Não há benefícios para a saúde em revezar cigarros tradicionais com cigarros eletrônicos

cigarros tradicionais com cigarros eletrônicos

O risco de doenças cardiovasculares não é menor entre adultos que fumam cigarros eletrônicos em combinação com o cigarro tradicional, quando comparado ao risco de adultos que consomem exclusivamente cigarros tradicionais. A conclusão é de uma pesquisa publicada na revista científica Circulation, da American Heart Association.

Segundo os pesquisadores, o resultado serve de alerta uma vez que muitos fumantes acabam buscando cigarros eletrônicos na tentativa de reduzir o tabagismo e optar por uma via que aparenta mais segura. “É comum as pessoas tentarem mudar dos cigarros tradicionais para os cigarros eletrônicos e ficarem no limbo usando ambos os produtos.”, explica Andrew C. Stokes, autor principal do estudo e professor assistente do departamento de saúde global da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston.

Os pesquisadores observaram ainda que, em comparação com o tabagismo tradicional exclusivo, o uso exclusivo de cigarros eletrônicos foi associado a uma diminuição que varia entre 30% e 40% dos eventos de doenças cardiovasculares. No entanto, essa diminuição só se mostra significativa quando o desfecho cardiovascular inclui condições como doenças cardíacas congênitas ou miocardite, mas não especificamente para casos de ataque cardíaco, insuficiência cardíaca ou acidente vascular cerebral.

Vale destacar ainda que as pessoas que usavam apenas cigarros eletrônicos e pessoas que usavam cigarros tradicionais e cigarros eletrônicos eram mais jovens do que as pessoas que não usavam nenhum dos produtos: 62% das pessoas que usavam apenas cigarros eletrônicos e 54% dos usuários duplos tinham menos de 35 anos, em comparação para 51% dos participantes classificados como não usuários que não fumavam cigarros tradicionais ou usavam e-cigarros.

Por fim, o grupo ressalta que dado o baixo número de resultados auto-relatados por usuários de cigarros eletrônicos, são necessários mais dados nessa área para confirmar esta conclusão.

“Como o uso de cigarros eletrônicos ainda é relativamente novo, ainda não há um forte corpo de evidências de longo prazo para determinar o eventual risco de usar esses produtos ao longo do tempo, por isso esperamos mais dados deste e de outros estudos em andamento. É importante lembrar que mesmo com os cigarros tradicionais, décadas de uso e vigilância foram necessárias para fornecer a força das evidências que temos agora confirmando os danos altamente significativos dos cigarros comuns”, explicou Rose Marie Robertson,vice-chefe de ciências e médica oficial da American Heart Association e co-diretora dos Institutos Nacionais de Saúde/Administração de Alimentos e Medicamentos. “As pessoas devem saber que os cigarros eletrônicos contêm nicotina viciante e produtos químicos tóxicos que podem ter efeitos adversos no sistema cardiovascular e na saúde geral”, completa.

Como a pesquisa foi feita

Para examinar a relação entre doenças cardiovasculares e o uso de cigarros eletrônicos, os pesquisadores revisaram dados do chamado Population Assessment of Tobacco and Health (PATH), estudo que traz informações sobre saúde e uso de produtos de nicotina nos Estados Unidos. Os dados coletados eram de 2013 a 2019. Após ajustes para idade, sexo e raça/etnia, os pesquisadores analisaram casos de mais de 24.000 adultos, dos quais 50% tinham 35 anos ou menos e 51% eram mulheres.

Os participantes classificados como fumantes, consumiram mais de 100 cigarros comuns ao longo da vida e relataram tabagismo durante qualquer rodada do período de coleta de dados. Já os usuários de cigarro eletrônico, foram identificados ao relatarem qualquer tipo de uso do produto durante qualquer rodada da coleta de dados. Assim, os pesquisadores separaram sua amostra em quatro grupos:  1) sem uso atual de cigarros eletrônicos ou tabagismo tradicional (o que pode incluir ex-fumantes ou ex-usuários de cigarros eletrônicos); 2) uso exclusivo de cigarro eletrônico ; 3) uso exclusivo de cigarro tradicional; ou 4) uso duplo de cigarros tradicionais e e-cigarros.

Os pesquisadores também optaram por definir como um evento de doença cardiovascular qualquer diagnóstico autorrelatado de ataque cardíaco ou cirurgia de bypass, insuficiência cardíaca, outras doenças cardíacas ou acidente vascular cerebral nos 12 meses anteriores. Também foram avaliados em separado casos auto relatados apenas de ataque cardíaco, insuficiência cardíaca ou acidente vascular cerebral auto-relatados.

A revisão encontrou mais de 1.480 casos de qualquer doença cardiovascular e mais de 500 casos de ataque cardíaco, insuficiência cardíaca ou acidente vascular cerebral.