‘O hospital não dá mais conta’, desabafa médica de Blumenau sobre leitos para Covid-19

Blumenau

A situação dos hospitais de Santa Catarina segue cada vez mais caótica e, apesar dos números impressionantes a cada dia, muitas vezes só eles não traduzem a realidade vivida em cada unidade de saúde do Estado. Na segunda-feira (15), a médica Marcela de Moraes Barros e Sousa, que coordena a Oncologia Pediátrica do Hospital Santo Antônio (HSA), em Blumenau, divulgou um ofício que ela mesma encaminhou para as secretarias municipal e estadual de Saúde, vereadores e empresários de Blumenau relatando a situação do setor.

“Sofremos nestes últimos 12 meses com falta de médicos e funcionários. Perdemos dois pacientes pela Covid. Mas até o presente momento não tínhamos ficado sem leitos de internações, sem medicações, monitores ou insumos para nossos pacientes oncológicos pediátricos. Porém, neste fim de semana, pelo esgotamento de leitos, se fez necessária a internação de adultos na ala pediátrica e nos quartos destinados à quimioterapia e tratamento das complicações dos pacientes oncológicos pediátricos”, diz a médica em um trecho do ofício.

A oncologista desabafou. Ela deixou claro eu a intenção nunca foi criticar do hospital, que sempre ofereceu todo o suporte possível para as crianças e relutou o quanto pôde para evitar a ocupação dos leitos do setor, mas sim alertar para a situação que acontece dentro dos hospitais.

Segundo ela, o HSA tem 37 crianças em tratamento de quimioterapia no momento, sendo que uma parte dos pacientes recebe um atendimento ambulatorial – vai até o hospital e depois volta para casa. Porém, mais da metade das crianças precisa de internação para as sessões.

O setor tem oito leitos de oncologia pediátrica, o que faz com que a operação ocorra sempre no limite.

“O que tem acontecido: os pacientes de convênio nós já perdemos esses leitos há alguns meses, já é UTI Covid e todos são atendidos na parte do SUS. Várias alas do hospital estão internando, (na oncologia pediátrica) não teve adulto Covid (até o fim de semana), mas gestantes, acidentados, outros pacientes. Nunca tinha acontecido, nos prometeram que não seria usado porque há a gente vem atrasando as ‘quimios’ por um, dois, três dias, e no sábado (13) me ligaram falando que internaram um adulto no nosso quarto de ‘quimio’ que estava vazio naquele momento, porque ia internar os pacientes só na segunda (15)”.

Marcela Barros Sousa explica por que a situação é grave. Segundo ela, o câncer infantil tem uma evolução muito rápida e um atraso de dias pode comprometer o tratamento. Para a médica, a situação do fim de semana escancara o colapso que vivem os hospitais de Blumenau, para além dos números.

“O hospital não dá mais conta. Falaram que o que eu fiz era terrorismo, para causar pânico, mas terrorismo é o que os pacientes vivem diariamente, com o medo de pegar a Covid, o medo da morte, de chegar aqui no hospital e não ter vaga para fazer a quimioterapia, de ter uma febre, precisar de leito e não ter. Eu cansei e explodi, falei com o prefeito, porque a situação não está bonitinha como as pessoas pensam”, desabafa.

 

Hospital se pronuncia

O Hospital Santo Antônio se manifestou sobre a situação por meio de nota oficial na qual não nega a ocupação dos leitos da oncologia pediátrica por pacientes com Covid-19, embora não fale especificamente do caso.

“Há momentos em que necessitamos realocar pacientes adultos para diversas áreas do Hospital em decorrência da superlotação de determinados setores, mas estamos trabalhando em conjunto para não faltar atendimento para nossos pacientes e também à população”, diz a nota.

A unidade de saúde também destaca a superlotação e a exaustão à qual os profissionais estão submetidos e reitera que não medirá esforços para manter o atendimento à população de Blumenau e região, mas não esconde que o momento é de dificuldade.