Longas jornadas de trabalho matam 745 mil pessoas por ano no mundo

Uma análise publicada no periódico Environment International nesta segunda-feira (17) revela que, em 2016, foram registrados 745 mil óbitos por acidente vascular cerebral (AVC ou derrame) e doença isquêmica do coração decorrentes de longas jornadas de trabalho. O número representa um aumento de 29% em relação ao ano 2000.

Realizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o estudo estima que cerca de 488 milhões de pessoas no mundo todo foram expostas a expedientes de pelo menos 55 horas por semana.

Como consequência, 398 mil morreram por derrame e 347 mil por doenças cardíacas, números equivalentes a, respectivamente, um crescimento de 19% e 42% desde 2000.

“Trabalhar 55 horas ou mais por semana é um perigo real à saúde”, afirma, em nota, Maria Neira, da OMS. “É o momento de governos, empregadores e funcionários perceberem que jornadas longas de trabalho podem levar à morte prematura.”

Os dados mostram ainda que os homens são mais atingidos por esse cenário, contabilizando 72% das mortes, e que esses problemas são mais intensos nas regiões do Pacífico Ocidental e do Sudeste Asiático.

A análise da OMS e da OIT concluiu que, na comparação com jornadas de 35 a 40 horas semanais, expedientes de 55 horas ou mais estão associados a um risco 35% maior de derrame e 17% superior de morte por doença isquêmica do coração.

Os especialistas envolvidos no estudo ressaltam que a quantidade de pessoas com longas jornadas tem crescido e que essa tendência pode estar sendo acelerada pela pandemia, que mudou a forma como muitos indivíduos trabalham.

“O teletrabalho tornou-se norma em muitos setores, confundindo as fronteiras entre casa e trabalho”, observa Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Além disso, muitas empresas foram forçadas a reduzir ou encerrar operações para economizar dinheiro, e as pessoas que ainda estão na folha de pagamento acabam trabalhando mais”, diz.

Diante disso, o estudo destaca a necessidade dos governos implementarem políticas para proibir horas extras obrigatórias e garantir limites máximos de tempo de trabalho. “Nenhum emprego vale o risco de sofrer um AVC ou desenvolver doenças cardíacas”, afirma Tedros.

A OMS e a OIT também recomendam que funcionários compartilhem o tempo de trabalho para assegurar que não irão ultrapassar 55 horas semanais e que sejam elaborados acordos coletivos entre trabalhadores e empregadores para flexibilizar o horário dos expedientes e estabelecer um limite máximo de trabalho.