “colocar a resposta à AIDS de volta aos trilhos”.

A doença representa uma luta contínua, afinal, aproximadamente 38 milhões de pessoas vivem com HIV no mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo 25% sem ter sequer conhecimento da condição. Ela já fez cerca de 33 milhões de vítimas fatais desde a década de 80, sendo 690 mil óbitos contabilizados somente em 2019.

Os dados referentes a uma pesquisa motivada pela sociedade civil para analisar o impacto do coronavírus nas políticas de HIV e Tuberculose demonstrou que as equipes técnicas dos programas de AIDS foram reduzidas em cerca de 40%, enquanto o número de consultas periódicas caíram em 35%. Essa mesma pesquisa concluiu que o número de testagens para HIV diminuiu 22% em comparação com o período entre 28 de abril e 10 de maio.

Um dado chocante é a adesão cada vez menor ao preservativo como forma de prevenir o contágio. Uma pesquisa realizada com mais de 2 mil brasileiros com acesso à internet revelou que apenas 48% dos entrevistados garante que usa sempre camisinha nas relações. A pesquisa, coordenada pelo infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Ricardo Vasconcelos, identificou ainda que quase 30% dos entrevistados nunca usam proteção.

Sobre a epidemia no Brasil, 32% acreditam que a questão já está resolvida. No entanto, dados recentes do Ministério da Saúde revelam que, apenas em 2018, quase 44 mil novos casos de HIV foram registrados no país. Além disso, estima-se que 135 mil pessoas convivam com o vírus sem saber.