Sete décadas de televisão brasileira: trajetória e importância da tecnologia que atua ainda hoje como um laço social

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Em 1950, surgia a televisão no Brasil, pioneiro sul americano a implantar a tecnologia. Foi a realização de um sonho para o empresário Assis Chateaubriand, fundador da TV Tupi, que trouxe os equipamentos e recursos dos EUA. A primeira emissora de TV no país marcou o início de uma nova era com a frase “Boa noite. Está no ar a televisão no Brasil!”, em 18 de setembro, às 17 horas.

A história conta que este dia foi marcado por aglomerações na cidade de São Paulo para assistir o primeiro programa ao vivo: “TV na Taba”. O programa reuniu artistas do cinema e do rádio, que anos depois se tornariam ícones da TV brasileira, como Lima Duarte e Hebe Camargo. Para que a população pudesse acompanhar esse marco histórico, Chateaubriand adquiriu e distribuiu cerca de 200 televisores em pontos estratégicos da cidade.

Inicialmente, todos os programas eram transmitidos ao vivo, pois não havia videotape (tecnologia que viria a permitir a gravação dos programas), ou transmissão direta entre cidades. Por isso, muitos dos primeiros programas foram marcados com altas doses de improviso, gafes e inexperiência.

“Os profissionais que foram pioneiros na televisão foram com a cara e a coragem, aprenderam na prática a fazer essa transformação do conteúdo de rádio para o conteúdo televisivo”, destaca o professor de telejornalismo na Universidade do Vale do Itajaí, Carlos Golembiewski.

Nos primeiros anos da tecnologia televisiva no Brasil, poucos receptores foram vendidos, restringindo a programação apenas às famílias de altíssima renda. “No início, os aparelhos eram enormes, pesados. Se tornava caro pois a tecnologia era importada”, destaca Carlos, que ainda relembra: “Essa geração foi marcada por reunir os amigos na casa do amigo ou vizinho mais afortunado, para assistirem televisão”.

Os aparelhos televisivos só viriam a se tornar mais acessíveis e populares a partir da década de 60. Também foi a partir da década de 60 que a televisão sofreu um momento de consolidação e expansão no território nacional, principalmente com a fundação da Embratel (Empresa Brasileira de Telecomunicações), responsável pelas comunicações via satélite no Brasil, com tecnologia que permitiu a ampliação do alcance do sinal de televisão. “Foi o que possibilitou a integração do país. Vale lembrar que o Jornal Nacional surgiu em 1969, o primeiro jornal de alcance nacional”.

Uma das estratégias adotadas para a consolidação da TV foi a veiculação de um mesmo programa em vários dias da semana, como as novelas, por exemplo. Segundo o professor de Telejornalismo no curso de Jornalismo da Universidade do Vale do Itajaí, Almeri Cezino, isso contribuiu para a popularização, porque acabou tornando-se um hábito na rotina da população, prendendo a atenção dos telespectadores. “O Brasil é um país de novela, temos uma produção muito forte, tanto é que atualmente exportamos esse conteúdo para diversos países, como México, Argentina, Índia… nossas produções são dubladas para diversos idiomas”, destaca Almeri.

Almeri e Carlos ainda destacam que um fato marcante foi a Copa do Mundo FIFA de 1970, no México, que foi amplamente transmitida na TV aberta brasileira. “Essa Copa é um exemplo claro de uma ideia abordada por um professor de sociologia chamado Michel Maffesoli, de que a mídia faz uma ligação, um laço social. Ela atua como laço social até hoje, seja através do Jornal Nacional, da novela das oito, programa do Sílvio Santos… a televisão interliga milhares de lares brasileiros, de norte a sul do país, por meio de um programa, fazendo essa conexão entre as pessoas”.

Com as novas tecnologias, a televisão perdeu o destaque, e passou a disputar a audiência com as telas de dispositivos, como smartphones e tablets, principalmente após a popularização do serviço de streaming de vídeo, como a Netflix. Mesmo assim, segundo o professor Almeri, isso não representa risco para a existência da TV, assim com o surgimento da TV não foi o fim para o rádio, ou a internet não foi o fim para os livros ou jornais impressos. “Essas ferramentas são um complemento para a televisão. Um exemplo é o GloboPlay, um aplicativo de streaming que exibe as novelas que são transmitidas na TV aberta”.