Por que tantos tornados atingem SC? Entenda as causas e chances de novos estragos

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Recentemente, Santa Catarina teve o assustador registro de três tornados em um período de apenas uma semana. Os fenômenos ocorreram na região Oeste, que tem características que propiciam a formação de eventos deste tipo, mas a frequência incomum chama a atenção.

Os três tornados foram registrados nos municípios de Seara e Irani na terça-feira (21) e Guatambú exatamente uma semana antes. Além de tornados, outras cidades já foram atingidas por tempestades severas, microexplosões e até um ciclone-bomba, em 2020, causando mortes e estragos. Afinal, qual a explicação científica para todos estes extremos?

De acordo com o professor Charles Alexandre de Souza Armada, da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), os tornados vistos recentemente no Estado têm direta relação com as mudanças climáticas em todo o planeta.

“Uma das consequências do aquecimento do planeta é a mudança na dinâmica climática. O aumento de temperatura nos oceanos, na superfície, tem impacto no clima do planeta. E aí a consequência é a intensificação de fenômenos” diz o professor.

Segundo Armada, que é especialista em mudanças climáticas e desastres ambientais, além dos tornados que ocorrem com mais frequência no Oeste de Santa Catarina, as mudanças climáticas podem proporcionar eventos em outras regiões do Estado.

Segundo ele, “não é impossível” que no futuro tenhamos condições propícias para tornados até mesmo nas maiores cidades litorâneas.

“Esse tipo de evento, a tendência dele é que se torne mais frequente e mais intenso. Não apenas aqui, mas também onde normalmente já tem esse tipo de fenômeno, como por exemplo lá no Caribe, que é uma rota de furacões”, sinaliza.

Apesar disso, Armada completa, dizendo que mudanças climáticas estão acelerando essas mudanças. “No entanto, à medida que a situação continuar, que as concentrações dos gases de efeito estufa continuarem a se acumular na atmosfera, e por consequência a gente ter um aumento de temperatura, como estamos identificando – dos 21 anos do século XXI, tivemos recordes de temperatura em 20 deles -, nós vamos ter uma deterioração dessa dinâmica climática global”, diz o professor.

 

Por que o Oeste de SC é mais atingido por fenômenos climáticos extremos?

De acordo com o meteorologista Piter Scheuer, o Oeste é considerado um “ponto fora da reta” no mapa climático de Santa Catarina e é mais propício a ser atingido por eventos extremos. A região está em um “corredor” que possui muita interferência de um fluxo de ar quente e úmido que vem de bem longe, lá da floresta amazônica.

Por conta da posição geográfica, por ser um local mais plano, assim como o noroeste do Rio Grande do Sul, o sudoeste do Paraná e a Argentina, é considerada uma área “altamente energética”.

“Santa Catarina possui as quatro estações definidas, porém o Oeste é uma exceção. É uma região que possui muito contraste de temperatura, é mais ‘continentalizada’ e afastada do oceano. Por isso, o calor, o frio e as tempestades são extremos”, afirma o especialista, explicando as mudanças drásticas de temperaturas que acontecem nesses municípios.

Em resumo, conforme o meteorologista, o Oeste é a região do Estado que está mais sujeita a ter tornados por esses dois elementos: a posição geográfica distante dos oceanos e o contraste de temperaturas mais severo.

Por isso, é mais comum também a ocorrência de tornados, vendavais, microexplosões, linhas de instabilidades, dentre outros fenômenos extremos.

Ele ainda explica que os padrões altos de ar quente originados da floresta amazônica são responsáveis por trazer essas tempestades severas.

Com isso há a formação das chamadas “supercélulas”, que surgem nas formas de nuvens rotatórias e favorecem o surgimento desses eventos.

As nuvens supercélulas são caracterizadas por girarem no próprio eixo, o que é menos comuns, mas ao mesmo tempo as tornam muito severas. Além de tornados, elas também podem formar chuvas de granizo, raios e temporais.

“Esses fenômenos ocorrem em todo o Estado, porém, por ser de uma região plana, o Oeste é mais amplo e mais favorável a ter essa presença”, completa Scheuer.

Pelo fato de a região Oeste ter essa característica de ser a mais energética de Santa Catarina, também é fortemente atingido pelos ventos no quadrante norte a nordeste com maior frequência.

Em razão desses fatores, é uma região que necessita de maior atenção sempre, em especial por parte da Defesa Civil estadual, para anunciar com antecedência os riscos de estragos causados pelo clima, reforça o meteorologista.

 

Por que SC está no corredor de tornados?

O Estado de Santa Catarina está no corredor dos tornados na América do Sul. Especialistas no assunto dizem que os estados da região Sul e Sudeste do Brasil, e de países vizinhos estão mais propensos a ocorrência desse tipo de fenômeno.

No dia 10 de junho do ano passado um tornado deixou destruição nos municípios de Descanso e Belmonte, no Extremo-Oeste do Estado.  Já no dia 14 de agosto, a Defesa Civil de Santa Catarina confirmou a ocorrência de outros dois tornados no Estado. Os fenômenos atingiram as cidades de Água Doce e Irineópolis.

Piter Schauer, que mora em Chapecó, explica que as condições climáticas do Oeste catarinense são propensas para a formação deste tipo de fenômeno, considerado uma das ações mais severas do clima.

“Esses fenômenos são comuns de acontecerem aqui. O Oeste é a segunda região do planeta onde mais se forma tempestades severas de toda a América do Sul, perdendo apenas para os Estados Unidos que tem grande incidência de tornados”, destacou.

 

Corredor de tornados

Para a Rede de Estações Urbanas de Climatologia de São Leopoldo (RS), o corredor dos tornados abrange os estados de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Triângulo Mineiro, centro-norte da Argentina, sul da Bolívia, Uruguai e Paraguai.

O Brasil se localiza no 2º lugar mais propício para ocorrência de tornados no mundo, atrás apenas do Corredor de Tornados norte-americano. Estima-se que nessa área são gerados mais de 300 tornados por ano e há mais de 1.000 registrados na história da Argentina.

A escala Fujita ampliada é usada para medir a força de um tornado e varia de EFO a EF5. E segundo especialistas o período do ano mais propenso para ocorrência destes eventos naturais são as estações chamadas de transição, sendo a primavera e o outono.

Tornado destruiu cidades de SC em 2020

Na metade de agosto do ano de 2020, tornados devastaram cidades como Irineópolis e Água Doce, em Santa Catarina.

O fenômeno destruiu casas, comércios, galpões e estufas, além de gerar a derrubada de árvores e deixar diversas famílias desalojadas nos municípios.

Segundo dados da prefeitura de Irineópolis à época, o fenômeno causou mais de R$ 2 milhões em prejuízo. Em Água Doce, famílias receberam ajuda humanitária e realizaram trabalhos de reconstrução por dias.

Por ND+